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REVISTA DA ARMADA | 487                                         3

Stratεgia

AIR–SEA BATTLE

Nos dois últimos textos, apresentaram-se os conceitos de An-           Importa lembrar que nas décadas de ’70 e ’80 os EUA já haviam
     ti-access (A2) e de Area Denial (AD), destinados a negar a      desenvolvido um conceito afim, mas na altura envolvendo ape-
um oponente o acesso a uma área de operações e a capacidade          nas o Exército e a Força Aérea. Tratou-se do Air-Land Battle, um
para manobrar na mesma. As ações e as capacidades de A2/AD           conceito destinado a contrariar uma ofensiva soviética na Euro-
(desenvolvidas e edificadas por eventuais contendores) condicio-      pa, durante a guerra fria – conceito entretanto abandonado com
nam, pois, a liberdade de ação das forças militares próprias, obri-  a desintegração da União Soviética.
gando-as a operar com maior grau de risco e a maiores distân-
cias dos teatros onde elas são necessárias. Não se estranha, por       De qualquer maneira – não obstante tudo apontar para
isso, que as modalidades de ação de A2/AD – nomeadamente, as         que um potencial antagonismo com a China se desenvolvesse
desenvolvidas e edificadas pela China (mas também, em menor           num cenário marítimo e aero-espacial, com forte dependên-
grau, pela Coreia do Sul e pelo Irão) – estejam no cerne do atual    cia do ciberespaço (ou seja, nos global commons) – a preser-
pensamento geoestratégico.                                           vação da liberdade de ação norte-americana teria que impli-
                                                                     car sempre todo o potencial militar do país (i.e. todos os ra-
   Nessa ótica, em Julho de 2009, o Secretário da Defesa america-    mos das forças armadas). Isso levou o Pentágono a associar,
no determinou que os Departamentos da Marinha e da Força Aé-         pouco tempo depois, o US Army e o US Marine Corps aos tra-
rea desenvolvessem um novo conceito operacional, prontamen-          balhos conceptuais relacionados com o desenvolvimento do
te designado de Air-Sea Battle, com o objetivo de contrariar as      Air-Sea Battle.
modalidades de ação de A2/AD, de forma a preservar a liberdade
de ação norte-americana nos global commons.                            Esta iniciativa veria a sua importância redobrada quando, em
                                                                     Janeiro de 2012, a estratégia de defesa americana aprovada pelo
                                                                     presidente Obama identificou, como uma das prioridades para
                                                                     as forças militares americanas, a projeção de poder em áreas
                                                                     sujeitas a modalidades de ação de A2/AD. Entretanto, em Maio
                                                                     de 2013, foi divulgado o primeiro (e até agora único) relatório
                                                                     público deste projeto, intitulado “Air-Sea Battle – Service Colla-
                                                                     boration to Address Anti-Access & Area Denial Challenges”. Este
                                                                     relatório é um resumo não classificado do trabalho produzido,
                                                                     que contém, naturalmente, outras partes classificadas. Por uma
                                                                     questão de facilidade de compreensão, dividirei a análise ao con-
                                                                     ceito em:

                                                                     • Objetivos;
                                                                     • Ideia central e linhas de esforço; e
                                                                     • Iniciativas.

                                                                     OBJETIVOS

                                                                       O Air-Sea Battle visa melhorar a integração das forças navais,
                                                                     terrestres, aéreas, espaciais e ciberespaciais de forma a propor-
                                                                     cionar aos comandantes operacionais as capacidades necessárias
                                                                     para contrariar e, se necessário, derrotar um contendor que em-
                                                                     pregue medidas sofisticadas de A2/AD. O foco do Air-Sea Battle é
                                                                     assegurar que as forças conjuntas consigam projetar força, para
                                                                     preservar e defender os interesses americanos.

                                                                       Podemos identificar aqui dois objetivos bem concretos:
                                                                     • Manter a liberdade de ação americana, em qualquer área e
                                                                     sempre que necessário.
                                                                     • Aprofundar a colaboração entre os ramos das forças armadas
                                                                     americanas em todos os domínios de atuação (terra, mar, ar, es-
                                                                     paço e ciberespaço).

4 JULHO 2014
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