Page 6 - Revista da Armada
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Conto com o vosso esforço e com a de- no passado recente. militar e o apoio à política externa do
dicação que é típica dos marinheiros O rumo será, pois, mantido, ajus- Estado; a segurança e a autoridade do
para encontrarmos forma de as cum- Estado no mar; e o apoio ao desenvol-
prir com inteligência, rigor, oportuni- tando-se sempre que necessário for. vimento económico, científico e cultu-
dade e serenidade. Sabemos para onde queremos ir e ral do País.
possuímos uma doutrina estratégica
Na impossibilidade de, nesta mi- sólida, que tem fundamentado e con- Em síntese, uma Marinha insubsti-
nha primeira intervenção, abarcar tinuará a fundamentar a construção tuível para o aproveitamento das pos-
tudo o que é relevante para a Mari- da Marinha do futuro. sibilidades do mar que é nosso.
nha, escolhi partilhar convosco algu-
mas reflexões breves sobre a nossa Nesta rota não antevejo facilidades, Para isso, precisamos de desenvol-
missão e a minha visão para o exercí- nem considero que esteja isenta de es- ver uma percepção realista e rigorosa
cio do mandato. colhos. Mas tenho a certeza que dispo- do ambiente em que nos inserimos e
mos da capacidade, da coragem e da que nos condiciona, assumindo uma
Portugal é – como o descreveu tenacidade para compensar a escas- atitude confiante, buscando a eficácia
Miguel Torga – uma “nesga de terra sez de recursos com empenhamento nas nossas acções e a consecução dos
debruada de mar”, um território ter- e dedicação, com soluções inovadoras objectivos que nos forem determina-
restre relativamente modesto, mas e com o aprofundamento da coopera- dos.
com uma imensa área marítima, que ção com entidades externas, de modo
importa proteger e ex- a que possamos maximizar o produ- Neste trabalho, sendo impossível
plorar. A nossa história to do nosso trabalho, concretizando abordar, simultane-
está recheada de mo- aquela que é a minha visão para a Ma- amente e com igual
mentos áureos em que rinha: a de uma instituição indispen- intensidade, todas as
os Portugueses se supe- sável à acção do Estado no mar. questões, devemos con-
raram. Em todos eles há centrar o maior esforço
um elemento comum: o Isto é, uma Marinha actuante, mes- naquela cuja solução,
mar, e dois vectores de mo quando os ventos não estão de tida em conta a inter-
acção indispensáveis: feição.Uma Marinha cooperante com dependência de causas
os navios e os marinhei- todos os departamentos públicos e e efeitos, mais favoreça
ros. Tudo me leva a crer a comunidade civil. E uma Marinha a solução das restantes.
que, no futuro, também que utilize bem os recursos humanos, Neste particular, des-
assim será. materiais, financeiros e da informação taco os programas de
colocados à sua disposição, maximi- construção dos Navios
A importância do zando as funções que desempenha de Patrulha Oceânicos,
mar para o mundo glo- ao serviço dos Portugueses: a defesa das Lanchas de Fisca-
balizado é por todos re- lização Costeiras e do
conhecida. Igualmente Navio Polivalente Lo-
se reconhece a crescen- gístico.
te necessidade de ve- Assim é porque, para
lar pela sua segurança a Marinha cumprir a
face a ameaças e riscos, missão que lhe foi atri-
função que a Marinha buída, não basta ter
desempenha desde há uma organização opti-
muitos séculos e que, mizada, uma doutrina
hoje, é ainda mais es- coerente com as exi-
sencial para o apro- gências do duplo uso e
veitamento integral de a vontade de bem-fazer
todas as possibilidades que nos caracteriza! É
que a maritimidade incontornável possuir
nos oferece. Para isso, um sistema de forças
o País precisa de uma equilibrado, dotado de
Marinha robusta e pronta.
navios capazes!
Contudo, numa época de grande Marinheiros,
rigor orçamental, a nossa instituição
não é, nem poderia ser, uma excepção, A Marinha de hoje tem que ser uma
pelo que considero indispensável que instituição moderna, integrada na so-
nos adaptemos às circunstâncias, para ciedade, que serve e donde provém,
podermos continuar a servir o País da e reconhecida como uma referência
melhor forma, sem nunca olvidarmos pelos valores, um modelo na gestão e
a nossa nobre missão: a de contribuir um exemplo no desempenho.
para que os Portugueses usem o mar
no seu interesse. E vamos desempe- Nesse sentido, é minha intenção
nhá-la numa linha de continuidade, continuar a aprofundar o respeito pe-
que é tanto um tributo às nossas mais los valores militares que nos distin-
honrosas tradições, como um reconhe- guem, que são apanágio da profissão
cimento da valia do percurso trilhado militar e dos homens do mar, reco-
6 JANEIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA