Page 10 - Revista da Armada
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Da introdução da TSF às modernas TCI’s
100 anos que honram a Marinha
Éresponsabilidade institucional de nómica, do que de mais moderno o mun- to Radiotelegráfico do Arsenal da Mari-
qualquer organização estruturante
da comunidade, cultivar a memó- do ia conhecendo. nha, com o indicativo de chamada ALFA
ria e preservar o seu património técnico
e cultural, como mais uma vez se cumpre Não se trata de vitupério, pois essa elo- MIKE, tendo como primeiro director o
através desta singela homenagem, envol-
vendo os principais agentes da moder- giosa tese da Marinha como pivot do pro- 1º Tenente Ladislau Parreira, que have-
nização tecnológica do país, no início do
século XX. gresso tecnológico no país, é defendida, ria de apoiar o seu camarada Machado
A Marinha, preocupa-se, assim, em re- factual e consistentemente, na obra “His- dos Santos, no comando das operações
levar um passado de honra e prestígio e,
por isso, estamos aqui a recordar, como já tória da Marinha Portuguesa – Homens, militares do 5 de Outubro, através de co-
o fizemos no 75º aniversário, em 1985 por-
tanto, as primeiras experiências radiotele- Doutrinas e Organização 1824-1874”1, da municações navais dirigidas de bordo do
gráficas bem sucedidas, protagonizadas
pela Armada. autoria do presidente do Instituto de Defe- cruzador “S. Rafael”. Esta capacidade téc-
Honra-nos a pre- sa Nacional (IDN), Prof. António José Telo, nica ficou a dever-se, em boa medida, à
sença dos ilustres con-
vidados e aproveita- quando afirma, insuspeitamente, e cito: inovadora criação, em 1902, dos Serviço
mos a sua companhia
amiga para, precisa- “…. Foi o poder naval que facilitou a transi- e Escola Prática de Torpedos e Electrici-
mente, evocar aquela
radiosa jornada, de 16 ção da sociedade portuguesa para a tecnologia dade, em Vale de Zebro, verdadeiro berço
de Fevereiro de 1910,
que teve como pal- da idade industrial …”. dos técnicos e operadores navais da TSF
co este espaço onde
nos encontramos, tão Tratou-se, então, de uma época em que em Portugal.
carregado de histó-
ria e que as diversas descobrimos, facilmente, as últimas réstias Foram acontecimentos de reconhecida
gerações de militares
da Marinha ficaram a importância, a mesma
conhecer como a Casa
da Balança, verdadei- Cruzador “S. Gabriel” com que a imprensa
ro ex-libris do edifício
que já acolheu o Arse- destacava os diversos
nal e o Ministério da Marinha.
eventos, nos planos
Visando, pois, a firme preservação do
património cultural e tecnológico, junta- nacional e internacio-
mo-nos, hoje, neste cenário para homena-
gear as gerações de técnicos, profissionais nal, na vizinhança do
ou simples amadores, que tomaram as ré-
deas dessa evolução e progresso, marcado 5 de Outubro, reflec-
por um acontecimento, como foi o 16 de
Fevereiro, de enorme importância, em ter- tindo um ambiente
mos da modernização e operacionalidade
da actividade militar e naval, além de eta- de convulsão política
pa inicial da história das radiocomunica-
ções em Portugal, na qual a Armada, como e social, com greves
é reconhecido, ocupa posição destacada.
por todo o país, en-
Convido-vos a recuar àquela época, no
início do século XX, precisamente num pe- quanto, lá por fora, a
ríodo conturbado da vida nacional, a de-
correr entre o sobressalto da instabilidade Europa, que domina-
política e a ameaça da bancarrota, a qual,
de tão sentida, nem precisou dos alertas va o mundo e impu-
das agências de rating.
nha o ritmo do pro-
Nessa altura, a Marinha pôde, uma vez
mais, afirmar o seu pioneirismo, agora gresso tecnológico,
como iniciadora do uso da TSF no país, re-
forçando a imagem de uma Armada pre- assistia à ascensão da
cursora na implementação das mais mo-
dernas tecnologias e de bem sucedida na ideologia colonialis-
inovação e transposição para a vida eco-
ta e à emergência das
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do projecto modernizador do Fontismo, potências imperialistas, desde 1880, em
ultrapassadas, no entanto, pelos traumas delicado equilíbrio de forças, tornando-se
que mais pesavam no quotidiano, provo- actores do renascimento de ódios e apeti-
cados pela humilhação do Ultimato inglês, tes guerreiros, que conduziram ao “desre-
o fraco registo dos sucessivos governos em gulamento social” que precedeu a I Guer-
ditadura e o assassinato do rei à luz do dia, ra Mundial.
que culminou no triunfo dos republica- Depois desta breve referência às agen-
nos em 1910, epílogo normal de uma luta das, interna e internacional, voltamos a
e certa ideia progressista, que mobilizou nossa atenção para os primeiros equipa-
vários intelectuais, espalhando-se por di- mentos, pouco potentes e sofisticados,
versas camadas da burguesia e do opera- surgidos no meio militar, bem como algu-
riado citadino. mas experiências visando a introdução da
É neste contexto que o 16 de Fevereiro TSF no país.
de 1910 representa um marco no esforço da Logo em Março de 1901, ocorrem os pri-
Marinha, não tanto pela instalação, neste meiros ensaios, por iniciativa do Exército,
local, da primeira estação radiotelegráfica entre o forte da Raposeira na Trafaria e o
fixa no país, mas, acima de tudo, pelo que Regimento de Engenharia no forte do Alto
significou de envolvimento no processo de do Duque. Daqui saiu o equipamento a ser
modernização tecnológica no sector das testado no cruzador “D. Carlos”, em ma-
comunicações, nomeadamente ao nível do nobras navais, representando um atraso de
serviço público móvel marítimo e da sal- apenas quatro anos em relação à pioneira
vaguarda da vida humana no mar, com o Itália, que através de um posto em La Spe-
apoio aos navios, nacionais e estrangeiros, zia, começou a comunicar com os navios
ao largo da costa portuguesa ou em águas da sua esquadra.
mais distantes do porto de Lisboa, e tam- No entanto, só com o início da I GM, os
bém no Ultramar, uns anos mais tarde. governos passam a dar uma maior impor-
A Estação de que hoje assinalamos o tância a estas novas tecnologias, em clara
nascimento, tomou a designação de Pos- expansão devido à presumida vantagem