Page 168 - Revista da Armada
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pessoal civil e militar, na maioria da Marinha, e geito nas horas de descanso. Havia já um court Carmo onde está o túmulo do Santo Condestá-
que ali existiu, por largos anos. de ténis desse lado. vel, patrono do curso, celebrada pelo Arcebispo
No local onde havia a “Escola da D. Armin- A parada era em terra batida, e nela se jogava de Mitilene, que proferiu uma eloquente oração,
da” e mais um campo de ténis, foram mais tarde futebol nas aulas de ginástica e nas horas vagas, dirigida aos futuros oficiais da Armada e a ela as-
construídas as piscinas da Escola Naval. Nessa quando havia jogadores. sistiram as famílias dos cadetes, oficiais da Esco-
área havia já também umas quatro ou cinco re- Na área nascente havia e julgo que ainda há, as la Naval e do Ministério da Marinha. Presidiu à
sidências para oficiais, uma das quais foi sempre oficinas de apoio à manutenção da Escola e que Cerimónia o Ministro da Marinha que num lon-
habitada pelo Comandante Eugénio Conceição serviam, também, para instrução dos alunos, so- go e patriótico discurso, fez notar o clima de in-
e Silva, ilustre professor da Escola Naval, durante bretudo dos da classe de engenheiros maquinistas tranquilidade que se vivia na Marinha, sobretudo
muitos anos, e nela construiu, por sua iniciativa navais, chefiadas por um oficial instrutor da clas- devido à “Revolta dos Barcos” de 8 de Setembro
e trabalho pessoal, um observatório de 1936, de apoio aos republicanos
astronómico, matéria em que era al- espanhóis, em que tomaram parte 3
tamente qualificado e considerado navios, dos novos já em serviço, os
mesmo fora do país. avisos “Afonso de Albuquerque” e
RA: A Escola cheirava a nova por “Bartolomeu Dias” e contratorpedei-
todos os lados? ro “Dão” uma vez que estava em exe-
CALM Pereira de Oliveira: O novo cução o Programa de Renovação da
Regulamento da Escola Naval de Armada, do anterior Ministro, Almi-
1937, só entrou efectivamente, em rante Magalhães Corrêa. A Espanha
plena execução, com o meu cur- vivia já em plena guerra civil.
so, que teve como patrono D. Nuno Cumpriu-se o espírito que presidiu
Álvares Pereira “O Condestável”. O a criação da Reforma e, como deter-
primeiro curso de cadetes que inau- O navio-escola “Sagres”. minava a lei, o Curso do “Infante D.
gurou a Nova Escola Naval foi do Henrique” iniciou o novo regime,
“Infante D. Henrique” em 1936 e dele passaram se. Nelas teve, também, o meu curso, várias ho- com a estabelecida viagem de adaptação, cujo
a fazer parte os onze que entraram já ao abrigo ras de aprendizagem do funcionamento de má- principal objectivo era ajuizar das condições de
da nova Reforma, mas sem o Regulamento ain- quinas, aparelhagem e ferramentas, matérias que adaptação da vida a bordo, do contacto com o
da aprovado. faziam parte dos programas de ensino do curso. mar e avaliar das capacidades físicas e sobretu-
Pergunta-me se a Escola cheirava a nova por to- RA: Face à nova Reforma, o Curso começava do das qualidades de carácter. Analisando, o que
dos os lados. Para ser franco, só me apercebi des- com uma viagem de adaptação de duração re- ressalta do discurso do Ministro da Marinha, na
sa realidade no regresso da viagem de adaptação, lativamente grande? missa na igreja do Carmo, no dia da nossa saída,
em fins de Fevereiro de 1938, quando a “Sagres” CALM Pereira de Oliveira: A reforma do ensi- para viagem de adaptação, são bem evidentes os
amarrou à bóia no “quadro dos navios de guerra” no da Escola Naval, em 1936, foi uma das prin- propósitos que estiveram na nova Reforma, na
no Tejo e lá estavam os dois rebocadores qual contava que fossem encontrados os
da Marinha – o”Arsenal” e o “Cordoaria” meios e sobretudo a dedicação e o entu-
– que levaram as nossas malas. siasmo de quantos constituem a Marinha
No edifício escolar que ainda hoje se para a sua missão em prol da Pátria.
