Page 5 - Revista da Armada
P. 5

REVISTA DA ARMADA | 487

IDEIA CENTRAL E LINHAS DE ESFORÇO                                       focalizados na aplicação do conceito Air-Sea Battle em cenários
                                                                        operacionais realistas.
  A ideia central do conceito consiste em desenvolver forças em
rede (Networked), integradas (Integrated), capazes de ataques           REFLEXÕES SOBRE O AIR-SEA BATTLE
em profundidade (Attack-in-depth), para inoperacionalizar (Dis-
rupt), destruir (Destroy) e derrotar (Defeat) forças adversárias. As      Feita esta breve apresentação deste novo conceito, gostaria de
iniciais das palavras-chave, em língua inglesa, dão origem a um         partilhar com os leitores duas breves reflexões.
daqueles acrónimos de que os americanos tanto gostam: NIA/
D3, que sintetiza a ideia central de todo o conceito.                     A primeira tem a ver com o facto de o relatório de Maio de
                                                                        2013 sobre o Air-Sea Battle evitar cuidadosamente qualquer re-
  Em rede (Networked) significa ter pessoas e equipamentos li-           ferência explícita a países ou a áreas geográficas.
gados em tempo real e unidos no propósito.
                                                                          Não obstante, isso não tem evitado a associação do conceito à
  Integradas (Integrated) quer dizer que as forças deverão ser intero-  China, essencialmente por dois motivos.
peráveis em todos os domínios e capazes de operar como um todo.
                                                                          Em primeiro lugar, porque a estratégia de defesa americana de
  Ataque em profundidade (Attack-in-depth) inclui medidas ofen-         2012 (na qual o Air-Sea Battle entronca) advogou uma viragem
sivas e defensivas, com o objetivo de inoperacionalizar, destruir e     para a Ásia e o Air-Sea Battle é visto como uma peça nesse reba-
derrotar as ações e as capacidades de A2/AD de contendores.             lanceamento estratégico.

  O D3 (Disrupt, Destroy & Defeat) corresponde às 3 linhas de es-         Em segundo lugar, porque essa mesma estratégia de defesa
forço do conceito de Air-Sea Battle, que se podem detalhar em:          americana, ao abordar as ações e as capacidades de A2/AD, men-
• Inoperacionalizar as capacidades de Command, Control, Com-            cionou explicitamente a China e o Irão. E como o Air-Sea Battle
munications, Computers, Intelligence, Surveillance and Recon-           visa contrariar e ultrapassar os desafios de A2/AD, então a asso-
naissance (C4ISR) – correspondente, na gíria, a “cegar o arquei-        ciação a esses países (e, sobretudo, à China) é inevitável.
ro” (ou blind the archer);
• Destruir as plataformas e os sistemas de armas de A2/AD – cor-          Assim, a maior parte dos analistas enquadra os seus comentá-
respondente, na gíria, a “alvejar o arqueiro” (ou shoot the archer); e  rios ao Air-Sea Battle num potencial antagonismo EUA vs. China,
• Derrotar (ou neutralizar) as armas – correspondente, na gíria,        sendo o conceito visto como um elemento de uma grande estra-
a “alvejar a flecha” (ou shoot the arrow).                               tégia que tem a China como destinatário.

INICIATIVAS                                                               A segunda reflexão que gostaria de partilhar respeita à impor-
                                                                        tância do reforço da articulação e da colaboração entre todos os
  O Air-Sea Battle inclui inúmeras iniciativas de âmbito genético,      ramos das forças armadas – no caso americano, o exército, a ma-
estrutural e operacional. Segundo o Chief of Naval Operations           rinha, a força aérea e os fuzileiros.
da US Navy, Almirante Jonathan Greenert, já foram identificadas
mais de 200 iniciativas, ao abrigo deste conceito, embora o do-           De facto, mesmo em cenários que parecem apontar para um
cumento divulgado em Maio de 2013 enumere apenas 12 ações               maior enfoque nos ramos naval e aéreo das forças armadas (dado
– o que se justifica por ser um documento não classificado e para         o objetivo assumido de preservar o acesso aos global commons),
divulgação pública. Apenas para efeitos de exemplificação, enu-          o Pentágono envolveu o US Army e o US Marine Corps – cuidado
merarei algumas das ações mais relevantes.                              que, diga-se, não teve nas décadas de ’70 e ’80 ao excluir a US
                                                                        Navy e o US Marine Corps do Air-Land Battle Concept...
  Assim, no campo genético, preconiza-se, por exemplo, o refor-
ço da integração da programação e da aquisição de material mili-          Na realidade, no mundo contemporâneo os diferentes ramos
tar para os diferentes ramos das forças armadas e a incorporação        das forças armadas devem trabalhar sempre de forma articulada
de matérias ligadas a A2/AD nos programas de treino e de forma-         para alcançar os objetivos estabelecidos.
ção dos militares americanos.
                                                                          Todavia, isso deve sempre basear-se no reconhecimento claro
  No campo estrutural, defende-se, entre outras ações, o apro-          de que os conceitos, os procedimentos e os requisitos de cada
fundamento do relacionamento entre organizações homólogas               ramo são bastante diferentes em aspetos essenciais, embora não
de cada ramo das forças armadas e o fortalecimento do alinha-           impeditivos de que se articulem ao serviço de uma verdadeira
mento com parceiros e aliados.                                          estratégia nacional. Como referido no próprio relatório oficial do
                                                                        Air-Sea Battle, este conceito é um exemplo de “como os diferen-
  Finalmente, no campo operacional, recomenda-se, designa-              tes ramos podem colaborar formalmente, ainda que protegen-
damente, a realização de experiências para testar a integração          do, desenvolvendo e mantendo capacidades, património e cultu-
das estruturas de C2 existentes e a condução de jogos de guerra         ra únicas”. De facto, só assim se consegue aumentar a jointness.

                                                                                                                                              Sardinha Monteiro
                                                                                                                                                                 CFR

                                                                        JULHO 2014 5
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10