Page 27 - Revista da Armada
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As Mulheres na Marinha 3
Conversando com... RA – Aqui na costa?
RC – Fomos a Portimão e voltámos. Foi uma
1º Tenente Rita Carvalho coisa pequenina…
RA – Foi um bom “aperitivo”!
Comandante do N.R.P. “Águia” RC – Foi muito bom. Depois a partir daí, no
final de cada ano lectivo temos uma viagem
RA - O nosso objectivo tem sido conhecer RA – Presumo que sim, claro. No meu cur- de instrução em que testamos e praticamos
as motivações, as experiências e de algum so éramos catorze ao todo, só de marinha aquilo que andámos a aprender nas aulas,
modo as expectativas das mulheres na Ar- e quatro eram destinados à Aviação Na- ao longo do ano, nomeadamente a Nave-
mada… sabendo que cada caso é um caso e val que foi extinta no segundo ano. Mas gação em Águas Restritas, Costeira, Astro-
que estamos perante alguém que por algu- no curso a seguir eram já sessenta. Vocês, nómica (agora no 2.º ano), a Marinharia, os
ma razão nos foi dado entrevistar. No seu quantos eram? Regulamentos, a Organização…
caso, Senhora Tenente Rita Carvalho (RC), RA - Outras actividades?
como oficial de carreira, quando entrou RC – Participei nas equipas femininas de fu-
para a Escola Naval? tebol de cinco e de voleibol da Escola Naval
RC – Em Outubro de 2000… e da Selecção da Armada, numa ou outra
RA – Quando começa o ano lectivo! Já ti- prova de atletismo na Base, e também num
nha ligações à Marinha? Campeonato de Orientação. Com muito
RC – Sim. Havia colegas da minha mãe que prazer!
eram enfermeiros na Marinha. Eu, quando RA – Significativo! E desportos náuticos?
tinha o 10º ano pensei alistar-me mas eles RC – Sim! Integrados na Cadeira de Mari-
aconselharam-me a fazer o 12.º e concorrer nharia. Remo e vela.
à Escola Naval e foi o que eu fiz. RA – A terminar a Escola Naval, qual foi a
RA – Fez os exames de admissão… vossa viagem de “guarda-marinhas”?
RC – De matemática, fui admitida, entrei e RC – No último ano, como aspirantes, em-
gostei. Sem problemas. Gosto do que estou a barcámos em dois navios e fizemos o está-
fazer e por isso cá estou. gio a bordo de duas unidades navais dife-
RA – No momento em que entrou já não rentes. Eu, inicialmente estagiei na Lancha
era novidade a existência de raparigas na Hidrográfica «Andrómeda» e depois na
Escola mas de qualquer maneira sempre corveta «João Roby». Três meses em cada…
era um mundo diferente, militar, e onde RA – Após o Estágio?
predominavam os rapazes… RC – Já promovidos a Guarda-Marinhas
RC – Sim. Havia uma maioria de rapazes 1TEN Rita Carvalho podemos escolher o navio e eu tive a sor-
mas tive a sorte de no meu curso ter concor- RC – No início, após termos feito o Compro- te de poder continuar no mesmo
rido o maior número de raparigas até então. misso de Honra… julgo que devíamos ser navio onde estagiei, o N.R.P. “João
Vinte e uma, foi mesmo muito. Não senti- uns sessenta e tal. Roby”,exercendo as funções de Adjun-
mos qualquer tipo de problema na integra- RA – Dão sempre uma margem para chum- to do Oficial Imediato para a Gestão do
ção. Talvez por ser uma realidade. bos …Experiências de mar? Quando é que Pessoal, de Oficial Responsável pela
RA – É isso que verifico… começam? Formação, Chefe do Serviço de Opera-
RC – É igual! Tanto para um rapaz ções e de Chefe da Equipa de Vistoria.
como para uma rapariga, ambos vin- RA – Um vasto leque… já em 2005.
dos da sociedade civil é um primeiro Dos Recursos Humanos ao Direito
ano de adaptação, de aprendizagem de Marítimo, Nacional e Internacional,
novas rotinas militares. Eu não sentia passando pela área Operacional. Fize-
essa diferença. ram aquele treino de apoio a popula-
RA – A pergunta só tem cabimento ções sinistradas?
porque havia realmente rapazes que RC – Sim, por duas vezes integrado no
estranhavam o ambiente militar e aca- Plano de Treino Operacional e no Trei-
bavam por abandonar a Escola. Cinco no Assistido do N.R.P. “João Roby”.
anos em grande actividade? Foi feito na Escola de Limitação de
RC – Nós, a nível académico, temos Avarias… no Alfeite. Creio que me lembro
um horário muito sobrecarregado; de si! E posteriormente durante a participa-
Desporto, as cadeiras em si, toda a vida ção num exercício no Arq. da Madeira – o
militar, as formaturas. Também as ac- ZARCO.
tividades extra-curriculares como con- RA – Fiz, recordo-me, “Um dia com…” mas
ferências, concertos, as presenças nas Sentada no gurupés da “Sagres” que não chegou a ser publicado. Eu não me
recordo de ninguém, eram muitos e muito
outras Academias. Toda a vida curricular na RC – É logo como candidatos.
Escola Naval é muito sobrecarregada e isso, RA – Como é? 27REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2011
sim, é um bocadinho diferente das faculda- RC – Na terceira fase de selecção, durante o
des lá fora. Mas se calhar é essa vivência que concurso existe um período que é para sa-
nos faz ficar… ber se somos aptos para a vida militar num
RA – Acha que sim? embarque. Eu tive a sorte de embarcar na
RC – Eu gostei. «Sagres e foi muito agradável.