Page 21 - Revista da Armada
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altitude dos satélites GPS. Usando outra Já no que concerne à existência de ba- mas de navegação redundantes. Ou seja, se
considerarmos o receptor GPS como o sis-
comparação, os sinais GPS são biliões de ck-ups, essa é não só uma prática comum tema primário de qualquer navegante, en-
tão é imprescindível possuir back-ups que
vezes mais fracos do que os sinais de TV como tem sido um requisito de todo e possam ser usados em caso de falha.
das antenas de televisão analógica terres- qualquer navegante prudente. É interes- Só que o Loran-C – que é o único sistema
de navegação de base terrestre ainda existen-
tre. Ora, todos nós recordamos quão fre- sante verificar que o recurso a fontes e for- te no mundo – não cobre as nossas águas e
os sistemas de navegação inercial – que são
quente era – antes da televisão por cabo – mas redundantes de obter a posição já era totalmente autónomos, não dependendo
de quaisquer emissões exteriores ao navio –
o sinal de TV perder-se, ou chegar muito praticado pelos navegadores portugueses
apenas são empregues por na-
atenuado, devido a interferências. Saben- no século XV e seguintes. vios de maior porte. Dessa for-
ma, em caso de falha do GPS e
do que o sinal do GPS é muito mais fraco, Nessa época, a posição era muitas vezes dos seus semelhantes existirá
uma imensa maioria de nave-
podemos extrapolar os riscos de interfe- determinada, de forma independente, por gantes marítimos que ficarão
virtualmente “às escuras”.
rência a que está sujeito. duas ou mais pessoas habilitadas, sendo
Se estivermos a navegar a
Relativamente ao empastela- poucas milhas de costa, ainda
podemos contar com a geona-
mento deliberado, que consiste vegação visual e o radar. Con-
tudo, longe da costa, é mesmo
no abafamento intencional dos back to basics, que é como quem
diz, voltar a pegar no sextante
sinais GPS através de transmis- e fazer como Vasco da Gama,
Gago Coutinho e tantos outros
sões de ruído nas frequências que se constituem como refe-
rências para todos nós. Não
consignadas, a situação é bas- será por acaso que o navega-
dor, a bordo dos navios da Royal Navy, ain-
tante mais crítica. da hoje é conhecido como Vasco!
Quero terminar, concluindo que a his-
Um relatório encomendado tória da navegação tem constituído uma
evolução fascinante ao longo dos tempos,
pelo Governo Americano apre- desde um ponto de partida em que se veri-
ficava um absoluto desconhecimento da po-
senta alguns dados preocupan- sição geográfica, até ao ponto de chegada,
ou de passagem, nos nossos dias, em que é
tes. Segundo esse relatório, um possível – graças ao GPS – sa-
ber a posição com uma exacti-
empastelador aero-transporta- dão – diria – quase milimétrica.
Todavia, a dependência relati-
do de apenas 1 W, do tamanho vamente a um único sistema de
navegação, que ainda por cima
de uma vulgar lata de refrige- funciona quase sempre muitís-
simo bem, pode fazer passar a
rante, poderá impedir a recep- ideia de que os tradicionais mé-
todos e técnicas de navegação
ção do sinal GPS de todos os são dispensáveis. Nada seria
mais errado! A posição GPS,
satélites acima do horizonte, assinalada por um símbolo
apelativo numa carta electró-
afectando uma área com um The consultation, aguarela de Nicholas Pocock (1724-1821). nica de navegação, pode escon-
raio de aproximadamente 350 der erros comprometedores.
Devem, portanto, continuar a
km. Empasteladores destes ou mesmo de depois escolhida aquela que fosse consi- ensinar-se todos os métodos e
todas as técnicas tradicionais
potências mais elevadas podem actual- derada mais fiável. de navegação, bem como o in-
dispensável background teórico,
mente ser encontrados na internet por um Recorde-se que, na altura, a navegação pois são eles que definem o ver-
dadeiro navegador. É isso que
preço inferior a 1000 euros. tinha mais de arte do que de ciência e usa- se faz nesta instituição há mais
de dois séculos, contribuindo para afirmar
Recorrendo a uma analogia útil, pode- vam-se técnicas algo grosseiras para esti- a Escola Naval como a grande referência do
ensino da navegação em Portugal.
mos dizer que o empastelamento represen- mar a posição, havendo particular incer-
Z
ta para o GPS o que os vírus representam teza na determinação da longitude. Nesta
Nuno Sardinha Monteiro
para os computadores. E por que é que al- perspectiva, a regra de envolver várias
CFR
guém poderia querer empastelar o GPS? pessoas, a trabalhar autonomamente, na
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Por exemplo, para não pagar
a acima referida taxa de circu-
lação nas rodovias. Ou então,
para tentar baralhar o sistema
de vigilância de prisioneiros.
Ou apenas para aborrecer –
pensemos em alguém que es-
teja mal com a vida e que, farto
de criar vírus e de os espalhar
pela internet, decida também
perturbar o bom funcionamen-
to do GPS.
E o que é que os utilizadores
do GPS avisados podem e de-
vem fazer? O mesmo que os uti-
lizadores esclarecidos dos com-
putadores: instalar anti-vírus e
fazer back-ups regulares dos fi-
cheiros que possuem.
Relativamente aos anti-vírus,
devo dizer que na navegação
por satélite os Norton e os McA-
ffee têm um sucesso muito re- Escola Naval.
lativo. Apesar disso, podem-se
minimizar os efeitos de um eventual em- determinação da posição do navio era bas-
pastelamento utilizando antenas especiais, tante avisada.
com capacidade de rejeitar sinais oriundos Tal princípio continua válido hoje em
de determinados sectores, e usando filtros dia. No entanto, em vez de se ter várias
que também conseguem mitigar o sinal de pessoas a trabalhar de forma independen-
empastelamento. te, actualmente é necessário possuir siste-