Page 23 - Revista da Armada
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e Maya, que acumula funções com aTailândia ção de automóveis antigos. O seu Mercedes do globo, reconhecida por diversos ataques
e vários países destas paragens. O Embaixador K500 de 1936, único no mundo, vinha com de pirataria, obrigou a uma atenção especial
e a sua mulher, Maria da Piedade, efectuaram a sua pintura vermelha bem polida para uma da equipa de defesa do navio. O seu traba-
connosco o breve trajecto até ao Porto da cida- sessão de fotografias junto à “Sagres”. As duas lho incessante de vigilância permitiu uma
de de Kelang. A comitiva contemplava ainda a peças da engenharia de construção germâni- passagem segura e calma nestas conturba-
supracitada Dra. Cátia Candeias e o Realizador ca da década de trinta pousaram para as ob- das águas, aqui e ali perturbada, pela curio-
Pedro Palma que recolhe imagens da passagem jectivas, eternizando a sua existência em al- sidade das pequenas embarcações de pesca
da “Sagres” em Malaca, de forma a enriquecer gumas interessantes fotos. O carro, quase tão e recreio que sempre gostam de se aproximar
um documentário televisivo com estreia mar- fabuloso como o navio, foi mandado construir e fotografar o navio.
cada para 2011, e que tem por tema base os por Hitler para oferecer a um herói da aviação A chegada ao Oceano Índico foi relem-
quinhentos anos de Expansão de Por- brada, por um lado, por marcar mais
tugal ao sudoeste asiático. um passo significativo a caminho do
Largámos ferro da baía de Mala- porto de Lisboa, por outro lado, pelo
ca a tempo de aproveitar a brisa que sorteio para o Campeonato de Fute-
se fazia sentir e assim enriquecer o bol de Convés do Índico, competi-
documentário do nosso convidado, ção que promete animar as tardes do
com imagens da “Sagres” a navegar poço e preencher as enxárcias de ou-
à vela. Ao serão, no tombadilho, tro- tras classes que não os da manobra.
cámos estórias da nossa viagem com A monção está a mudar e ainda se
estórias de Malaca. sente forte de sudoeste. Com a ajuda
Na manhã do dia seguinte, alcan- de uma depressão cavada que nos al-
çámos o terminal de cruzeiros de cançou, soprou forte e carregou chu-
Kelang, que fica a aproximadamente va. Tal facto foi responsável por al-
50Km de distância da capital. guns dias cinzento e mal-humorados,
Apesar da distância, a guarnição o que se reflecte imediatamente no
não se inibiu de se deslocar à capital quotidiano da guarnição, que apa-
da Malásia. Assim puderam conhe- Grupo folclórico da comunidade luso-asiática de Malaca actuan- rece menos nos exteriores. Os dias
cer a sua moderna arquitectura, que do a bordo. mais secos foram oportunamente di-
tem por ex-líbris as torres Petronas. rigidos para a reparação das madei-
As duas torres gémeas, consideradas ras do navio, mais um ciclo intenso
as torres gémeas mais altas do Mun- de lixa, pó e vernizes que espelha o
do, que ostentam a ponte pedestre esforço hercúleo destes marinheiros
mais alta do mundo são um símbolo em conservar o seu navio.
de Kuala Lumpur e da Malásia. São Este último mês primou pela diplo-
o testemunho arquitectónico do seu macia naval e pela promoção das re-
progresso e conquista socioeconó- lações internacionais de Portugal. Na
mica. A sua construção terminou em visita a estes três países do sudoeste
1996 com as torres de 88 andares a asiático os números são considerá-
cresceram a uma velocidade impres- veis, tendo-se realizado: três almo-
sionante de menos de 4 dias por piso ços de retribuição de cumprimentos,
e terminaram antes do tempo graças à quatro recepções a bordo do navio e
brilhante ideia de entregar a constru- contabilizado dezenas de milhares
ção de cada uma a empresas diferen- Embarque dos Embaixadores de Portugal na Malásia. de visitantes. Por outro lado a guar-
tes, uma russa e outra sul-coreana, o nição participou em inúmeras acti-
que originou uma salutar competição. vidades fora do navio. Estes factos
Na base das torres encontrámos um em muito contribuíram para o firmar
centro comercial com lojas de luxo, das relações bilaterais e multi-laterais
alguns restaurantes e a sala de concer- de Portugal nestes países com quem
tos da Orquestra Filarmónica da Ma- partilhamos meio século de história
lásia, dotada de uma acústica cuida- conjunta e para mostrar a Bandei-
dosamente arquitectada. Rodeada de ra Nacional além fronteiras. Assim,
jardins bem cuidados a visita é muito deve ser realçado o esforço colectivo
aprazível sendo a única dificuldade a da guarnição que, apesar de levar já
de encontrar um local onde se con- mais de nove meses de viagem e de
siga, com uma câmara normal, tirar quatro mil horas de navegação, con-
uma foto de “corpo inteiro” às torres. tinua diariamente a manter o atavio e
O povo da Malásia respondeu com Duas “máquinas” alemãs dos anos 30 do Séc. XX. brilho da plataforma, e colhe os mais
A “Sagres” e o Mercedes K500 do Cônsul Honorário na Malásia. rasgados elogios por onde passa, e
curiosidade à presença do navio e
nos dias em que estivemos abertos a visitas, alemã. Depois de várias vicissitudes teve um não nega um sorriso espontâneo a cada um
recebemos diversos grupos organizados, no- acidente e estava muito danificado na Austrá- dos milhares de visitantes recebidos a bordo.
meadamente de universidades e associações lia, onde o Comendador o foi descobrir. De- Com destino a Goa, à vela, prosseguimos
locais. A chegada ao terminal de um paquete pois de ter de mandar vir um engenheiro da para mais uma importante visita a uma antiga
de luxo da carreira Singapura-Malásia tam- Mercedes para vir autenticar a viatura porque praça portuguesa, onde também esperamos
bém permitiu recolher alguns olhares e vi- não acreditavam que fosse original, esta foi re- encontrar muitas influências nacionais e ma-
sitas extra. parada na Alemanha ao longo de três anos, tar saudades de Portugal. Aqui passaremos
Num dos dias no porto o Comendador Eu- estando agora impecável. quatro dias, os únicos do mês de Novembro
génio da Luz Campos, Cônsul Honorário de A largada de Kelang decorreu serenamente, que não serão a navegar.
Portugal na Malásia, surgiu no cais com a me- bem como a navegação na porção norte do
nina dos seus olhos, e ex-libris da sua colec- estreito de Malaca. A navegação nesta região (Colaboração do COMANDO DO NRP” SAGRES”)
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2010 23