Page 25 - Revista da Armada
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notáveis jamais realizado por forças de Ma-    nos fez recuar a Tordesilhas. A maioria das    Col. CALM Roque Martinsda Morte do Infante D. Henrique.
rinha, não só pelo grande número de países     vinte teses originárias de oito países foi da     Os trabalhos de preparação da PMC ti-
que nele participaram, mas também por ter      autoria de historiadores franceses e portu-
tido lugar no cenário maravilhoso que é a      gueses, com Jaime Cortesão, Armando Cor-       veram início em 1955, com um objectivo ex-
nossa Avenida da Liberdade numa manhã          tesão, Virgínia Rau, Ferreira David e Tei-     tremamente ambicioso: reconhecer e publicar
de sol radioso repleta de uma multidão en-     xeira da Mota. Por iniciativa deste, aprovei-  todos os especímenes remanescentes da car-
tusiástica que não se cansava de aplaudir os   tando, como já disse, o nome do historiador,   tografia portuguesa dos séculos XV e XVI,
marinheiros. Pelo menos, foi esta a opinião    as suas amizades pessoais e as suas relações   que levaram Armando Cortesão a 19 países
dos comandantes das forças estrangeiras, que   culturais, foram convidadas as figuras mais    e inúmeros arquivos e bibliotecas públicas e
não se cansaram de nos tecer os maiores                                                       privadas. Devendo-se à sua iniciativa, a obra
elogios.                                       prestigiadas e mais produtivas no que diz
                                               respeito à História das Descobertas, à Histó-       teve depois a colaboração de Avelino Tei-
   Na intervenção seguinte, o Co-              ria do Navio e à História Marítima em geral,        xeira da Mota, ao tempo já reconhecido
mandante Serra Brandão explicou                oriundas de numerosos países estrangeiros.          como um dos mais notáveis especialis-
que, por força das circunstâncias, par-        O colóquio foi um verdadeiro sucesso em to-         tas da História da Náutica Portuguesa.
ticipou na maior parte das acções co-          dos os seus aspectos e não há dúvida de que         Teixeira da Mota teria aliás um papel
memorativas do Infante D. Henrique.            foi daqui que, no pensamento de Sarmento            determinante no sentido em que nos úl-
                                               Rodrigues, nasceu a ideia da criação de um          timos volumes é seu o principal trabalho
   Logo na Escola Naval, a convite de          grupo de Estudos de História Marítima, em           de coordenação e autoria de textos: dos 74
Sarmento Rodrigues, escreveu as No-            Portugal, no âmbito da Marinha e por ela            que são de sua lavra, 25 constam do vol.
tas Navais na edição especial de “Os           organizado e que acabou por dar lugar em            IV (o volume V constituindo-se como
Lusíadas”, feita pela Escola.                  1978, à nossa Academia.                             um acrescento ao plano inicial, versando
                                                                                                   a cartografia do século XVII, e o VI res-
   Também acompanhou, com Teixei-                 Interveio a seguir o CALM Roque                  peita aos índices).
ra da Mota, a romagem dos cadetes da           Martins que dissertou sobre “A Viagem
Escola Naval a Sagres, sob o comando           de Circum-navegação do Curso D. Lou-                   A PMC foi o zénite de uma forma de
de Saturnino Monteiro. Participou na           renço de Almeida”, cujo texto será objecto          fazer a História da Cartografia que, no
organização do “Colóquio Interna-              de publicação na próxima edição da R.A.             decorrer da década de 70, seria progres-
cional de História Marítima – 1960”,                                                               sivamente posta em causa, resultando a
objecto da sua intervenção, realizado             Na última conferência do ciclo “O                publicação da monumental The History
em 14, 15 e 16 de Setembro de 1960,            Caso Excepcional Portugaliae Monu-                  of Cartography de John Brian Harley e
no Mosteiro dos Jerónimos, para tra-           menta Cartographica” o Prof. Contente               David Woodward (a partir de 1987) na
tar de “Os Aspectos Internacionais             Domingues afirmou:                                  consagração do novo paradigma da dis-
das Descobertas Oceânicas nos sécu-                                                                ciplina: sem que isso, porém, tirasse o va-
los XV e XVI”.                                    Numa época em que as expressões “pro-            lor a uma obra que ainda hoje é frequen-
                                               jecto” ou “programa de investigação” não       temente citada como um marco de referência
   Disse o Comandante Serra Brandão:           faziam ainda parte do léxico de quantos se     nas publicações da disciplina.
   O colóquio teve o alto patrocínio do Mi-    ocupavam profissionalmente da investigação        Estas breves referências não esgotam toda-
nistro da Marinha de Portugal, da Comissão     científica, delineou-se e levou-se a cabo em   via o assunto, ficando prometida a realização
Eexecutiva das Comemorações do Quinto          Portugal uma das obras mais significativas     de uma sessão futura dedicada à explanação
Centenário da Morte do Infante e foi presidi-  que se publicaram até hoje no domínio da       devida do que é e do que significou a elabora-
do pelo ALM Sarmento Rodrigues, director       cartografia histórica, prenunciando formas de  ção e publicação da Portugaliae Monumenta
da Escola Naval, e pelo ALM Lemonnier, se-     trabalho que só se vulgarizariam mais tarde:   Cartographica.
cretário perpétuo da Academia de Marinha       a publicada em 6 volumes no ano de 1960, no       Seguiu-se um curto período em que
de Paris. Os discursos de abertura foram fei-  quadro das Comemorações do V Centenário        alguns membros da assistência trouxe-
tos pelo ministro da Marinha Quintanilha                                                      ram o seu testemunho pessoal dos acon-
Mendonça Dias e pelo secretário-geral da                                                      tecimentos que viveram no âmbito das
Academia de Paris. O de encerramento cou-                                                     comemorações de 1960.
be, como era natural, a Sarmento Rodrigues.                                                      Nas suas considerações finais, depois
   O colóquio foi, na verdadeira acepção da                                                   de agradecer aos oradores pela qualida-
palavra, um acontecimento notável, que se                                                     de das intervenções, o Almirante Vieira
deveu ao prestígio internacional de Teixeira                                                  Matias salientou como à época a comu-
da Mota, à história marítima portuguesa dos                                                   nidade internacional quis homenagear
séculos XV e XVI, também internacional-                                                       com a sua presença – 26 dos 32 navios
mente conhecida, e ao tema das comemora-                                                      que participaram no Desfile Naval de
ções - uma das principais figuras da história                                                 Sagres eram de Marinhas estrangeiras –
marítima mundial.                                                                             a memória dos nossos navegadores dos
   Basta lembrar que o tema do colóquio não                                                   séculos XIV e XV.
podia ser mais adequado às comemorações de                                                       O prestígio de Portugal, onde a mariti-
uma das personagens da nossa história ma-                                                     midade está viva - disse a terminar - não
rítima com maior notoriedade internacional                                                    pode ser prejudicado pela incúria ou omissão,
e que teve um papel decisivo no lançamen-                                                     cabendo-nos a todos pugnar pela sua preser-
to da Expansão Europeia. Foi o Infante que                                                    vação.
abriu as portas que permitiram a chegada
dos Europeus a todas as partes do Mundo,                                                         Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA
tornando-o eurocêntrico até meados do sécu-
lo passado, quando a nova divisão do Mundo

                                                                                                                       25REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2011
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