Page 173 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA 10
A Real Companhia da Agricultura
A Real Companhia da Agricultura
dos Vinhos do Alto Douro
dos Vinhos do Alto Douro
A
criação do primeiro estabelecimento de ensino superior da cidade
do Porto, a Aula de Navegação, deve-se à acção da Companhia dos
Vinhos do Alto Douro, instituída no ano de 1756.
O desenvolvimento da Companhia assentava fundamentalmente na
exportação para o que era necessário garantir a segurança da navegação.
Assim, em 18 de Outubro de 1761, um grupo de 35 comerciantes e arma-
dores, todos ou quase todos accionistas da Companhia, requereram à Co-
roa autorização para a construção de duas fragatas de guerra destinadas a
proteger as esquadras que do Porto seguiam para a Baía e o Rio de Janeiro
e que, frequentemente, eram atacadas, por navios mouriscos e por piratas.
Os requerentes que assumiam todos os encargos, e sugeriam que a direcção
fosse cometida à Junta de Administração da Companhia. O alvará de 24 de
Novembro desse ano veio dar satisfação ao requerido. Nada, no requeri-
mento e no alvará, se referia ao ensino que, no entanto, veio a ser contem-
plado no Decreto de 30 de Julho de 1762, quando ainda não se encontrava
construída uma fragata, e no qual se estabelecia a criação de “12 Tenentes
de Mar e 18 Guardas Marinha para servirem nas fragatas com Aula e resi-
dência na cidade do Porto”.
Em 1764 foi nomeado professor da Aula, o capitão tenente António Rodri-
gues dos Santos, que já havia sido professor na Aula de Navegação de Goa e
em Lisboa, para além de professor seria ainda o comandante das fragatas.
O local escolhido para a Aula foi a Sala do Colégio dos meninos órfãos
(Colégio da Graça).
O curso deveria, após as obras, ter início a 3 de Novembro de 1764.
Nesse ano de 1764 a Companhia gastou com a Aula, 265449 reis assim
discriminados:
- Reedificação da Aula .................................................. 89449 reis
- Soldo do Lente ............................................................. 137600
- Ajudas custo Lente de Lisboa para o Porto ......... 38400
O ensino englobava uma parte prática de embarque que, por ser contes-
tada por alguns proprietários de navios, se tornou obrigatória pelo Aviso
Régio de 25 de Novembro de 1781, o qual estabelecia que todos os navios
de 150 toneladas e acima só poderiam matricular se levassem um Aulista,
esta obrigatoriedade manteve-se até 1828, ano em que a requerimento do
armador António Sequeira Ramalho, alegando a perda de exclusividade
do comércio, considerava tal prática inaceitável, razão pela qual foi extinta
por Alvará Régio.
Os primeiros Aulistas a embarcar, sempre sob indigitação da Companhia,
fizeram-no em 1768. Desde essa data, até ao final do século, registei um total
de 785 embarques de aulistas, sendo que cada aulista efectuou, por norma,
2 embarques. Aos Aulistas era exigido, no final da viagem, a apresentação
de uma Memória.
Parece não haveria limitação na idade de frequência da Aula pois se en-
contraram Aulistas desde os 14 aos 36 anos.
O ensino e o empenho dos alunos deveria ter valor já que o Aviso de 25
de Fevereiro de 1775 recomenda a conservação e progresso da Aula recor-
dando a extinção da Academia dos Guardas Marinha, a 9 de Julho do ano
anterior, por falta de empenho dos alunos. Em 1780, talvez por influência
de José Monteiro Salasar, capitão e piloto professor da Aula, a Companhia
conseguiu que fosse criada a Aula de Desenho e Debuxo que seria minis-
trada “na mesma aula em que se dão lições de náutica”.
Foi também por intervenção da Companhia que, em 1803, se criaram as
aulas de Matemática, Comércio e Línguas francesa e inglesa sendo, nesse
mesmo ano, criada a Academia Real da Marinha e Comércio do Porto que,
no 1º ano, teve a frequência de 510 alunos e que ainda tinha Aulas de Filosofia
Racional e Moral e de Agricultura deixando só então a administração de com-
petir à Junta da Companhia da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro.
Z
Com. E. Gomes
Fonte: Câmara Municipal do Porto Livro Próprio nº 15 fol. 141
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