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A DIPLOMACIA NAVAL
Diz-se, e é verdade, que as For- não submarinos, meios aéreos e forças Foto CFR António Gonçalvescançar os objetivos, progredindo centenas
ças Armadas em tempo de paz de desembarque. Aproxima-se de terra de milhas por dia.
preparam-se para a guerra. Mas ou mantém-se afastada. Faz exercícios e
esta não é a verdade toda, e, para as Ma- de que tipo. Envolve-se ou não em provo- • Projeção de força em terra, quer dizer
rinhas, nem sequer chega a ser meia ver- cações. Que áreas pode controlar. A lista que podem projetar poder a grande dis-
dade, porque as Marinhas têm muitas ou- poderia continuar, mas os exemplos são tância das bases, não só através das armas
tras tarefas a desempenhar em situações suficientes para ilustrar uma diversidade próprias, com também pelo desembarque
aquém da guerra. de mensagens. de forças de fuzileiros ou outras. O bi-
nómio navios /fuzileiros sai valorizado.
É sabido que uma das funções prin- A diplomacia naval pode ser o instru-
cipais das Marinhas com componentes mento para um conjunto alargado de pre- • Liberdade de ação; face à liberdade
oceânicas é o apoio à política externa dos tensões políticas, tais como: de movimentação no mar, podem aproxi-
respetivos Estados. mar-se de regiões costeiras sem violar a lei
- Aumentar a capacidade de negociação internacional e sem comprometimentos,
A política externa é constituída por um - Apoiar aliados ou outros Estados em cerca de 2/3 do mundo.
conjunto de linhas de ação política desen- - Disputar influências nas alianças ou
volvidas fora das fronteiras territoriais de organizações internacionais • Autonomia, na medida em que os na-
um Estado e que têm como finalidade a - Projetar uma imagem favorável no vios maiores são auto-suficientes e podem
defesa e a realização dos seus interesses, exterior manter as suas capacidades por longos
através da concretização dos objetivos, - Demonstrar interesse em aconteci- períodos. A utilização de navios reabas-
definidos num pro- mentos de certas regiões, de modo posi- tecedores e de apoio pode incrementar a
grama de governo1. tivo ou negativo
- Prestar assistência naval pacifica. permanência na zona
A diplomacia, faz As forças navais possuem um conjun- de operações para
parte dos instru- to de aptidões que as torna especialmente muitos meses.
mentos pacíficos adequadas para o exercício na diploma-
da política externa, cia, no contexto que se vem descrevendo. • Simbolismo, por-
corporizando o rela- A utilização de forças terrestres ou aéreas que os navios de
cionamento normal implica normalmente uma escalada do guerra representam
entre os Estados. To- conflito, em função da conexão imediata os respetivos países
davia, pode assumir com o território. De facto, as forças ter- e constituem territó-
aspetos relativamen- restres e aéreas, pela forma de atuação, rio nacional em qual-
te coercivos, sem em- ou violam a soberania sobre o território quer parte do mundo,
prego efetivo da for- de outrem, ou provocam alarme pela sua arvorando bandeira
ça. Estão neste caso as concentração nas proximidades. e estando sujeitos à
ameaças, a dissuasão, Das aptidões específicas das forças na- disciplina militar, es-
a exibição ou a suges- vais no quadro da diplomacia, que são tando o seu compor-
tão da força. bastantes, podemos salientar as seguintes: tamento limitado por
• Versatilidade, que significa a adap- regras de empenha-
Podemos deduzir tação fácil a qualquer tipo de tarefa, sem mento definidas em
que a diplomacia na- necessidade de se reorganizarem (evento vários escalões de au-
val corresponde ao social, ajuda, influência, coação…) toridade do Estado,
conjunto de funções • Mobilidade, ou seja, a capacidade de consoante os casos.
exercidas por forças movimentação e concentração de forças,
navais tendo em vista o apoio às ações da a fim de atingir a melhor posição para al- O exercício concre-
política externa do Estado, mas excluindo to da diplomacia na-
o conflito armado. Nestas circunstâncias, val assume as mais variadas e sofistica-
não estão incluídas, em princípio, a fisca- das ações, sendo bem conhecidas, na sua
lização e controlo de águas jurisdicionais, maior parte. Indicam-se a seguir as mais
já que estas não se enquadram na política frequentes.
externa do Estado. A presença naval é talvez a mais co-
mum das aplicações. Pode ter muitos sig-
Quais são os objetivos gerais da diplo- nificados desde o apoio a compromissos
macia naval? até exatamente o contrário. O empenha-
mento em algo ou a associação a alianças
Fundamentalmente, procura influen- ou coligações são expressões vulgares da
ciar outros governos, utilizando meios na- presença.
vais, sem intenção ou previsão de iniciar As demonstrações de força têm graus
um conflito armado. Pretende-se assim de visibilidade que vão desde a simples
obter respostas desejadas de outro Estado, ostentação de capacidades até aos inci-
sem aplicação efetiva da força. dentes de pequena monta, podendo atin-
gir o nível de dissuasão nuclear.
De facto, a diplomacia naval utiliza um As ações com um propósito específi-
conjunto de subtilezas que correspondem co, dependem da situação concreta, mas
a sinais propositadamente feitos para apresentam graus de intensidade que co-
transmitir uma determinada mensagem meçam na ação humanitária, passam pe-
que deve ser entendida pelo destinatário. las operações de apoio à paz e acabam no
envolvimento das crises.
Os diferentes significados podem ser As operações de recolha de informa-
dados pela dimensão e comportamento ções estão sempre presentes em qualquer
das forças navais empregues. Um sim- ação de diplomacia naval, mas podem
ples navio ou uma grande força naval.
Qual a composição da força. Inclui ou
4 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA