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Descobrimentos Portugueses no Século XV, e As comemorações que integraram dois es- Fotos: Anais CMNChefe do Estado-Maior da Armada, Almiran-
com os subtemas: Ciência Náutica, Infante D. pectáculos militares de grande beleza: o desfile te Guerreiro de Brito, fez o sinal de: «Seguir
Henrique e Tratados Internacionais. naval em Sagres e o desfile militar na Ave- para Lisboa; actuar independentemente».
nida da Liberdade. A respeito do primeiro, a
Das Actas editadas, em 431 densas pági- que não assisti, apenas vos posso dizer o que me A respeito do desfile das forças de cadetes
nas, também hoje disponíveis, destaca-se a contaram os camaradas que o organizaram e nele e de marinheiros que teve lugar em Lisboa, na
conferência inaugural evocativa do Infante tomaram parte e aquilo que vem descrito no nú- Avenida da Liberdade, três dias depois, posso-
D. Henrique, pelo saudoso académico emérito mero especial dos Anais do Clube Militar Naval. -vos referir mais alguns detalhes uma vez que,
Jorge Borges de Macedo, e a de encerramento, por ser Comandante de Companhia da Escola
a cargo do académico efectivo Fernan- Treze Marinhas estrangeiras fizeram-se
do Carvalho Rodrigues, intitulada “A representar nas Comemorações por 28 navios Naval e ter alguma prática na maté-
Descoberta e os Descobrimentos”, num de guerra, 6 cruzadores, 18 “destroyers” ou ria, fui encarregado de organizar.
total de 26 comunicações, das quais 7 fragatas, 4 navios diversos e 9 grandes velei-
se incluíam no subtema dedicado ao ros. Com excepção de dois transportes, um O comandante das forças em para-
Infante. brasileiro e outro argentino que ficaram em da «in nomine» era o Almirante Ten-
Lisboa, todos esses navios tomaram parte no reiro, o chefe do estado-maior era o co-
Apesar de Bandung, Portugal man- desfile naval de Sagres acompanhados pelos mandante Spínola que fazia a ligação
tinha na época, no contexto das nações, navios portugueses, o aviso de 1ª classe “Bar- entre mim e o Estado Maior Naval.
uma posição que lhe permitiu dar a tolomeu Dias”, 5 fragatas e a “Sagres”. Tive como auxiliares o capitão-tenen-
desejada visibilidade externa às Come- te Bustorff Guerra e o 1º tenente Mi-
morações. Quem conhece o ambiente místico e o sim- randa Gomes.
bolismo do lugar, nesse dia 7 de Agosto or-
Assim sendo, importava trazer até nado de bandeiras e repleto de gente, poderá Tomámos a nosso cargo a organi-
nós Chefes de Estado que pela sua sig- imaginar a grandiosidade do espectáculo. zação das forças, num total de 3.800
nificativa presença representassem essa homens, com o desembarque de cerca
evidência nos diferentes Continentes. A No final do desfile, o navio-chefe, que era dos 3.000 que se encontravam a bor-
ansiosa obstinação de encontrar o len- o “Bartolomeu Dias”, em que ia embarcado o do dos navios fundeados no Tejo, com
dário Prestes João das Índias foi, deste o transporte para o Parque Eduardo
modo, consubstanciada com a visita do VII, e finalmente a movimentação das
Imperador Hailé Selassié, da Etiópia, forças para as suas unidades, o que
logo em finais de Julho de 1959. tudo foi feito em cerca de cinco horas
sem a menor falha.
Avançando para Oriente, escolheu-
-se o Estado que, no passado, tinha sido Naquele dia 10 de Agosto à hora
protagonista da celebração do primeiro exacta, já com os Presidentes do Bra-
tratado de amizade entre uma potência sil e de Portugal e demais convidados
asiática e Portugal, o reino do Sião, nas respectivas tribunas, foi feito o
após a tomada de Malaca. Suas Ma- toque de avançar e começou o desfile,
jestades o rei Bhumibol da Tailândia e que foi um espectáculo deslumbrante
a rainha Sirikit chegaram a Lisboa em de cor e movimento.
finais de Agosto de 1960.
Os cadetes da Argentina, do Bra-
A agenda sobrecarregada do Presidente sil, da Espanha e de Portugal, em nú-
Sukarno, da Indonésia, fez preceder esta mero de 536, todos de branco dos pés
sua, em Maio daquele ano, representando à cabeça, todos eles praticamente com
o espaço que mais longinquamente deman- o mesmo uniforme, abriam o desfile,
dáramos, Timor. em representação dos povos que sobre
o azul do mar, seguindo caminho do
O Brasil sempre representou a ima- Sol, ou navegando para Oriente ao
gem dum país irmão, que em extensa seu encontro, cumpriram a herança
área da América, connosco partilhava a do Infante, dando mundos novos ao
mesma língua, e mais perto estava, qui- mundo.
çá, do nosso coração. A coincidir com
as celebrações mais destacadas, tais foram o A maior parte das forças estran-
cortejo naval de Sagres e a inauguração do Pa- geiras trazia enormes bandeiras de seda que
drão dos Descobrimentos, em Belém, tivemos conservaram ondeando ao vento durante a
entre nós o Presidente Juscelino Kubitschek de marcha. Os oficiais italianos usavam vistosos
Oliveira, numa visita apoteótica que as ima- talabartes de seda azul; os espanhóis faixas
gens da época bem documentam. de ouro e grenat. Os Ingleses usavam botins
pretos envernizados. Muitas outras nações
Bem se poderia dizer, então, que estávamos usavam polainas e bandoleiras de lona branca.
orgulhosamente acompanhados!
Os fuzileiros do Brasil em vez de usarem
Concluímos com palavras de Adriano Mo- a arma ao ombro, levavam-na em bandoleira,
reira, nosso Académico Emérito: “Nenhuma portanto com os canos voltados para cima, e
Cultura pode receber o Passado, só a benefício dentro de cada um uma pequena bandeirinha
de inventário”. portuguesa de papel. As companhias brasi-
leiras pareciam canteiros de manjericos com
Seguiu-se a comunicação, “O Desfile cravos, deslocando-se majestosamente pela
Naval de Sagres e a Parada na Avenida Avenida da Liberdade.
da Liberdade”, tendo o seu autor, Coman-
dante Saturnino Monteiro dito: Creio que este desfile terá sido um dos mais
24 MARÇO 2011 • REVISTA DA ARMADA