Page 6 - Revista da Armada
P. 6
co acto de cerimonial marítimo. Formámos e Magalhães à Municipalid de Punta Arenas. muito destacado pelos órgãos de comunica-
ocupámos postos de honras militares a nave- Esta representação em bronze do navegador, ção social e pelo público em geral através da
gar. Leu-se uma distinta alocução evocativa, oferecida pela terra que o viu nascer e que, se- afluência à “Sagres”, nas visitas às escolas e na
que realçava o carácter extraordinário deste tenta dias depois de largar de Lisboa, chegou inauguração do busto.
navegador português. Terminadas as como- ao seu destino final. Perfilado à direita, voltou A comitiva do SEDNAM e do CEMA desem-
ventes palavras em sua honra, o SEDNAM, o a contemplar a costa que corajosamente des- barcou no dia vinte e nove de Março.Antes das
CEMA e o Comandante lançaram, conjunta- mistificou e o estreito que mais tarde foi bap- devidas honras militares, dirigiram-se à guarni-
mente, às águas abençoadas do estreito, uma tizado com o seu nome, gozando do respeito ção, reconhecendo a importância desta missão
coroa de flores. A execução de trêsVivós con- e da admiração deste povo orgulhoso da sua e valorizando o esforço de todos os militares
cluiu a simbólica cerimónia. herança. embarcados no cumprimento da mesma. Estas
Finda esta etapa recheada de emoções, avis- Ao programa protocolar geral que contem- palavras foram um valioso incentivo para estes
támos Punta Arenas, a Cidade do Estreito. O plou várias recepções e homenagens, entre valorosos marinheiros que durante um ano vão
pequeno cais disponível criou a necessidade elas a Missa do Bicentenário e em memória estar privados do conforto dos seus lares e das
de atracar de braço dado. Tal situação antevia das vitimas do sismo do Chile, na Catedral da suas famílias. Motivados pelo reconhecimento
uma cidade também ela pequena. estão prontos para vencer as milhares
Na verdade esta cidade recente, com de milhas que ainda têm pela proa e
aproximadamente cento e cinquenta superar as eventuais dificuldades que
anos, é um baluarte da cultura Ma- se apresentem.
galhânica. Por todo o lado se podem Dois dias depois largámos de Pun-
observar bandeiras e outros ornamen- ta Arenas e desfilámos, todos os na-
tos, baseados no brasão de armas do vios a todo o pano, proporcionando
navegador. O expoente máximo des- um espectáculo que ninguém sabe
te respeito vive-se na praça principal quando se poderá repetir mas que
do município. No centro da praça a população da cidade merece pelo
Muñoz Gamero encontra-se uma im- forte acolhimento. Estes navios são
ponente estátua do descobridor por- muito trabalhosos para as suas guar-
tuguês, sobre uma peça de artilharia nições. Exigem muitos polimentos,
da época. Esta obra de arte cuja ré- muita limpeza e muita arte de mari-
plica se encontra no centro da Praça O Presidente da Câmara de Sabrosa e o Alcaide de Punta Arenas junto nheiro. O melhor retorno que pode-
do Chile em Lisboa, em que a única ao busto de Fernão de Magalhães.
mos ter é a visita e a apreciação do
diferença reside no pedestal, aqui ornamen- cidade. Houve várias trocas de lembranças e público anónimo.
