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CAPITÃO-DE-FRAGATA
JOÃO FIEL STOCKLER
O2º Tenente Stockler pertenceu a “Duque de Palmela”, fundeada nas Quatro No dia 3 de Outubro de 1910, em Faro, o
um grupo de oficiais da Armada Águas, frente à cidade de Faro. 1º tenente Stockler, promovido a este posto
participantes do 5 de Outubro de em Julho, recebeu um telegrama do Almi-
De salientar que durante os 13 anos que rante Cândido dos Reis chamando-o a Lis-
boa para a Revolução. Partiu então para a
1910 cuja acção, embora fundamental para tinham decorrido desde a sua promoção a Escola de Torpedos e Electricidade, em Vale
de Zebro, base dos navios torpedeiros que,
o êxito do movimento revolucionário que guarda-marinha, o tenente Stockler havia- caso não aderissem ao Movimento, consti-
tuiriam uma grave ameaça para os cruzado-
implantou a República em Portugal, foi dis- -se mantido permanentemente embarca-
res que em Lisboa se tinham revoltado.
creta e por isso pouco divulgada. do exceptuando, conforme citado, apenas Na manhã do dia 4, recém chega-
Nascido em Lisboa, a 7 de Setembro de os quatro meses, em 1899, de serviço no do ao Algarve, ficou preso em Vale
de Zebro quando tentava subverter a
1878, João Fiel Stockler ingressou na Escola Corpo de Marinheiros. guarnição da Escola.
Naval como aspirante de Marinha em Sobre o que depois aconteceu repro-
duz-se seguidamente um extracto do Re-
Outubro de 1892. latório de Machado dos Santos:
Promovido três anos depois a guarda- Quando o tenente Stockler foi feito prisio-
neiro, Carlos Freitas (2º artífice torpedeiro)
-marinha, embarcou na corveta “Duque estava a bordo dum torpedeiro. Vindo á escola,
poz-se immediatamente ás ordens do intrépido
de Terceira” tendo, em 1896, após a via- official; este perguntou-lhe: Então esta gente não
se revolta? – Carlos Freitas respondeu: Já se vae
gem de fim do curso em que visitou portos tratar d’isso, se assim o ordenar.
do Mediterrâneo, as Canárias e Cabo Ver- Quando Stockler achou o momento oppor-
tuno, Carlos Freitas mandou tocar a unir, for-
de, passado à Divisão Naval do Índico. mando as praças da escola e o destacamento do
Pêro d’Alenquer. O tenente Pinheiro Chagas
Iniciou então um período, quase inin- tentou dividir a força, mas o capitão de mar e
guerra Almeida Lima, director da escola, disse
terrupto, de cerca de uma década em que que não queria que se matassem uns aos outros
e que se alguem tinha de morrer que fosse elle o
prestou serviço em Moçambique. Embar- sacrificado. Em seguida o nobre velho conside-
rou-se prisioneiro do tenente Stockler.
cou na corveta “Afonso de Albuquerque”,
Insistindo Pinheiro Chagas em extremar os
seguindo-se os seus primeiros comandos: campos, o tenente Pato, commandante do des-
tacamento do Pêro, disse que os seus marinheiros
as lancha-canhoneiras “Serpa Pinto” e acompanhavam os revoltosos, e, dando o exemplo,
poz-se ao lado do tenente Stockler.
“Lacerda” da Esquadrilha de Lanchas de Mais tarde: ordenando o tenente Stockler a
occupação dos torpedeiros; estes levando Stockler e
Gaza. Entretanto, tinha sido promovido a
Pato vieram fundear em frente de Lisboa
2º tenente em Julho de 1898 e em Abril do entre os cruzadores Adamastor e S. Ra-
phael seria meio-dia e meia hora de 5 de
ano seguinte regressou a Lisboa por um Outubro.
breve período, de Agosto a Novembro, du- Estava neutralizado o perigo
que até então tinha pairado so-
rante o qual foi Comandante Interino das bre os cruzadores. A Marinha
encontrava-se unida e a implan-
4ª e 5ª Brigadas do Corpo de Marinheiros. tação da República consumada!
Retornou a Moçambique embarcando Em 11 de Outubro foi nomeado
Comandante do iate “Amélia”, re-
na sua já conhecida corveta “Afonso de gressado a Lisboa na véspera, após
ter transportado a Família Real para
Albuquerque”, na canhoneira “Liberal” Gibraltar. O “Amélia” que até à
data tinha estado ao serviço régio e
e no cruzador “S. Rafael”, depois, a par- durante o reinado de D. Carlos utilizado em
trabalhos oceanográficos passou, em Setem-
tir de Setembro de 1901, comandou as bro de 1911, a ser classificado de aviso, sob o
nome de “5 de Outubro”, desempenhando
lanchas-canhoneiras “Obuz” e “Granada” 2ºTenente .
e finalmente o vapor “Baptista de Andra-
de”, comando que exerceu durante dois anos Enquanto no Algarve a vida na Esco-
tendo merecido do Comandante da Divisão la de Alunos decorria rotineiramente, em
Naval do Índico um louvor que parte a seguir Lisboa as convulsões políticas sucediam-
se transcreve: -se. Desde 1890 com o Ultimato Inglês e
“louvado pela sua corajosa e disci-
plinada dedicação e pelo seu trabalho
persistente e extenuante durante os dias
que o navio esteve sob a acção da mo-
nomocaia (tipo de tufão que assola
Moçambique) que o assaltou em 19 de
Fevereiro. Em Dezembro de 1906 foi-
-lhe dada por finda a comissão em
Moçambique tendo regressado a
Lisboa em Fevereiro de 1907.
No Continente embarcou na
canhoneira-torpedeira “Tejo”, in-
tegrada na Divisão Naval de Ins-
trução e depois na canhoneira “La- Lancha-canhoneira "Granada".
gos”, da Esquadrilha de Lanchas
de Fiscalização da Pesca do Algarve. Em mais tarde, após o regicídio de 1908, os
Outubro de 1908 passou a prestar serviço republicanos, iam aumentando a sua in-
como instrutor da Escola de Alunos Mari- fluência. O fim do regime monárquico
nheiros do Sul, instalada a bordo da corveta aproximava-se do seu termo!
24 JULHO 2011 • REVISTA DA ARMADA