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REVISTA DA ARMADA | 488
Napier em Lisboa após a vitória (Museu de Marinha)
Assegurada que estava a supremacia no mar, as tropas do Duque A 22 de Março de 1834, Napier desembarca, com forças de ma-
da Terceira batem todo o Algarve e avançam rapidamente para nor- rinha, na cidade de Caminha e, a partir daí, com o apoio de três
te, encontrando pelo caminho pouca ou nenhuma resistência. As- colunas enviadas do Porto, obtém o controlo de todo o Minho,
sim, quando se dirige a Lisboa para preparar a chegada do exército aliviando, desse modo, o cerco da Invicta pelo lado Norte. Pouco
liberal (a sua intenção seria a de atacar Cascais, numa manobra de tempo depois, desembarca tropas em Buarcos, as quais encon-
diversão), Napier é surpreendido pela notícia de que a capital fora tram a Figueira da Foz abandonada pelos absolutistas. Ficavam,
ocupada sem luta, após a fuga precipitada de D. Miguel e dos seus assim, tomados todos os portos de mar que ainda permaneciam
ministros. Ficava, deste modo, aliviada a pressão sobre o Porto, nas mãos das forças leais a D. Miguel.
cujos sitiantes tiveram de ser divididos para acudir ao sul do País.
O espírito de iniciativa de Napier revelou-se de fundamental im-
Napier coloca, então, os navios maiores na defesa do porto de portância para a vitória dos constitucionais. Para além da sua acção
Lisboa, enquanto os restantes são colocados a bloquear a cos- decisiva no controlo do mar e dos portos e no alívio, pela retaguar-
ta. Uma vez que a esquadra miguelista deixara de existir em ter- da, da pressão militar inimiga, a sua ousadia pessoal e o seu con-
mos efectivos, o almirante preocupava-se em reservar o grosso ceito de guerra de movimento terão, definitivamente, contribuído
da capacidade artilheira para a defesa da capital, enquanto na para resolver o perigoso impasse em que se encontravam os exér-
costa se requeria, essencialmente, uma acção de vigilância face a citos de D. Pedro durante os primeiros meses do cerco do Porto.
eventuais tentativas de desembarque por parte das forças abso-
lutistas. Mas a via marítima estava, já, praticamente interdita aos Após o tratado de Évora-Monte e o exílio de D. Miguel, a Mari-
navios de D. Miguel. Os liberais, por seu lado, tinham, agora, to- nha só volta a pequenas acções de combate em 1846-47, aquan-
tal liberdade de movimentos por mar, o que lhes permitiu acudir do da chamada “Guerra da Patuleia”, mas o tempo das grandes
a alguns focos de resistência miguelista e reforçar os pontos do batalhas navais tinha, em Portugal, chegado ao fim.
litoral considerados mais vulneráveis. Setúbal mereceu especial
preocupação, com a colocação inicial da corveta Isabel Maria e o Moreira Silva
posterior reforço com a fragata D. Maria II e o guarnecimento do CFR
forte de S. Filipe por marinhagem desembarcada.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Durante este período é, também, de destacar a importante ac-
ção das embarcações que constituíram as esquadrilhas do Tejo Fontes/Bibliografia
e do Guadiana, a primeira em apoio de fogos e de transporte às
acções militares liberais no Ribatejo e na defesa da capital pelo ESPARTEIRO, António Marques, Três Séculos no Mar (1640-1910), 32 vols., Colecção Estu-
sul e pelo leste, a segunda no combate aos focos da guerrilha mi- dos, Lisboa, Ministério da Marinha, 1973-1987.
guelista no Algarve. MONTEIRO, Armando da Silva Saturnino, Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa,
vols. VII (1669-1807) e VIII (1808-1975), 1ª ed., Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1989.
NAPIER, Charles, A Guerra de Sucessão. D. Pedro e D. Miguel, trad. Manoel Joaquim Pe-
dro Codina, introd. António Ventura, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa,
Março de 2005.
18 AGOSTO 2014