Page 27 - Revista da Armada
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dição para o desenvolvimento econó- desde 1956 – altura em que a Shell         zadas na região do Golfo da Guiné,
mico na região, é de todas estas or- descobriu petróleo no Oloibiri, no        admitindo-se que em território nige-
ganizações aquela cujo mandato lhe delta do rio Níger, e que transformou       riano possam existir entre 5,6 e 7 mi-
confere especial abertura para poder a Nigéria num dos maiores produto-        lhões de armas em circulação.
tratar especificamente das questões res de petróleo do mundo – encaixar
marítimas. Antes da conferência mi- largos milhões de dólares, tem sido         A presença de tantos fatores de des-
nisterial, a CGG reuniu-se em Luan- também o principal responsável pela        tabilização no território nigeriano
da, de 27 a 29 de novembro de 2012, grande pobreza entre as suas gentes.       contribuíram de forma significati-
tendo sido assinada então uma decla- Devido à corrupção e má gestão exis-      va para o crescimento de um gran-
ração para a paz e segurança na re- tente apenas uma pequena minoria           de número de atividades ilegais,
gião do Golfo da Guiné, na qual foi tem tirado proveito dessas receitas,       como a pirataria marítima, o roubo
vertida a necessidade da existência de o que tem feito aumentar cada vez       de petróleo dos pipelines, o tráfico
diálogos interestaduais e de uma coo- mais as tensões sociais. O governo       de combustível e a pesca predatória
peração regional.        deste país tem-se empenhado, nos                      (que tem trazido graves consequên-
Por outro lado,                                                                cias para os pescadores artesanais da
a CEEAC tem-se
mostrado disponí-                                                                                      região e para os
vel para colaborar                                                                                     stocks de peixe),
com os Estados                                                                                         entre outras.
deste Golfo no sen-
tido de estabelecer                                                                                     Desde o início
uma estratégia de                                                                                      deste século, as
segurança marí-                                                                                        águas da Nigéria,
tima e de apoiá-                                                                                       principalmente na
-los na melhoria                                                                                       região do delta do
das suas marinhas                                                                                      rio Níger, vêm a
e na organização                                                                                       registar um núme-
de alguns exercí-                                                                                      ro considerável de
cios conjuntos por                                                                                     atos de pirataria.
forma a poderem                                                                                        O ano de 2007,
fazer face a esta                                                                                      com 42 ilícitos
nova realidade nas   Nigéria – Ataques ou tentativa destes entre 2000 e 2012.                          deste género, foi
                                                                                                       o pior dos últimos
suas costas. Para efetivar este desidera- últimos anos, a tentar reformar uma                          anos. Entre 2009
to cada Estado-Membro da CEEAC irá economia baseada no petróleo – que                                  e 2011 houve uma
contribuir para os grupos de vigilância representa 80% das suas receitas –     redução do número de atos de pira-
marítima com homens e equipamento. assim como a amenizar um conjun-            taria nesta região, provavelmente de-
Apesar de todas estas iniciativas to de tensões étnicas – existem mais         vido ao processo de amnistia então a
para combater a criminalidade marí- de 250 grupos étnicos – e religiosas       decorrer entre o Governo e os grupos
tima, existem sérias dúvidas em rela- que já vêm de longa data. No entan-      rebeldes. O aumento do número de
ção à sua eficácia e sustentabilidade, to, as altas taxas de desemprego e      ataques em 2012 pode, em muito,
pois os meios serão sempre poucos e de pobreza provocadas por uma má           estar relacionado com a renúncia à
os criminosos rapidamente passarão governação têm contribuído drasti-          amnistia, em 2011, por parte de uma
das áreas mais patrulhadas para as camente para a frequência e intensi-        fação do MEND (Movement for the
menos vigiadas. Facilmente se antevê dade dos conflitos na Nigéria. Só na      Emancipation of the Niger Delta), o
que se não houver o envolvimento das região do delta do rio Níger, uma das     maior e mais perigoso grupo rebelde
instituições internacionais, com vista mais problemáticas, vivem cerca de      a operar neste país.
a uma estratégia global de segurança 30 milhões de pessoas – na sua gran-       Apesar do número destes atos ilíci-
marítima para a região, dificilmente de maioria jovens – das quais cerca       tos já ter alguma expressão, acredita-
com medidas avulso se conseguirá le- de 30% estão desempregadas, o que         -se que mais de 50% dos ataques não
var a bom porto esta árdua tarefa de associado à grande proliferação e trá-    sejam reportados às autoridades com-
combater a pirataria marítima, e não fico de armas ilegais, faz com que o      petentes, pelo facto dos armadores
só, no Golfo da Guiné.   recrutamento e a opção pelo crime                     não quererem mostrar as fragilidades
                         organizado seja uma realidade. Com                    de segurança dos seus navios, assim
                         vista a reduzir e melhor controlar                    como para não serem afetados por
A NIGÉRIA É O EPICENTRO  a atividade dos grupos rebeldes o                     aumentos dos seus prémios de seguro
DA PIRATARIA MARÍTIMA    governo nigeriano concedeu-lhes                       ou mesmo para não sofrerem represá-
                                                                               lias em futuras deslocações dos seus
Este país, com uma costa de 853 km uma amnistia, em agosto de 2009.            navios a esta região. No último decé-
de comprimento, tornou-se indepen- Esta iniciativa fez com que cerca           nio – 2003 a 2012 – ocorreram 261
dente do Reino Unido em 1 de ou- de 15.000 militantes depusessem as            atos de pirataria marítima nas águas
tubro de 1960 e é atualmente, com suas armas, munições e muito outro           da Nigéria, dos quais 131 em navios
cerca de 152 milhões de habitantes, material bélico. Foram assim entre-        fundeados, 102 em navios a navegar
o país mais populoso de África, com gues5 cerca de 2.760 armas, 287.445        e 28 em atracados. Os piratas nige-
uma média de idades que ronda os 19 munições de diferentes calibres, 18        rianos atacam os navios, quer estes
anos. Neste momento é o 13º maior embarcações armadas, explosivos,             estejam junto a costa, nos rios, nos
produtor de petróleo a nível mundial coletes à prova de bala, etc. Apesar      fundeadouros ou nos portos, e rou-
– o maior do continente africano – e destes números terem alguma expres-       bam dinheiro, objetos de valor do na-
o 29º maior produtor de gás natural são, são muito diminutos se tivermos       vio e/ou dos tripulantes, telemóveis,
do planeta. Paradoxalmente, o ouro em conta a possível existência de 8         carga, combustível, comida e rou-
negro, que tem permitido a este país a 10 milhões de armas ilegais locali-     pa, chegando por vezes a sequestrar
                                                                               elementos da tripulação para depois
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • JULHO 2013 27
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