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COMANDAR A SAGRES
            50 ANOS DEPOIS
Onavio-escola Sagres – grande herdeiro dos princípios cultivados pelo Infante
         D. Henrique na mítica Escola da Sagres – é muito justamente considerado o
         navio mais simbólico da Marinha Portuguesa e, mesmo, de Portugal. Todavia,
esta lenda que se foi formando em torno da Sagres não apareceu de forma espon-
tânea, antes foi crescendo na exacta medida dos feitos do navio e das sucessivas
guarnições, no cumprimento das suas três principais missões: como Escola de Mar
(formando os cadetes da Escola Naval), como Embaixador Itinerante (levando a
bandeira de Portugal e as cruzes de Cristo aos quatro cantos do Mundo e
aos portugueses da diáspora) e como promotor da maritimidade (aproxi-
mando os portugueses do Mar e recordando-lhes a sua história marítima).
Relembro, por isso, alguns dos feitos do navio, nestes primeiros 50 anos
que leva com a bandeira portuguesa:
- 6267 dias de missão fora da BNL – correspondentes a mais de 17 anos
em missão;
- 93 885 horas de navegação – correspondentes a 10,7 anos ininter-
ruptamente a navegar;
- Cerca de 580 540 milhas navegadas – equivalentes a 26,8 voltas
ao Mundo;
- 60 países estrangeiros visitados;
- 166 portos estrangeiros visitados pelo menos uma vez.
Estes números ajudaram a construir a lenda em que se tornou o
navio-escola Sagres, que muito deve à dedicação, ao esforço e à
abnegação de um conjunto extraordinário de comandantes – em
que nunca é demais destacar o lugar cimeiro ocupado pelo, agora
saudoso, Vice-almirante Henrique da Silva Horta – e de sucessi-
vas guarnições de oficiais, sargentos e praças que souberam hon-
rar o navio e o legado dos seus antecessores, dando-lhe o melhor
de si. É por isso que, comandar o navio-escola Sagres – 50 anos
após ter sido integrado na Marinha Portuguesa e colocado ao ser-
viço de Portugal – é, ao mesmo tempo, uma tarefa fácil e difícil.
Fácil, pelo legado, material e imaterial, deixado pelas suas
guarnições, que foram cimentando o prestígio do navio, missão
após missão. Um legado caracterizado pelo talent de bien faire,
que era justamente a divisa do Infante D. Henrique, patrono
do navio e com toda a propriedade a sua figura de proa.
Difícil, pelo ónus desse mesmo legado, que reivin-
dica uma dedicação constante no sentido de preser-
var e, simultaneamente, engrandecer essa mesma he-
rança, material e imaterial. Isso faz com que o distintivo
de comando do Comandante do NRP Sagres seja, segu-
ramente, dos que mais pesam em toda a nossa Marinha!
Comandar a Sagres é, por conseguinte, receber um dos
símbolos de Portugal e ser capaz de o legar, algum tempo
depois, desejavelmente mais valorizado e mais engrandeci-
do, HONRANDO SEMPRE A PÁTRIA QUE NOS CONTEMPLA
– pois todos os comandantes passam, mas a Sagres há-de perdurar –
para sempre!
                                                                   
                                     Nuno Sardinha Monteiro
                                     Comandante do NRP Sagres

6 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA
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