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nização para melhor preparar os futuros officiaes encarrega-me de solicitar de Vossa Excelência que os objetivos traçados para a Conferên-
inferiores da Armada», tendo, no final do mês, o Ministro dos Negócios Estrangeiros que o cia de Paz iriam ficar muito aquém das ex-
transitado para o aviso 5 de Outubro, onde capitão-tenente Alfredo Botelho de Sousa seja pectativas, uma vez que a redistribuição
permaneceu como oficial de guarnição até conservado na Delegação Portuguesa da Con- dos navios alemães, que haviam sido apre-
abril de 1915. Terminada esta comissão se- ferência de Paz, como delegado técnico nos as- sados nos portos nacionais em 1916, quan-
guiu para Ponta Delgada, onde assumiu a suntos que interessam às marinhas de guerra e do a Alemanha declarou guerra a Portugal,
chefia do Observatório Meteorológico local, mercante, atendendo à sua reconhecida compe- não ia ao encontro dos legítimos interesses
elemento-chave no fornecimento de infor- tência, estudos e interesses que tem tomado pelas do país. Com efeito, a concorrência e a forte
mação meteorológica à
navegação norte-ame- posição de países comoRevista da Armada
ricana e inglesa, que ze- a Bélgica, a Grécia, a Po-
losamente sonegava aos lónia e a Roménia, vie-
alemães. Com a entrada ram deitar por terra as
de Portugal na guerra, aspirações nacionais. É
o primeiro-tenente Bo- neste sentido que Bo-
telho de Sousa solicitou telho de Sousa redige o
a exoneração daque- exaustivo Memorandum
las funções, o que veio sobre a Marinha Mercan-
a ocorrer em finais de te, preconizando a rele-
1916. Embarcou então vância do comércio ma-
no cruzador S. Gabriel, rítimo no contexto do
entre 5 de janeiro e 27 de poder naval, dando cor-
setembro de 1917, que po às ideias de Mahan.
deixou para assumir o Em 1921, desiludido
comando do vapor Al- com os resultados que
mirante Paço d’Arcos, inviabilizaram a possi-
efetuando, até ao final bilidade de refazer a es-
de março do ano se- quadra nacional com as
guinte, um total de «10 reparações devidas aos
campanhas e comboios de O contratorpedeiro Lima. vencedores da Guerra,
abandonou a delega-
guerra», incluindo o transporte de tropas de coisas da Marinha do nosso País, rogando mais ção portuguesa ainda antes da assinatura
Lisboa para a Flandres. Pela relevância da para que Sua Excelência o Ministro dos Negó- do Tratado de Versalhes.
sua ação, foi agraciado com o grau de cava- cios Estrangeiros recomende, com o maior em- No entender do historiador António Telo2,
leiro da Ordem Militar da Torre e Espada, penho, aos delegados portugueses, que prestem por esta altura Botelho de Sousa «é um autor
do Valor, Lealdade e Mérito. todo o apoio às suas propostas». que produz obra sólida, a única ao nível de Pereira
Promovido a capitão-tenente a 25 de Na Conferência de Paz, competia-lhe de- da Silva […] é também um mahanista convicto,
Abril de 1918, exerceu, durante cinco me- fender «a execução do Programa Mínimo do que condena o conceito de esquadra fortaleza».
ses, o Comando Central de Defesa Maríti- Estado Maior Naval», no sentido de prosse- Para ele, «os Açores têm um especial significa-
ma, que acumulou com o cargo de auxi- guir a reestruturação e reequipamento da do em qualquer conflito que envolva o Atlântico,
liar do Chefe da Missão Hidrográfica da Armada, à custa das compensações devidas [pela importância de] operar no triângulo es-
Costa de Portugal. Fruto do seu prestígio pelos aliados e pela Alemanha ao esforço de tratégico português».
na área das relações in-
ternacionais, foi entre- Concluída a sua parti-Arquivo Histórico da Marinha
tanto requisitado pelo cipação na Conferência
Ministério dos Negó- de Paz, optou por abra-
cios Estrangeiros para çar a carreira docente no
participar na Conferên- ensino militar. Foi no-
cia de Paz que decorreu meado lente da 11.ª ca-
em Versalhes. Era um deira (Arte Militar Ma-
dos quatro militares que rítima) da Escola Naval,
integravam aquela de- onde lecionou até 1934,
legação – e o único de e, em 1922, professor da
Marinha – inicialmen- 36.ª cadeira (Material e
te chefiada por Egas Operações Navais) da
Moniz (1874-1955). Na Escola Militar, funções
sequência das mudan- que exerceu até 1937.
ças políticas entretanto Nesta última, foi in-
ocorridas em Portugal, cumbido de organizar
Egas Moniz acabou por a homenagem a Gago
ser substituído na chefia O cruzador-auxiliar Gil Eannes. Coutinho (1869-1959) e
Sacadura Cabral (1881-
da delegação portuguesa, tendo-se regista- guerra português. Por essa altura, acredi- 1922), pela façanha realizada na travessia
do algumas tentativas para afastar o Capi- tava-se que tal seria possível, uma vez que aérea do Atlântico Sul. Resta acrescentar
tão-tenente Botelho de Sousa. No entanto, a as principais potências vencedoras dispu- que nesse ano integrou ainda a comissão
Armada reiterou-lhe toda a confiança, razão nham de excesso de navios, pelo que não encarregada de elaborar o projeto de reor-
que explica o facto de ter sido um dos pou- estariam interessadas em adquirir mais ao ganização do Ministério da Marinha.
cos a manter-se em funções, doravante com abrigo das reparações de guerra que lhes Por esta altura, o seu prestígio na áreas
poderes reforçados, como se depreende do eram devidas. No entanto, atendendo à da estratégia militar, da política interna-
ofício que abaixo se transcreve: fraca posição negocial portuguesa, cedo o cional e da história extravasava já o círcu-
«Sua Excelência o Ministro da Marinha Capitão-tenente Botelho de Sousa percebeu lo castrense e nacional, razão pela qual era
14 FEVEREIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA