Page 29 - Revista da Armada
P. 29

RC – Foi imediata! Fiz um curso de Coman- Gratificantes, devo dizer.                     como pessoa e como profissional e, isso é
dantes e Imediatos de Unidades Navais no RC – Tem sido uma experiência simpática         o que mais marca na carreira de oficial da
CITAN, o Centro de Instrução Táctica Naval e enriquecedora. Quando aparece um novo       Armada. Evoluir e experimentar novas fun-
e fiz o embarque na «Cisne», da mesma clas- comandante, os pescadores passam logo        ções e novos cargos que noutra carreira será
se, tudo durante o mês de Junho.      a palavra. Certamente que todos já sabem           um pouco mais limitado. Fazer formação e
RA – Um tipo de preocupação que foi assu- quem é a comandante da «Águia» . Tem cor-      contribuir para uma sociedade. É muito gra-
mida em 1962, mas não ainda a esse nível. rido tudo muito bem.                           tificante.
Em Funções de Fiscalização…
RC – A missão principal é a de                                                                    RA – Não julgo que seja uma
Busca e Salvamento Marítimo mas,                                                                  questão geracional mas sinto ne-
também somos responsáveis pela                                                                    cessidade de pôr a uma jovem o
Fiscalização Marítima, tudo o que                                                                 tema do Serviço Militar Obriga-
tenha a ver com a actividade da                                                                   tório.
Pesca e das embarcações de Recreio.                                                               RC – É um bocado subjectivo. Não
Além de fazermos missões na Zona                                                                  vivi a época do SMO.O SMO fazia
Marítima do Centro, fazemos refor-                                                                uma coisa que infelizmente que
ço às Zonas Marítimas do Norte e                                                                  a sociedade está a perder. Quer a
do Sul de acordo com as necessida-                                                                gente quisesse quer não, o facto de
des.                                                                                              todos os jovens irem ao Serviço Mi-
RA - Substituem uma que falhe?                                                                    litar Obrigatório trazia valores que
RC – Habitualmente no Sul há três e                                                               lhes eram incutidos, da melhor ou
como reforço somos a quarta.                                                                      da pior forma (isso não está aqui
RA – E no Norte?                      A bordo do N.R.P. “Águia”                                   em causa) e que neste momento
                                                                                                  essa “escola” não existe e isso vai-
RC – É um patrulha…                   RA – E detectam muitas falhas?                     -se sentir nas gerações seguintes. As pessoas
RA – Tem a ver com o mar, suponho. A RC – Existem algumas, infelizmente. Mas             vão sentir falta, disso não tenho dúvidas.
guarnição é composta de quantos elemen- estamos cá para colmatar e para ensinar,         RA – Como definirias esses valores?
tos? principalmente. Depende das artes da pes-                                           RC – A responsabilidade, o respeito, prin-
RC – No total, somos oito. Um oficial que é ca, da época do ano, da zona, etc.           cipalmente o respeito mutuo pelas pessoas
o Comandante, o Mestre que é um sargento RA – Que é que poderia ser uma moti-            que é importante e que se pode vir a perder
de manobra e seis praças.             vação para um jovem que precisasse de              e que é mau para a sociedade em si. Era um
RA – Um de cada especialidade?        orientação profissional?                           Serviço à Nação, pode assim dizer-se.
RC – Um cabo e um marinheiro Conduto- RC – Uma carreira militar não é como qual-         Também, por outro lado, não concordo que
res de Máquinas, um cabo Artilheiro e um quer profissão lá fora. Tem de se ter uma de-   as pessoas que não podem ver militares,
grumete TA, a nova classe de Técnicos de dicação e uma disponibilidade para a mis-       tenham de vir para cá obrigadas. É uma
Armamento, um cabo de Comuni-                                                                     balança um bocado difícil de equi-
cações e um marinheiro Electricista.                                                              librar.
RA – Estas novas classes terão dois                                                               Talvez se pudesse encontrar uma
anos? Os Manobras são agora Ma-                                                                   alternativa e se pudesse investir
nobras e Serviços… os Condutores                                                                  nisso para que se não perdessem
Auto.                                                                                             esses valores.
RC – Aproximadamente. Isso!                                                                       RA – A pergunta que fica no ar é
RA – É a bordo o elemento mais                                                                    porque tendo uma carga horária
jovem?                                                                                            tão pesada, exigências nos exames
RC – Estou a meio da tabela. O Mes-                                                               tão rigorosas, uma progressão nos
tre tem quarenta e cinco.                                                                         estudos tão balizada, há ainda tan-
RA – Tem já algum episódio inte-                                                                  tos jovens a concorrerem à Escola
ressante?                                                                                         Naval. Será uma questão de voca-
RC – Ainda não.                                                                                   ção? De qualquer modo nos con-
RA – A inspecção das redes pode                                                                   tactos com os seus amigos fora da
ser complicado…                       A Comandante com a guarnição do N.R.P. “Águia”.             Armada, como os vê?
                                                                                         RC – Para ficar na Escola Naval é preciso
RC – Pode. Mas o que a Guarnição me diz é são que outras carreiras não exigem. Exige     gostar! Verifico que me sinto realizada e que
que os pescadores têm uma abordagem di- disponibilidade, trabalho e entrega, factores    tenho uma estabilidade que os jovens hoje
ferente ao verem que o comandante é uma que também são necessários em outras pro-        em dia dificilmente têm, apesar de ter mis-
mulher. Alguns querem perceber o porquê fissões de responsabilidade como um médi-        sões que implicam directamente com a mi-
dos nossos autos e vêm a bordo esclarecer co, um gestor..                                nha vida. Sei que no início da carreira tenho
dúvidas, até porque esta classe tem alador É preciso gostar-se do que se faz, é funda-   uma vida muito mais activa, em termos de
de artes.                             mental.                                            embarques e que, mais tarde irei continuar a
RA – Não têm poço à popa?             RA – Não me refiro aos que não têm voca-           receber formação … por patamares. É o que
RC – Não! É a classe mais antiga. De 1975. ção militar mas aos que têm alguma sim-       penso agora.
Quando vêem que é uma mulher são mais patia mas não conhecem.                            RA – Dava para conversarmos muito mais.
cuidadosos. Mas nunca tive problemas, fe- RC – O facto de ser uma carreira diferen-      Desejo que faça um bom comando e agra-
lizmente. Mostro e explico e como contra te, de termos experiências novas, de dois       decemos a sua disponibilidade.
factos não há argumentos… até ao momento em dois anos variarmos de funções, ou até
funcionou tudo bem.                   menos, e de evoluirmos em termos de for-                Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
RA – À saída da Naval vivi experiências se- mação. Eu, em cinco anos de carreira já vou                                            1TEN
melhantes mas por ser muito jovem para as na terceira função diferente e ao longo des-
funções de imediato que estava a exercer. tes anos tenho aprendido muito e evoluído           29REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2011
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34