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“MARINHA PORTUGUESA”
Nove Séculos de História
Sob a presidência do Almirante Melo
Gomes, Chefe do Estado-Maior da Ar- mércio marítimo e de pesca industrial é uma Fotos 1SAR FZ Pereirasiderar a última viagem de descobrimento; em si-
mada, realizou-se, no passado dia 27 de História de Portugal vista do mar porque não é multâneo e sob a orientação régia, estabelecia-
Outubro, o lançamento do livro “MARINHA possível dissociar o Mar dos acontecimentos -se e organizava-se o comércio com os novos
PORTUGUESA” – Nove Séculos de História, fundamentais da História de Portugal. territórios descobertos; São Jorge da Mina foi
da autoria do CMG Rodrigues Pereira. o primeiro entreposto europeu na designada
Ao longo da sua história, Portugal mante- África subsaariana.
Estiveram presentes, no Pavilhão das Galeo- ve sempre uma ligação estreita com o mar e
tas do Museu de Marinha, cerca de 170 convi- as actividades nele desenvolvidas, que foram A chegada dos navios portugueses à Ín-
dados, de que destacamos: General Ramalho fundamentais para a criação da sua identida- dia pela rota do Cabo da Boa Esperança, e a
Eanes; Dr. Marcos Perestrello, Secretário de de como Nação. criação da primeira rota marítima transoceâ-
Estado da Defesa Nacional e dosAssuntos
do Mar; General Pinto Ramalho, Chefe do Aacção dos meios navais portugueses é re- nica, levou o historiador Arnold Toynbee
Estado-Maior do Exército; General Luís ferida documentalmente, pela primeira vez, a dividir a história mundial nos períodos
Araújo, Chefe do Estado-Maior da Força em 1121 e logo a seguir, em 1147, durante o pré-Gâmico e pós-Gâmico. Também o econo-
Aérea; Almirante Vidal Abreu; Prof. Doutor cerco que antecedeu a conquista de Lisboa. mista político inglêsAdam Smith escreveu
Adriano Moreira, Presidente daAcademia no século XVIII que a descoberta da América
das Ciências; Dr. Rui Vilar, Presidente da O comércio marítimo com a Europa inicia- e da passagem para as Índias Orientais, pelo
Fundação Calouste Gulbenkian; General -se no século XII com a fundação da feitoria Cabo da Boa Esperança, são os dois maiores
Sousa Pinto, Presidente da Comissão Por- em Bruges, na Flandres, logo seguida pelo acontecimentos de que há notícia na História
tuguesa de História Militar e Prof. Doutor acordo comercial com o Rei de Inglaterra no da Humanidade.
Contente Domingues, Vice-Presidente da século seguinte.
Academia de Marinha. Estas acções marítimas contribuíram
Foi a Marinha que permitiu a vitória do para o desenvolvimento das ciências náu-
Acerimónia teve início com as palavras Mestre de Avis durante o cerco de Lisboa em ticas com a consequente construção de na-
de boas-vindas doAlmirante CEMAa que 1384, ao furar o bloqueio castelhano reabaste- vios cada vez mais resistentes e de maior
se seguiu a intervenção do VALM Vilas cendo a cidade cercada. Segundo o Almiran- autonomia, para o incremento da Arte de
Boas Tavares, Director da Comissão Cultu- te Jaime Afreixo é esta esquadra que consente ao Navegar, criando métodos de navegação
ral da Marinha, editora do livro. Nesta in- Mestre de Avis ir a Aljubarrota. astronómica e ainda para a necessidade
tervenção foi feita uma breve biografia do de desenhar as cartas dos novos territó-
autor, referindo a sua já longa actividade D. João II simboliza a vocação atlântica e rios, levando ao surgimento da Escola de
de investigação, bem como dos seus mais universalista portuguesa desenvolvendo as Cartografia Portuguesa.
recentes trabalhos: “Campanhas Navais navegações no Atlântico Sul e atingindo-se o
1793-1823” (2 vol. – Tribuna da História, Oceano Índico naquela que poderemos con- A reprodução da carta anónima desi-
2004) e “Grandes Batalhas Navais Portugue- gnada como de Cantino, datada de Setem-
sas” (Esfera dos Livros, 2009). bro de 1502 e representando o expoente
dos conhecimentos portugueses do início
Após a apresentação da obra pela Prof.ª do século XVI, tem lugar de realce no livro
Doutora Manuela Mendonça, Presidente da agora publicado.
Academia Portuguesa de História, o autor Um pequeno país só pode ser uma grande po-
disse que este seu trabalho teve origem num tência enquanto dominar uma ciência ou uma tec-
desafio lançado em 2003 peloAlmirante Vidal nologia; Portugal desenvolveu-se e criou o seu
Abreu, então CEMA, para que a Marinha pu- Império enquanto manteve a exclusividade
desse dispôr de uma publicação que reunisse da ciência náutica que permitia o monopólio
não só os mais importantes eventos das viagens transoceânicas.
da sua história, mas também cons- Os séculos XVII e XVIII assistiram à pro-
tituísse um livro de representação que
pudesse ser utilizado como oferta gressiva diminuição da impor-
institucional. Tal desiderato impu- tância de Portugal como Potência
nha a necessidade de uma versão Marítima, com a perda da hege-
em língua inglesa cuja tradução fi- monia do comércio do Oriente e
caria a cargo do Dr. Manuel Leitão, parte significativa dos seus territó-
entretanto falecido. Foi nesse senti- rios naquela região; mas uma po-
do que se preparou um texto rigo- lítica de alianças estrategicamente
rosamentehistórico, acessívela um delineada, conseguiu manter os
largo leque de leitores e dotado de acessos às rotas marítimas que lhe
uma pormenorizada iconografia, eram vitais e o Império Português,
de modo a tornar o conjunto de agradável lei- que foi o primeiro a nascer, seria o
tura e visualmente atraente. último a desaparecer, já no último
quartel do século XX.
O CMG Rodrigues Pereira salientou igual- No final do século XVIII, a acção conjugada
mente os pontos fundamentais do seu traba- dos Secretários de Estado Martinho de Melo
lho que demorou cerca de 7 anos a elaborar e Castro e D. Rodrigo de Sousa Coutinho
e a seguir são referidos. atraiu sobre o nosso país, entretanto elevado
a Potência Marítima europeia, as cobiças das
Assim, a História da Marinha, de quase duas grandes potências da época, há muito
nove séculos, apresentada, julga-se pela pri- envolvidas em sucessivos conflitos à escala
meira vez de forma concisa, que inclui tam- mundial: a Inglaterra e a França.
bém as suas importantes vertentes de co- A Armada Real e a Marinha de Comércio
foram então chamadas a realizar uma opera-
28 DEZEMBRO 2010 • REVISTA DA ARMADA