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O Palácio Real do Alfeite

Mil seiscentos e noventa, data do              Real colocado no extremo do antigo aquedu­       (teriam as plantas seguido para o Brasil quando
           contrato entre a Casa do Infantado  to de distribuição de água, a base para a atri­  a família real se deslocou?), cremos que o projec-
           e o Conde de Tarouca, João Gomes    buição da data.                                  to se possa atribuir a Mateus Vicente, como é de
da Silva, o qual integra as Quintas do Alfei­ Os documentos da transacção entre o Con­          tradição. (…).” 2
te, desde a Ponta dos Corvos ao Outeiro, na de de Tarouca e a Casa do Infantado, refe­
Casa do Infantado, Instituição criada sob a rem a necessidade de grandes obras: “ (…)             O Arquitecto Mateus Vicente de Oliveira
égide D. João V, por decreto de 1654, peran­ dito conde era possuidor de uma quinta chamada     teve a difícil missão de compor o edifício, con­
te a necessidade de assegurar a permanên­ de Alfeite do termo da vila de Almada, …, porém       ferindo-lhe um carácter mais formal e austero,
cia do filho segundo no reino. A partir deste que a dita quinta lhe custava muito a fabricar e  equilibrando as duas vertentes real/rural, e
momento, o Alfeite deixa de ser uma pro­ reparar e necessitavam as casa dele de grandes         acima de tudo, criando maior conforto e ha­
priedade rural nobre, para se transformar consertos (…).” 1                                     bitabilidade no seu interior.
numa do Infante e da
Família Real, crescendo                                                                           Com a extinção da Casa do Infantado e con­
em riqueza e dimensão.                                                                                                 sequente transferência
À data da extinção da                                                                                                  para a Casa Real, o “Pa­
Casa do Infantado, atra­                                                                                               lácio Real do Alfeite” é
vés do decreto de D. Pe­                                                                                               alvo de nova campanha.
dro IV de 18 de Março                                                                                                     Segundo o Archiv­o
de 1834, o Alfeite com­                                                                                                Pitoresco: “(…) Sua
preendia as Quintas do                                                                                                 Ma­ gestade El-Rei o Se-
Alfeite, da Piedade, do                                                                                                nhor D. Pedro V acab­a
Outeiro, da Romeira, do                                                                                                de mandar construir
Antelmo, da Quintinha                                                                                                  n’aquella quinta uma
e da Bomba, e incluía                                                                                                  nova residência, mais
os pinhais de Corroios                                                                                                 confortável e elegante do
e do Cabral na margem                                                                                                  que o antigo real casarão,
do Rio Judeu e os moi­                                                                                                 escoltado de pontales, que
nhos do Galvão, da Pas­                                                                                                lá havia. È architecto da
sagem, do Capitão e da                                                                                                 obra, o da casa real, Joa-
Torre. Todos os bens da                                                                                                quim Possidónio Narciso
Casa do Infantado fo­                                                                                                  da Silva (…).” 3
ram transferidos, com                                                                                                     Foi efectivamente o
excepção dos Palácios     Planta das Sete Quintas do Real Sítio do Alfeite, 1849.                                      Arquitecto Oficial da
                                                                                                                       Casa Real, Joaquim
de Queluz, Bemposta,                                                                                                   Possidónio Narciso da
Caxias, Samora Cor­                                                                                                    Silva, quem supervi­
reia, Monteira e Alfei­                                                                                                sionou esta campanha
te, que permaneceram                                                                                                   de obras, e que definiu
para usufruto da Corte,                                                                                                o projecto assente nas
para a administração da                                                                                                premissas de sobrieda­
Casa Real.                                                                                                             de, simetria, harmonia
Contudo, foi o adven­                                                                                                  e simplicidade. Nesta
to da República, em                                                                                                    campanha, o esqueleto
1910, que mudou, subs­                                                                                                 do edifício foi quase to­
tancialmente, o rumo do                                                                                                talmente mantido, em­
Palácio Real doAlfeite e                                                                                               bora o arquitecto tenha
das suas propriedades,                                                                                                 optado por fazer crescer
com a implementação                                                                                                    o edifício para as trasei­
de um grandioso pro­ Real Quinta – Residência do Alfeite, 1851.                                                        ras, o que implicou a
jecto, a transferência do                                                                                              transformação dos es­
Arsenal da Marinha da Ribeira das Naus para Estamos perante um edifício de dois pisos,                                 paços internos. É um
a margem sul do Tejo, após 1918.               com capela interior e separação dos com­
São estes três grandes marcos na história do partimentos interiores entre zona íntima e         edifício constituído por três corpos, sendo o
“Palácio Real doAlfeite”, a integração na Casa serviçal. A propriedade dispunha, ainda, de      central marcado pela horizontalidade do con­
do Infantado, a transferência para a Casa Real um conjunto de estruturas auxiliares como a      junto, e rematado por dois torreões simétricos
e a posse por parte da Marinha, determinam adega, celeiros, estábulos, arrumos para as          salientes. Na fachada principal, destaca-se a
as três campanhas de obras de remodelação. alfaias agrícolas e habitações para o capataz        entrada central, enquadrada num semicírcu­
Apósaintegraçãodo“PalácioRealdoAlfei­ e trabalhadores.                                          lo, que constitui um varandim resguardado
te” na Casa do Infantado, D. Pedro III manda Não encontrámos referências do arquitec­           por um balcão gradeado, ao qual se tem aces­
transformar a casa senhorial rural num pala­ to responsável pelas obras, mas sabemos que,       so pelo nível do andar nobre. Exteriormente,
cete condigno da condição dos seus proprie­ ao tempo, o arquitecto da Sereníssima Casa          o edifício de dois pisos apresenta um minu­
tários, provavelmente, em 1758. De facto, não e Estado do Infantado era Mateus Vicente          cioso trabalho em cantaria.
conseguimos descobrir documentação que de Oliveira.
comprove a data da intervenção e tem sido “ (…) Por conseguinte, embora não tenha-                As intervenções correspondentes ao Século
a inscrição de 1758 feita num brasão da Casa mos encontrado qualquer planta do palácio, …       XX são preconizadas, na sua grande maioria,
                                                                                                pela Junta Autónoma para a construção do
                                                                                                Arsenal do Alfeite e pela CANIFA, visando
                                                                                                exclusivamente o interior do edifício.

18 FEVEREIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA
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