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ACADEMIA DE MARINHA

Jornadas sobre Construção Naval

Em mais um ciclo de palestras temá-      ção de construção naval de mais de meio   última no âmbito das Jornadas so-
      ticas, a Academia de Marinha pro-  milénio de história pudesse desaparecer.  bre Construção Naval, coube ao
      moveu no passado mês de Abril as   Apelou ao empenho de todos no senti-      coordenador do ciclo, o engenheiro
“Jornadas sobre Construção Naval”.       do de contribuir para encontrar soluções construtor naval Óscar Mota, Mem-
Sob a coordenação do engenheiro cons- e procurar sinergias, recusando o confor- bro Efectivo da Academia de Marinha.
trutor naval CFR Óscar Filgueiras Mota, mismo e a desistência.                     Fez o diagnóstico dos principais proble-
foram apresentadas três conferências, se- A segunda conferência, «A componen- mas que têm afectado o sector e apontou
guidas de debate, nos dias 13, 20 e 27 de te industrial», foi apresentada pelo en- o caminho da sua resolução. Planeamen-
Abril, tendo-se procurado atingir dois ob- genheiro construtor naval CALM Victor to a longo prazo, continuidade na cons-
jectivos:                                Gonçalves de Brito. Começando pela ver- trução naval, reforço de quadros no Arse-
- Dar a conhecer a capacidade e possibi- tente da construção naval, falou da im- nal, abertura das escolas da Marinha ao
lidades da indústria naval nacional      portância da capacidade do projecto, da exterior, reforço do diálogo da Marinha
- Contribuir para melhorar a cooperação escolha dos fornecedores, do valor acres- com as empresas de construção e repa-
entre a Marinha e a indústria.           centado a nível nacional e da obtenção ração naval, aposta no nicho de mercado
Intitulada «O complexo da indústria de navios para a Armada – a Marinha é das embarcações de recreio, são apenas
naval», a primeira conferência foi apre- hoje o principal “armador” nacional, dis- algumas das medidas que o orador pre-
sentada pelo engenheiro construtor naval se. Sobre a vertente da reparação naval, conizou para revitalizar a indústria e ala-
CALM António                                                                                                                           vancar a sua inter-
Balcão Reis, Mem-                                                                                          Fotos Reinaldo de Carvalho  nacionalização.
bro Correspon-                                                                                                                         O debate final
dente da Acade-                                                                                                                        não revelou dis-
mia de Marinha.                                                                                                                        cordâncias na as-
Centrando a                                                                                                                            sistência, no es-
sua exposição nos                                                                                                                      sencial, quanto às
pilares da Indús-                                                                                                                      razões das dificul-
tria, dos Serviços                                                                                                                     dades e à forma
e da Formação, o                                                                                                                       de as ultrapassar.
orador começou                                                                                                                         Foi mesmo con-
por fazer o retra-                                                                                                                     sensual a opinião
to da realidade                                                                                                                        de que o maior
do sector e da sua                                                                                                                     problema – na
evolução nas últi-                                                                                                                     medida da gran-
mas décadas, refe-  CALM ECN António Balcão Reis.  CALM ECN Vitor Gonçalves de Brito. CFR ECN Óscar Mota.                              de importância

rindo o percurso dos principais estaleiros, sublinhou a complexidade específica da que as encomendas da Armada têm para
as pequenas empresas de construção e manutenção dos navios da Armada e dos a construção naval – tem sido a incon-
reparação, a subcontratação e a indústria modelos adoptados. Depois de elencar os sistência do planeamento a longo pra-
auxiliar naval. Prosseguiu com os Servi- factores de competitividade dos estalei- zo no reapetrechamento da Marinha,
ços, destacando o papel das Sociedades de ros, o orador terminou a sua exposição em resultado da falta de uma sustenta-
classificação, dos Gabinetes de projecto e com uma reflexão sobre a sustentabili- ção política coerente por parte da tutela.
do Instituto Portuário e dos Transportes dade da indústria naval no nosso país, A terminar a sessão, o Presidente Vieira
Marítimos. No terceiro pilar, o da Forma- manifestando a sua convicção de “que a Matias congratulou-se pela qualidade das
ção, o orador falou do Instituto Superior indústria naval em Portugal pode ser cre- comunicações e das intervenções da assis-
Técnico – salientando a sua importância dível e competitiva”, desde que assegura- tência ao longo das Jornadas, reforçando
enquanto principal centro de formação das certas premissas.                        algumas das ideias-chave referidas pelo
em engenharia naval do país e, em senti- No debate que se seguiu, o prolonga- engenheiro Óscar Mota, designadamente
do restrito, a única sede de tal ensino, da do círculo vicioso de estudos – por força a importância do nicho da navegação de
Escola Naval e da Escola Náutica.        de sucessivas leis de programação militar recreio. Recusando-se a aceitar o definha-
Tendo apontado alguns dos que consi- – e expectativas frustradas, foi apontado mento da nossa tradição de construção
dera serem os principais problemas exis- como uma das causas que mais obstaculi- naval, de mais de seis séculos, o almiran-
tentes, o conferencista expressou a sua zaram a concretização daquilo que todos te Vieira Matias disse ser essencial que, à
preocupação pelo caminho que tem vin- pretendem: a satisfação das necessidades semelhança do que acontece noutros pa-
do a ser seguido, mas também disse acre- próprias da Armada e o desejável desen- íses, exista e seja consistentemente sus-
ditar que é possível reverter a situação. volvimento e internacionalização da in- tentado pelo poder político um plano de
No debate subsequente, a maioria das dústria da construção naval portuguesa. reapetrechamento da Marinha, pensado
intervenções teve um tom pessimista, A encerrar a sessão, o Presidente Vieira para o longo prazo.
apontando o que teriam sido os erros Matias congratulou-se pela nota de opti-
do passado, no geral em concordância mismo deixada pelo orador na sua ava- Os textos das conferências e da síntese das Jornadas
com o que havia sido dito na palestra. liação do potencial da construção naval estão disponíveis na página da Marinha na internet, em
A finalizar a sessão, o Presidente Vieira no nosso país.                           Academia de Marinha.

Matias disse ser preciso recusar o derrotis- A apresentação da conferência «Os                                                         

mo, pois era inaceitável que a nossa tradi- problemas e as soluções», terceira e   (Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)

26 JULHO 2010 • Revista da aRmada
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