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NOTÍCIA

                   NRP “BACAMARTE” – COMBATE A POLUIÇÃO NO MAR

l A circulação intensa de petroleiros, inade-                                                          constituído, essencialmente, por um recupera-
quados e obsoletos, vai ser realizada perto das                                                        dor mecânico e uma barreira flutuante.
nossas águas. É de relembrar que os piores                                                             Abarreira flutuante é instalada lateralmen-
episódios de poluição deveram-se a derra-                                                              te ao navio, por intermédio de um braço seg-
mes involuntários por acidentes em ou com                                                              mentado, com cerca de doze metros de com-
navios, que constitui um tipo de poluição que                                                          primento. O braço, construído em alumínio,
provoca prejuízos ambientais incalculáveis.                                                            é constituído por três segmentos, com cerca
O grande derrame ou maré negra, provo-                                                                 de quatro metros de comprimento cada. Uma
cado pelo afundamento do N/T “Prestige”,                                                               vez instalado o braço, perpendicularmente ao
em Novembro de 2002, que afectou seriamen-                                                             costado, o navio deverá deslocar-se com uma
te as costas da Galiza, em Espanha, teve, nas    Sistema “V-Sweep” de combate à poluição no mar –      velocidade máxima de avanço entre 1 e 1 ½
operações de recolha de produto poluente         Braço e Barreiras flutuantes.                         nós e assim colectar e concentrar os resíduos

em alto-mar, a participação activa do NRP                                                              poluentes através das barreiras flutuantes,
“BACAMARTE”                                                                                            para, posteriormente, serem recolhidos.
Mais recentemente, com os encalhes do “S.                                                              Adicionalmente, é utilizado um recupe-
Gabriel”, na costa sul da Ilha de S. Miguel,                                                           rador mecânico de discos “skimmer” para
em Novembro de 2009, e do “CP Valour”,                                                                 recolher o poluente e bombeá-lo para os dis-
na Baía das Cabras, Ilha do Faial, em De-                                                              positivos de armazenamento a bordo. O re-
zembro de 2005, as marés negras poderiam                                                               cuperador mecânico de discos é posicionado
ter provocado devastadoras consequências                                                               no centro da barreira flutuante de contenção
ambientais e económicas, tais como o desa-                                                             e recolha.
parecimento de diversas espécies marinhas,                                                               Em missão, os poluentes são recolhidos
vegetais e animais, a contaminação dos solos,    Recuperador mecânico de discos e barreira flutuante.  do mar pelo recuperador e enviados para as

os custos gigantescos de limpeza e a quebra de receitas turísticas no quatro cisternas contentorizadas. Em condições normais, cada um,
Arquipélago dosAçores não fosse a pronta intervenção do Serviço de dos quatro contentores/tanque, permite armazenar cerca de 21,7
Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH), serviço [M3] de poluente. A capacidade de armazenamento total, no navio,
técnico central da Direcção Geral da Autoridade Marítima (DGAM), é cerca de 104 [Ton] de crude. Nesta condição de navio carregado,
especializado no combate à poluição no mar.                           com carga no poço, o deslocamento total é de cerca de 670 [Ton], o
Nas duas ocorrências, procedeu-se à trasfega de parte do combustí- qual corresponde a uma imersão média de 1,35 [m].
vel e da carga. Na Ilha do Faial, para além do anteriormente indicado, “É de realçar que o NRP “Bacamarte” se tornou o primeiro na-
procedeu-se a operações de limpeza nas zonas de costa afectadas. vio de combate à poluição do mar da Marinha. Este tipo de navio,
Do sentido de assegurar uma eficaz capacidade de combate à po- uma lancha de desembarque, reúne importantes qualidades para o
luição no mar, decorreu a necessidade de adaptar o N.R.P. “Bacamar- combate à poluição do mar, um sistema de contenção e recolha, ca-
te” para o combate à poluição do mar por Hidrocarbonetos (HC´s). pacidade de armazenamento, capacidade de transporte de material
Este navio tornou-se o primeiro meio naval da Marinha Portuguesa e a capacidade de transportar material até locais da costa com difícil
preparado para o combate à poluição. Na adaptação do N.R.P. “Ba- acesso por terra. Tipicamente, trata-se de um tipo de navio pouco
camarte”, considerou-se, para esse fim, a instalação a bordo de um sofisticado e pouco oneroso, mas muito válido para operações de
recuperador mecânico, uma barreira flutuante e de quatro cisternas recolha no mar até algumas centenas de toneladas de poluente”1.
de armazenamento.
                                                                                                                                                

                                                                                                       (Colaboração do COMANDO DO NRP ”BACAMARTE”)

EQUIPAMENTO DE COMBATE À POLUIÇÃO                                     Nota:
  O sistema de contenção e recolha de poluentes, “V-SWEEP”, foi con-     1 Exercício de Combate à poluição do mar “Espadarte 2009”. Revista de Mari-

cebido para ser instalado a estibordo (EB) do navio. O “V-SWEEP” é    nha, nº 953, CMG ECN Silva Paulo. Dezembro 2009/Janeiro 2010

VIGIA DA HISTÓRIA                                                                                                     23

                                                 NAVEGANDO
No decurso da questão das Molucas (1) D. João III promoveu
         a audição de várias individualidades, em especial de téc-    delle e outros com trezentas allem asy que há muitas vezes defe-
         nicos, tanto de navegação como de cosmografia.               rença nos mesmos pilotos que vão em hua nao de cincoenta, de
  A opinião do Duque de Bragança, por representar a de alguém         cento e de duzentas e trezentas legoas segundo o Golfão que atra-
que não se insiria em qualquer daquelas categorias, assume a          vessão. E muitas vezes vaão mais certos os que menos sabem que
meu ver, a visão crítica de um “outsider” que poderá contribuir       os mui grandes pilotos como se vê cada dia por experiência.
para ajudar a fazer luz nalguns aspectos nem sempre claramen-
te analisados.                                                                                                                                        
                                                                                                                                Com. E. Gomes
  Escrevia o Duque, em 1542, referindo-se às cartas de navegação:
  “Nom se emendam também porque nom há hi viagem que se               Nota:
faça daqui aa India que os pilotos e marinheiros e pessoas que           (1) A questão das Molucas foi originada pela dúvida quanto à situação geográ-
carteam em hua mesma não nom sejao diferentes na estimativa e
huns se fazem aquem de um cabo e outros com cem legoas alem           fica daquele arquipélago, fonte abastecedora do cravo, relativamente ao acorda-
                                                                      do no Tratado de Tordesilhas.

                                                                      Fonte:
                                                                      Gavetas Torre do Tombo XVIII-5-3

                                                                                                                   Revista da aRmada • JULHo 2010 27
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