Page 333 - Revista da Armada
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         forçados a concordar que o “terrorismo” é co-  U.S. Customs Service , a Container Security  dos aqueles que utilizem navios não militares
         metido por propósitos políticos. Esta Conven-  Iniciative (CSI), visando evitar que o transporte  como arma ou como meio para levar a cabo
         ção veio colmatar algumas lacunas da lei, até  de contentores por via marítima sirva os propó-  um ataque “terrorista”, ou para transportar
         então existentes, passando a motivação para os  sitos das redes “terroristas”. Estima-se que por  “terroristas” ou carga destinada a suportar
         actos ilícitos a poder ser considerada de natu-  ano se movam entre os vários portos marítimos  programas de armas de destruição em mas-
         reza económica ou política.        espalhados pelo mundo, cerca de 108 milhões  sa. Estes Protocolos, até ao presente momen-
           No sentido de estender o âmbito da SUA às  de contentores de carga . Em 2 de Outubro  to, ainda não entraram em vigor.
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         plataformas fixas, foi elaborado o “Protoco-  de 2007 estavam a operar 58 portos , dentro   Em relação à União Europeia, no que respei-
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         lo adicional para a supressão de actos ilícitos  do regime de segurança CSI.  ta a este tipo de matérias, foi adoptado o Regu-
         contra a segurança das plataformas fixas loca-  Em 2003 surge a Proliferation Security Ini-  lamento (CE) n.º 725/2004 do Parlamento Euro-
         lizadas na plataforma continental”. Este instru-  ciative  (PSI), como resultado da necessidade  peu e do Conselho, de 31 de Março, relativo ao
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         mento, tal como a SUA, também                                                  reforço da protecção dos navios e
         entrou em vigor em 1 de Março                                                  das instalações portuárias.
         de 1992.
           Apesar da não existência de                                                  CASOS HISTÓRICOS
         consenso internacional para uma                                                DE «TERRORISMO
         definição exacta para «Terrorismo                                               MARÍTIMO»
         marítimo», ao longo da última dé-
         cada, alguns legistas têm aprovei-                                               O «Terrorismo marítimo» não
         tado os Artigos 3.º e 4.º da SUA,                                              é de forma alguma um assunto
         para sustentarem uma possível                                                  novo, pois quem não se lembra
         definição operacional de «Terro-                                                de já ter ouvido falar no seques-
         rismo marítimo» e que a definem                                                 tro ao paquete português “Santa
         como sendo:                                                                    Maria” , considerado internacio-
                                                                                             17
           - Qualquer tentativa ou amea-                                                nalmente como o primeiro acto
         ça para adquirir o controlo de um   Navio de guerra americano USS “Cole”, após o ataque.  ilícito deste género, levado a cabo
         navio pela força; ou                                                           por um grupo de cerca de 2 dú-
           - Danificar ou destruir um navio ou a sua  identificada pelos EUA, para prevenir que se  zias de homens, portugueses e espanhóis, sob
         carga; ou                          utilize o transporte marítimo para proliferar ar-  o comando do Capitão Henrique Galvão. Ape-
           - Ferir ou matar uma pessoa a bordo de um  mas de destruição em massa, ou de materiais  sar das diferentes ideologias no seio do grupo,
         navio, na sequência das acções anteriores; e  e componentes que possam ser usados na sua  todos tinham um objectivo comum, comba-
           - Por em perigo de qualquer forma a segu-  construção. Esta iniciativa tem como objecti-  terem e denunciarem ao mundo as ditaduras
         rança da navegação de um navio, que se mova  vo principal, entre outros, a actuação coorde-  existentes em Portugal e Espanha.
         das águas territoriais de um Estado para as de  nada dos países, no controlo da carga dos na-  Em 8 de Outubro de 1985 deu-se outro se-
         outro Estado, ou em águas internacionais.  vios, para evitar tal tipo de proliferação. A PSI  questro, que mereceu cobertura internacional,
                                            foi composta inicialmente por 11 países (Core  desta vez ao navio de bandeira italiana “Achil-
         - APÓS OS ATENTADOS “TERRORISTAS” DE  Group), entre os quais Portugal. Actual mente,  le Lauro”, quando fazia um cruzeiro entre Ale-
         11 DE SETEMBRO DE 2001             o Core Group é constituído por 20 países, exis-  xandria e Port Said. O navio foi abordado por
                                            tindo além destes, mais 72 países que apoiam  quatro “terroristas” da Frente de Libertação da
           Na sequência dos atentados “terroristas”  os princípios da PSI.     Palestina que se apoderaram deste e exigiram a
         nos EUA, este país pressionou a IMO para que   Os atentados nos EUA, assim como as di-  libertação de prisioneiros que se encontravam
         criasse normas internacionais mais eficazes  ferentes interpretações dos países quanto à  detidos em Israel, tendo mesmo sido morto um
         para este tipo de ameaças.         liberdade de navegação em alto mar, deram  passageiro, pelos “terroristas”.
           No final de 2001, foi adoptada a Resolução  ênfase à necessidade urgente de se proceder   Desde então, até ao início deste século, não
         A.924(22) , que visava a revisão                                               existiram mais actos de «Terroris-
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         das medidas e procedimentos                                                    mo marítimo» de relevo. A ques-
         para prevenir actos de “terroris-                                              tão veio de novo a lume, a 12 de
         mo” que ameaçassem a seguran-                                                  Outubro de 2000, com o ataque
         ça dos passageiros e tripulações e                                             ao navio de guerra americano
         a segurança dos navios.                                                        USS “Cole”, quando este se en-
           Posteriormente, a IMO pro-                                                   contrava a reabastecer em Aden,
         cedeu então à reavaliação dos                                                  no Iémen, e uma embarcação se
         regulamentos internacionais em                                                 fez explodir junto dele. Morreram
         termos de segurança, tendo pro-                                                17 elementos da sua guarnição,
         cedido à alteração da Convenção                                                tendo ficado feridos 39. Morre-
         SOLAS  de 1974, introduzindo-                                                  ram também os 2 “terroristas” que
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         -lhe entre outras alterações, o                                                seguiam na embarcação.
         Código International Ship and                                                    A 6 de Outubro de 2002 deu-
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         Port Facility Security  (ISPS). Este                                           -se mais um ataque “terrorista” a
         Código é formado por 2 partes e   Petroleiro francês “Limburg”, após o ataque.  um navio, desta vez ao petroleiro
         contém um conjunto de medidas                                                  francês “Limburg”, quando este
         para melhorar a segurança dos navios e das  a alterações à Convenção SUA. A Conferên-  se encontrava a aguardar por um piloto em Al
         instalações portuárias (terminais). Na parte A  cia diplomática realizada em Londres (10 a  Mukalla, também no Iémen. Neste caso, foi
         encontram-se o preâmbulo e as prescrições  14OUT05), na IMO, aprovou os dois novos  também uma pequena embarcação carrega-
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         obrigatórias, a serem implementadas pelos Go-  Protocolos , ou seja, a revisão aos Tratados  da de alto explosivo que colidiu com o navio,
         vernos, autoridades portuárias e companhias  SUA de 1988 (Convenção e Protocolo), após  causando-lhe danos materiais, 1 morto na sua
         de navegação e na parte B, as linhas orienta-  3 anos de intensas negociações. Estes novos  tripulação e provocando ainda um grande der-
         doras para a sua implementação.    Protocolos são os primeiros instrumentos in-  rame de crude. Morreram também os 2 “ter-
           Em 17 de Janeiro de 2002 é lançada pela  ternacionais para combater e processar to-  roristas” que se encontravam na embarcação.
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