Page 29 - Revista da Armada
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ção inédita, mas há muito planeada, a transfe- que obrigaram a dispor, permanentemente, carácter militar e de serviço público, isto é,
rência do Rei e da Corte para o Brasil, perante de navios de guerra prontos a acudir a qual- de duplo uso. O projecto de extensão da pla-
a invasão franco-espanhola. Foi esta estratégi- quer acidente aéreo ou marítimo, situação taforma continental tornará ainda maior a já
ca operação que permitiu manter, mais uma que ainda se mantém. extensa área de actuação da Marinha.
vez, a independência nacional.
Os acontecimentos surgidos na década de Numa obra desta natureza, declarou o au-
O século XIX traria a perda de nova e im- 1960 nos territórios ultramarinos, levaram tor, é sempre difícil conseguir um equilíbrio
portante parcela territorial; em 1822 o Brasil mais uma vez a Armada a mobilizar os seus entre várias e diferenciadas épocas onde o Po-
separou-se da Coroa portuguesa. Seriam a meios e a equipar-se para este novo tipo de der Marítimo português apresentou valores e
Armada Real e a Marinha de Comércio que conflito; adquiriram-se navios apropriados conceitos completamente diferentes.
garantiriam o regresso a Portugal das para actuar em águas interiores e recriou-se
forças militares, estacionadas no Bra- o Corpo de Fuzileiros. Também à Marinha de Não se podem comparar, por
sil, que se mantiveram fiéis ao monar- Comércio seria exigido um esforço de adap- exemplo, nos meios envolvidos e
ca português. tação de navios a transporte de tropas bem nas suas consequências, a Batalha
como à manutenção de uma importante li- Naval de Diu travada em 1509, entre
O último quartel do século XIX nha logística que permitiu abastecer as for- a esquadra portuguesa do Vice-Rei
obrigou a Armada a novos esforços; ças distribuídas por três frentes de combate. D. Francisco de Almeida e a esqua-
por um lado adaptar-se à evolução dra aliada de egípcios e guzerates co-
tecnológica que a propulsão a vapor As Marinhas de Comércio e de Pesca Lon- mandados pelo Emir Hussein e Malik
e a modernização da artilharia obri- gínqua têm neste período um grande cresci- Aziz, por um lado, e o combate naval
garam; por outro, apesar dos proble- mento através de acções de fomento ao seu do patrulha de alto-mar “Augusto de
mas financeiros que dificultavam a desenvolvimento. Castilho” com o submarino alemão
aquisição de novos meios, desenvol- “U-139”, em 1918, por outro; no en-
ver uma importante acção de presen- A década de 1980 viu aumentar a área de tanto, cada um deles foi, no seu tem-
ça naval nos territórios africanos, bem como responsabilidade da Marinha; o alargamento po, uma importante participação da Marinha
de combate ao tráfico de escravos, entretanto nos conflitos em que, em cada uma dessas
proibido em Portugal. do Mar Territorial para 12 milhas e a criação épocas, Portugal estava envolvido.
da Zona Económica Exclusiva, acrescentou É o próprio autor que afirmou:
Representou, nesta época, o maior contin- de modo abrupto a área sob jurisdição por- “Entendo portanto, mesmo depois de revisto e
gente militar em África, onde se mantinham tuguesa cuja fiscalização é, maioritariamente, reformulado o trabalho, que há períodos da nossa
dois terços dos seus efectivos e a quase tota- da responsabilidade da Marinha. História que talvez requeressem uma maior aten-
lidade dos meios operacionais. ção do que a que lhe foi dada neste livro.
A entrada no século XXI encontrou a Ma- Deles destacou:
Na Grande Guerra coube-lhe, logo no início rinha numa fase de reequipamento necessá- - O período correspondente ao reinado de
do conflito, a escolta dos transportes de tro- rio para o desempenho das suas missões de D. João III (1521-1557), onde as acções dos por-
pas que reforçaram o dispositivo militar dos tugueses no Índico e no Atlântico Norte talvez
territórios africanos, onde cedo surgiram inci- pudessem ter um maior desenvolvimento do que
dentes fronteiriços com os alemães. Este trans- aquele que lhe foi dado.
porte foi efectuado exclusivamente por navios
da Marinha de Comércio portuguesa. - O Período da Guerra da Restauração
(1640-1668), descrevendo com maior de-
Foi ainda a Armada que procedeu talhe a acção da Marinha nas lutas con-
à requisição e posterior aprontamento tra os holandeses no Oriente e no Brasil.
para operação dos navios mercantes
alemães e austríacos estacionados em - A segunda metade do Século XIX
portos nacionais. No esforço de guer- (1851-1910), assinalando não apenas a
ra tiveram também papel de relevo evolução do material naval (navios e ar-
as tripulações dos navios de comér- mas) como as profundas evoluções das
cio e de pesca que, apesar dos perigos, instituições que tutelavam a Marinha,
mantiveram a sua actividade, incluin- desde a Secretaria de Estado dos Negócios
do a pesca longínqua na Terra Nova. da Marinha e Domínios Ultramarinos até
ao Ministério da Marinha e Ultramar.
A Segunda Guerra Mundial, onde - A gerência do Ministro, Comandante Pereira
Portugal manteria a neutralidade, en- da Silva, no segundo quartel do Século XX (1924-
controu a Armada dotada com os modernos -1926), um período de importantes reformas na
navios do Programa Naval de 1930, mas em organização da Marinha, das suas infra-estruturas
número escasso para acudir às necessidades e dos seus meios de instrução e formação”.
do imenso espaço marítimo dos territórios Posteriormente à apresentação da obra, em
sob administração portuguesa. A Marinha carta que dirigiu ao CMG Rodrigues Pereira,
de Comércio, por seu lado, dispondo de to- o Prof. DoutorAdriano Moreira afirma que …
nelagem escassa para as necessidades do país, é um trabalho monumental que a nação lhe deve
conseguiu, com notável esforço, manter o país agradecer nesta data de crise de conceito estraté-
minimamente abastecido. gico e pobre de identidade nacional.
A Marinha dispõe agora de um trabalho
A ocupação de Timor, primeiro por forças que nos elucida sobre o seu passado, e que
australianas e holandesas e depois por japo- pode servir de divulgação dos excepcionais
nesas, foi bem o exemplo dessa escassez de serviços que, ao longo de quase nove sécu-
meios navais e militares que justificaram a in- los, prestou ao país, honrando o lema que
tervenção das potências beligerantes. o ministro José da Silva Mendes Leal man-
dou colocar em 1863, em todos os navios da
No final da guerra, Portugal assumiu duas Armada Portuguesa.
importantes responsabilidades internacio-
nais, cabendo maioritariamente à Armada “A PÁTRIA HONRAI QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA”
a sua execução. Foram elas a integração e
participação na Organização do Tratado do
Atlântico Norte e as responsabilidades por
vastas áreas de busca e salvamento no mar, REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2010 29