mantém, as salas de aula ocupavam os É sabido que, para a feitura da Refor-
primeiro e segundo pisos dos dois lados. ma, o Ministro Ortins de Bettencourt se
No primeiro estavam a Secretaria Escolar, rodeou de um conjunto de oficiais que
os gabinetes do 2º Comandante, do oficial com ele serviam mais directamente e de
e o do cadete de dia. Os professores dis- outros que igualmente tiveram acção na
punham, também, de guarda-fatos numa sua execução e sobretudo, na sua aplica-
dependência para o efeito. Separados pela ção na prática. Não deve, assim ser es-
enorme parada, havia todos os edifícios, tranha à saída do Comando da “”Sagres”
com dois pisos de concepção e traça total- do capitão-de-mar-e-guerra Cisneiros de
mente diferente, em que se desenvolviam Os cadetes do curso do “Condestável” a bordo da “Sagres”. Faria, que há anos comandava o navio e
as restantes actividades da Escola. No lado para o cargo foi nomeado o Capitão-de-
Sul e ocupando a maior parte da área ficavam os fragata Gabriel Maurício Teixeira e foram substi-
alojamentos dos alunos – camaratas, quartos com tuídos quasi todos os oficiais dessa viagem.
4 camas e 4 armários 2 por cada ala de camara- Assim, posso dizer, com todas as certezas que
tas existentes no 2º piso, com as instalações sa- me deu a minha viagem de adaptação, que o
nitárias e casas de banho no fundo do corredor. espírito que presidiu à nova Reforma do ensino
Os oficiais que prestavam serviço na Escola, es- na Escola Naval e sobretudo a aplicação do seu
pecialmente os instrutores, tinham nessa área os regulamento de 1937, baseado, no da Marinha
seus quartos individuais. No piso do r/chão havia Alemã, teve o meu curso como “cobaia”. A via-
o serviço de saúde, com enfermaria e as salas de gem foi longa e atribulada e serviu para pôr em
estudo, próprias para cada curso. prática os princípios, a doutrina dimanada do
No lado nascente da parada estavam o refei- texto da lei, acima de todos o espírito militar, o
tório, cozinhas, etc. com sala de refeições para o cumprimento dos regulamentos, a dedicação e
1º Comandante, para oficiais e para alunos, todas Os cadetes Carlos P. Oliveira e Lourenço Pereira. o interesse pela profissão escolhida. Sob o pon-
no piso superior. Em baixo havia salas de jogos to de vista da aplicação das normas do Regula-
e de estar para uso dos alunos. Os alojamentos cipais decisões que o novo Ministro da Marinha, mento, basta referir, que no fim de tal viagem,
dos sargentos, das praças e civis ficavam do lado Comandante Ortins de Bettencourt tomou, pra- por razões que só os relatórios oficiais poderão
nascente, onde havia um portão de acesso à pa- ticamente após a sua entrada para o Governo de esclarecer, foram excluídos quatro cadetes por
rada, e por onde entravam os carros. Salazar, em Janeiro desse ano. falta de aprovação.
O lado poente da parada era ocupado pelo gi- No dia 2 de Outubro de 1937, dia da nossa A viagem na velha “Sagres” durou cinco me-
násio, tendo no piso superior a biblioteca e com largada na “Sagres”, para a viagem de adapta- ses, com largada em 2 de Outubro de 1937 e
belos pinheiros da mata cuja sombra dava muito ção, teve lugar uma missa, na igreja do Largo do chegada em fim de Fevereiro de 1938, com es-
22 MAIO 2009 U REVISTA DA ARMADA