Page 101 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA                                                                             8



                                         Ditos Populares
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               lguns dos ditos, de que a nossa sabedoria popular é bem rica,  também com o tráfico de escravos, cuja abolição, como é sabido, teve
               estão muitas vezes relacionados com o mar, quem não terá já  na Inglaterra um dos seus campeões.
         Aouvido, ou mesmo utilizado, por exemplo, os seguintes:  No século XIX o tráfico de escravos, levado a cabo por portugue-
           Há mais marés que marinheiros,                     ses e brasileiros, assumia proporções significativas movimentando
           ou ainda Quem vai para o mar, em terra se avia,    avultadas quantias, percebendo-se assim todas as tentativas efectua-
           ou Gaivotas em terra, tempestade no mar.           das para a manutenção de tal actividade.
           Outros ditos há que, não estando relacionados com o mar, estão   Em 1815, na sequência de outros acordos, foi celebrada uma con-
         de uma forma ou outra ligados à Marinha, ligação essa que não sur-  venção estabelecendo a proibição de tráfico de escravos, em qual-
         ge de forma tão óbvia como os atrás citados.         quer ponto da Costa de África a Norte do Equador, ficando pois
           A zona onde se encontra a Base Naval de Lisboa integrava a pro-  o principal “ponto de abastecimento”, S. João Baptista de Ajudá,
         priedade real do Alfeite, propriedade essa constituída pelas quin-  abrangido pela proibição.
         tas do Alfeite, da Romeira, do Antelmo, da Bomba, do Outeiro, da   Esta convenção constituiu, desde logo, um rude golpe nos “in-
         Piedade e da Quintinha.                              teresses” dos negreiros os quais foram agravados ainda, em 1817,
           O local deveria ser, então, bastante aprazível dada a frequência  quando foi estabelecido, com carácter de reciprocidade, o direito de
         com que os Reis por lá permaneciam.                  visita e busca aos navios portugueses e ingleses, pelos navios das
           Até o general Junot que, embora não fosse Rei de Portugal, por  Marinhas de Guerra dos respectivos países.
         vezes, se comportava como tal, utilizou a propriedade do Alfei-  A perda de navios e “carga” sofrida pelos portugueses e brasilei-
         te para seu deleite, no dia 12 de Abril de 1808, com uma sessão de  ros, em consequência da fiscalização efectuada pelos navios ingleses,
         música e, segundo o cronista do acontecimento, acompanhado de  levaram-nos a conceber um subterfúgio para obviar a tais perdas, as-
         algumas madames.                                     sim, ao largarem dos respectivos portos de armamento, usualmente
           A manutenção da propriedade, à custa do Estado, acarretava en-  a Baía, declaravam como portos de destino os que se situavam fora
         cargos avultados o que, com frequência, originava grande contro-  da zona proibida ao tráfico, declaração essa que ficava registada nos
         vérsia política.                                     passaportes, dos navios, emitidos pelas autoridades locais.
           O facto de se poder usufruir de algo agradável ou proveitoso sem   Toda a gente sabia que os passaportes eram falsos mas, mesmo
         que se tenha o ónus do respectivo encargo, associado ao número das  assim, serviam os seus objectivos já que eram unicamente
         quintas do Alfeite, está na origem da expressão:       “Para inglês ver”.
           “Estar nas suas sete quintas”                                                                       Z
           O outro provérbio, além de estar relacionado com o mar, está-o                            Com. E. Gomes


                                                    NOTÍCIA


             MARINHA ASSINA PROTOCOLO COM O INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS
                                   DA INFORMAÇÃO E DA ADMINISTRAÇÃO

         ¬ No dia 17 de Dezembro,  a Marinha e o                               pós-graduação na área da logística e da gestão ma-
         Instituto Superior de Ciências da Informação                          rítima e portuária”. Em breve, anunciou, conta
         e da Administração (ISCIA) assinaram um                               “oferecer um alargado conjunto de cursos de cur-
         protocolo de cooperação, a bordo da corveta                           ta duração, na forma de “blended learning” e na
         “General Pereira d’Eça”, acostada no cais do                          forma puramente distal, para responder a neces-
         Porto de Aveiro.                                                      sidades formativas específicas, não só no territó-
           Este protocolo tem como objectivo promo-                            rio português como na alargada zona da CPLP e,
         ver o desenvolvimento estratégico do centro                           também, para apoio a necessidades formativas de
         do País, através de uma cooperação na área da                         forças portuguesas projectadas em acções de segu-
         formação superior e pós-graduada com enfo-                            rança e de paz”.
         que nas tecnologias do mar, na segurança, na                            No primeiro trimestre de 2009, é esperado
         política marítima e na gestão portuária.                              o início de um mestrado em gestão portuá-
           Assinaram o Protocolo o CALM Luís Manuel Macieira Fragoso,  ria e, no próximo ano lectivo, uma licenciatura na área das tecnolo-
         Comandante da Escola Naval, e o Prof. Doutor Armando Teixeira  gias do mar.
         Carneiro, Director do ISCIA. Assistiram ao acto solene elementos do   Este Protocolo entre a Marinha e o ISCIA é um claro e positivo
         Conselho de Administração dos Portos de Aveiro e da Figueira da  exemplo do estabelecimento de redes de conhecimento e a prova da
         Foz, o Presidente da Câmara de Ílhavo, representantes das Comuni-  relevância da participação da Marinha em projectos estratégicos de
         dades Portuárias e Autoridades Locais.               desenvolvimento do País, num entendimento alargado e moderno
           No acto de assinatura, o CALM Macieira Fragoso salientou que “a  do conceito de “Defesa Nacional”.
         Marinha quer servir o país e, assim, compete-lhe apoiar e desenvolver todo   Este reforço da formação superior de cariz politécnico na Região
         o conhecimento relacionado com a actividade do mar” e que “é importante,  de Aveiro vem apoiar a estratégia de desenvolvimento do eixo logís-
         para um país que se quer virado para o mar, habilitar pessoas com conheci-  tico dirigido à Europa a partir de Aveiro e da Figueira da Foz, pela
         mentos sólidos nessa área”.                          via Viseu-Guarda-Salamanca-Valladolid, em franca e saudável con-
           Armando Teixeira Carneiro, por sua vez, aproveitou para clarifi-  corrência com os outros eixos estratégicos de que se desenvolvem a
         car que “através deste protocolo será desenvolvido o DETMAR - Departa-  norte, com base nos Portos de Leixões e de Vigo, e a sul, com base nos
         mento de Tecnologias do Mar do ISCIA que tem vindo a realizar cursos de  Portos de Lisboa, Setúbal e Sines.
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