Page 9 - Revista da Armada
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trabalho meritório na manutenção da demonstra a importância desta missão gumas horas connosco, trocávamos
na preservação da cultura nacional comunicações rádio e muitas fotos.
língua e cultura portuguesas. Este apoio e atenção, certamente tra-
No dia catorze de Novembro, o na- além fronteiras. duziram o respeito e gratidão pela pre-
Ao deixar a costa indiana e já com sença dos navios portugueses que ao
vio realizou o habitual almoço de re- longo do ano de 2009 comandaram o
tribuição de cumprimentos, que con- a monção de nordeste a impor-se, na- grupo de navios da NATO envolvido
tou com a presença dos representantes vegámos à vela e a motor em direcção no combate à pirataria e protecção da
da diplomacia portuguesa e das altas ao Corno de África. No dia vinte e um navegação.
patentes da Marinha Indiana. No ini- alcançámos o Golfo de Aden, zona do
cio da tarde do mesmo dia, teve lugar globo flagelada diariamente por acti- A saída do Golfo de Aden, marcada
a bordo uma cerimónia de entrega de vidades de pirataria. A navegação no pela transposição do Estreito de Bab el
prémios promovida pela Fundação Internationally Recommended Traffic Mandeb, foi realizada sob condições
Oriente. Nesta pequena cerimónia Corridor foi realizada sob condições
propícias à navegação à vela. Assim,
distinguiram-se os alunos goeses que adornados a estibordo e a 12 nós, sul-
cámos finalmente as águas calmas do
se destacaram na aprendizagem da Mar Vermelho. A navegação calma
entre as costas da Arábia Saudita e
língua portuguesa durante o último o Sudão, permitiram os preparativos
finais para o cumprimento dos rigo-
ano lectivo. O lanche que se seguiu rosos protocolos da autoridade do
Canal de Suez.
à entrega de diplomas constituiu
Na madrugada de dia 4 de De-
uma oportunidade ímpar dos alu- zembro aproximámo-nos do Suez e
içámos os faróis que sinalizavam o
nos e respectivas famílias trocarem pedido de embarque dos pilotos.
Os pilotos estipulados para o percur-
experiências na língua que investi- so fizeram-se acompanhar por mais
alguns funcionários, que vinham
ram em aprender. Para finalizar um preparados para vender artesanato
egípcio, montando as suas bancas
dia dedicado à diplomacia externa, o no convés. Um trajecto de aproxima-
damente nove horas, entre as duas
tombadilho foi ocupado com aproxi- margens arenosas do canal, reforça a
imensidão do esforço necessário à rea-
madamente duzentos distintos convi- A “Sagres” na Baia da Aguada. lização desta obra, que em muito re-
volucionou a navegação entre a Ásia
dados, que tiveram oportunidade de e a Europa.
deleitar com um espectáculo da in- A chegada ao Mediterrâneo foi
envolta em sentimentos antagónicos,
térprete – Sónia Sirshat, uma cantora por um lado, a sensação de entrada
em território conhecido e a proxi-
goesa que nos encantou com fados e midade do destino final da viagem;
por outro lado, a despedida de dois
mandós, a canção tradicional de Goa. companheiros de viagem, o fotógrafo
Augusto “Guta” de Carvalho e do es-
O seu sucesso antecedeu o sucesso do critor Joaquim Magalhães de Castro,
que realizaram o trânsito entre Goa e
trio português, Bacalhau à Brás, Pas- Alexandria, dinamizaram o quotidia-
no e entranharam prontamente o es-
tel de Nata e Vinho do Porto. pírito da Barca. Por tal facto, deixamos
um pequeno excerto do seu trabalho,
O calendário protocolar findou no reflectindo a sua experiência a bordo
nestas três semanas e a sua visão do
dia seguinte, com uma recepção em papel no navio, na promoção de Portu-
gal. As fotos são de Guta de Carvalho
nossa honra, oferecida pela Marinha e a crónica de Joaquim Magalhães de
Indiana. Num serão marcado pela Despedida de Goa. Castro.
intensidade da comida goesa ficou Fotos: Guta de Carvalho
demonstrado e reforçado o apoio dis- (Colaboração do COMANDO DO NRP “SAGRES”)
pensado por esta instituição à estadia 9REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2011
do navio em Goa.
Largámos no dia dezasseis. Du-
rante os preparativos da largada
fomos surpreendidos por um som
festivo que se aproximava vindo do
Zuari. Numa manifestação de indu-
bitável empatia com a cultura por-
tuguesa, a comunidade piscatória Comandante da “Sagres”, CFR Proença Mendes.
local veio acompanhar a partida da
“Sagres”. Seriam umas três dezenas propícias. Por um lado, o mar cavado
de embarcações, que transportavam não se adequava às pequenas e rápidas
algumas centenas de pessoas, muitos embarcações dos piratas. Por outro, as
vestindo a camisola da nossa selec- boas condições de visibilidade, adjuva-
ção. Enfeitadas a rigor com folhas de das pela lua cheia não ofereciam camu-
palmeira e balões verde e rubro e os- flagem aos usurpadores.
tentando orgulhosamente bandeiras
Para esta passagem sem incidentes,
de Portugal ao lado da Indiana, as em muito contribui a forte presença
embarcações acompanharam-nos ao naval da União Europeia, da NATO e
longo de algumas milhas. As pesso- de vários países asiáticos com interes-
as dançavam efusivamente ao som de ses nesta intensa rota comercial. Ao
música popular portuguesa. Por fim, longo deste percurso fomos saudados
trocámos lembranças e agradecemos por vários navios das Marinhas que
aquela manifestação de afecto, que nos patrulham estas águas. Ficavam al-