Page 13 - Revista da Armada
P. 13

NRP Sagres, o NRP D. Francisco de Almeida, o      obra do Japonês Eiji Suzuki, “Three Spectacles
NRP Almirante Gago Coutinho, NRP Viana do         for Navy Blue”, escrita para a comemoração
Castelo, NRP Dragão e NRP Escorpião. Estes na-    dos 50 anos da banda da Força Naval de Sa-
vios estiveram abertos a visitas durante toda     sebo. O Japão é um país onde a paisagem as-
a semana e as lanchas proporcionaram bap-         sume um papel determinante na vida pública,
tismos de mar a quem se quis aventurar num        ao ponto de ter sido integrada na simbologia
pequeno passeio pelo estuário. 14 864 pessoas     nacional (as cerejeiras em flor são como uma
visitaram os navios da nossa Armada, e 1058       bandeira nipónica). E a paisagem japonesa vive
fizeram o seu baptismo de mar nas lanchas         a harmonia das modulações ao longo do dia e
"Dragão" e "Escorpião". Deve acrescentar-se       do ano, de estação em estação, como se a luz e a
que esta abertura da Marinha ao público, tam-     cor fossem peças de uma obra musical, de que
bém ocorreu noutros portos da Zona Maríti-        esta peça é um exemplo perfeito. Por fim uma
ma do Sul, do Norte, da Madeira e dos Açores,     composição que já se popularizou por todo
com grande afluência de curiosos que querem       o mundo, e que agrada sempre aos amantes
ver e perceber como vivem e trabalham a bor-      da música hispano-americana. Refiro-me ao
do os nossos marinheiros.                         “Danzon nº 2”, de Arturo Marquez, onde se
                                                  destacou a actuação do clarinete do SCH Rui
OS CONCERTOS DA BANDA                             Menino e a flauta da 1SAR Ana Barbosa, fe-
   Os concertos da Banda da Armada são            chando a primeira parte.

sempre momentos altos das comemorações               Após o intervalo esperava-nos outro tipo de
do Dia da Marinha. E este ano tinha um sen-       espectáculo, mais ligeiro e mais virado para a
tido especial, uma vez que o novo maestro,        própria cidade de Setúbal, com a actuação da
1TEN Délio Coelho Gonçalves, fazia a sua          artista setubalense Sofia Vitória, cujas qualida-
estreia no evento onde a actuação da banda se     des vocais e de interpretação merecem uma
torna mais visível, quer para a Marinha quer      particular referência. A banda começou a sua
para o país. E a primeira actuação teve lugar na  apresentação com o tema de “Riverdance”,
noite de 20 de Maio, com um excelente concer-     arranjado por Gert Buitenhuis, peça que está
to realizado no auditório José Afonso, a que as-  em digressão mundial há vários anos, passou
sistiram cerca de 2000 pessoas. O espectáculo     por Pequim em 2010, com grande sucesso, e
contou com a participação do Coral Infantil de    percorre agora os Estados Unidos e Canadá. A
Setúbal, interpretando excertos de Sebastião      actuação de Sofia Vitória só viria com a segun-
da Gama, o poeta da Arrábida, numa com-           da música, num trecho da Ópera do Malandro,
posição da autoria do 1MAR Samuel Pascoal,        de Chico Buarque, que foi popularizado pela
especialmente concebida para o grupo.             voz de Elba Ramalho. De seguida o 1SAR Riso
                                                  surpreendeu-nos ao interpretar com a Sofia a
   O programa das comemorações – como             obra “O Mare e tu”, tema conhecido pela in-
vem sendo costume – envolvia também um            terpretação de duas vozes de ouro, como são
concerto oficial, com um carácter mais solene     Dulce Pontes e o tenor Andrea Bocelli, neste
e um programa cuidado que normalmente             caso com um arranjo sábio do 1MAR Samuel
é a referência da actuação da Banda da Ar-        Pascoal. Contudo, o momento culminante de
mada em cada ano. O espectáculo teve lugar        toda a segunda parte foi (reconhecidamente) a
na noite do dia 21, no Casino de Tróia, e foi     execução de “Porto Covo”, com arranjo de Jor-
programado com duas partes distintas: a pri-      ge Salgueiro. É uma das mais belas canções de
meira com um pendor erudito e clássico; e a       Rui Veloso e Carlos Tê, e a voz do artista ausen-
segunda mais ligeira, onde participou a artis-    te fez-se representar pelo “cantar” sublime do
ta setubalense, Sofia Vitória.                    trombone de varas do CAB Luís Cunha. De-
                                                  pois de “Amor a Portugal”, de Dulce Pontes,
   Abriu com a apresentação do final do 4º an-    e “Os Índios da Meia Praia”, de Zeca Afonso,
damento da 5ª sinfonia de Dimitri Shostakovi-     o concerto terminava com a “Canção do Mar”,
ch: um compositor russo nascido no princípio      de Ferrer Trindade: um notável compositor
do século XX, que a revolução surpreendeu         setubalense que começou a sua vida artística
ainda criança, vivendo os mais significativos     na Marinha e na Banda da Armada, falecido
momentos de que foi protagonista a ex-União       em 1999, com uma vastíssima obra na música
Soviética, até ao seu desmoronamento. Leo-        ligeira portuguesa, de que esta canção é uma
nard Bernstein interpretou esta sinfonia em       verdadeira pérola. Foi talvez o momento em
Moscovo, com a New York Philharmonic              que mais se evidenciaram as qualidades da voz
Orchestra, em 1959, gravando-a pouco tempo        de Sofia Vitória, na interpretação de um tema
depois e transformando-a numa referência da       que foi cantado por Amália Rodrigues, Dulce
cultura musical do ocidente, cujo trecho abriu
muito bem este espectáculo. Prosseguiu com a

                                                  13REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2011
   8   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18