tado com dois índios das terras patagónicas, as mais apreciadas eram os diplomas ou teste- Rumámos aValparaiso, aproveitando o abri-
que são protagonistas da lenda: “Quem beijar munhos da passagem pelo mítico cabo. “Ven- go das cerca de novecentas milhas de mara-
o dedo grande do pé do índio fueguino, volta- cedores del Cabo de Hornos” estava gravado vilhosos Canais Chilenos. Trinta milhas em
rá a Punta Arenas!” nas medalhas de lenga, a madeira da região, desfile até à Punta del Hambre, continuando
Esta cidade, actualmente com 160 000 ha- ornamentadas com o albatroz, a ave típica do já sem velas pelo Estreito de Magalhães, pas-
bitantes, foi muito próspera entre meados do Horn que está simbolizada num monumento sando o Cabo Forward, extremidade Sul do
século XIX e a abertura do Canal do Panamá que só quem por lá passa pode apreciar. O Continente Americano, e entrando no Paso
em 1914, que veio desviar as rotas comerciais, programa específico da “Sagres” e das entida- com o mesmo nome. O dia, que tinha estado
no início do século XX. Por aqui passaram, des portuguesas presentes incluiu a cerimónia soalheiro até ali, tornara-se muito ventoso, frio
nesse período dourado, os grandes veleiros de desembarque do busto, as visitas à Escola e com chuviscos. Seguiu-se o Paso Inglês e o
da rota do salitre (nitrato de potássio usado na Portugal e à Escola Fernão de Magalhães, onde Tortuoso já noite dentro. Nesta altura poderí-
indústria do armamento) – entre a Europa e fomos presenteados com espectáculos reali- amos ter continuado para o Oceano Pacífico
Valparaiso. Ainda se podem observar na zona zados pelos alunos, um jantar oferecido pela pelo Estreito, mas a nossa opção foi seguir ao
ribeirinha da cidade as imponentes abrigo dos canais interiores. Prosse-
carcaças de vários grandes veleiros guimos pelo Canal Smith, passámos
dessa época. o Paso Shoal, uma passagem estreita
Uma parte do património arquitec- com vários navios encalhados à vista.
tónico foi construído graças à fortuna Estes testemunhavam as dificuldades
do imigrante e investidor português da passagem e aconselhavam a caute-
Don José Nogueira, proprietário de la máxima. Depois do Paso Summer,
uma frota pesqueira e de ganadarias entrámos o Estrecho Collingwood e
nos tempos áureos da cidade e do passámos mais alguns Pasos que nos
estreito. Disso são exemplos o Hotel levariam ao Canal Sarmiento, rectilí-
Nogueira e o riquíssimo palácio do neo ao longo de 50 milhas e que nos
Club la Unión, onde Sir Ernest Shack- iria dar algum descanso.
leton veio pedir apoio financeiro para Navegam agora connosco dois
resgatar o seu navio “Endurance” e a Oficiais da Marinha chilena que nos
sua tripulação que ficaram presos no Cerimónia de entrega do busto de Fernão de Magalhães a Punta Arenas. apoiam na navegação interior e o fo-
gelo durante a expedição de 1914 à tógrafo chileno radicado em Portugal
Antárctida. cidade em nossa honra, e culminou com uma há 30 anos, Roberto Santandreu. Co-autor com
Aos portugueses presentes, juntou-se uma sessão da Assembleia Municipal em que foram José Carlos Nascimento das fotos do livro que
comitiva da Câmara Municipal de Sabrosa, li- entregues as Chaves da Cidade ao SEDNAM, consideramos ser a bíblia dos Faróis de Portu-
derada pelo seu Presidente, Dr. José Marques, ao CEMA e ao Presidente da Câmara Munici- gal: “Onde a terra acaba” (Pandora – 1998), es-
que aproveitou a viagem da “Sagres” para es- pal de Sabrosa. crito pelo Comandante Teixeira de Aguilar.
treitar relações com esta Cidade de Magalhães, A recepção a bordo contou com a presen- O dia dois de Abril amanheceu limpo e a re-
e oferecer o busto que viajou a bordo desde ça das mais destacadas entidades que fizeram velar a paisagem espectacular das montanhas
Portugal. Entre estas actividades destaca-se a questão de retribuir o destaque que Portugal à nossa volta, verdes cá em baixo e brancas da
cerimónia de entrega do busto de Fernão de deu à sua grande comemoração, facto que foi neve nos cumes. Os nossos convidados, pro-
6 MAIO 2010 U REVISTA DA ARMADA