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REVISTA DA ARMADA | 488

AS GUERRAS LIBERAIS

ACÇÃO DA MARINHA

(1828–1834)

Batalha Naval do Cabo de S. Vicente (Quadro de Antoine Morel-Fatio, 1842, Museu de Marinha)

Oregresso de D. Miguel a Portugal, em 1828, com a ameaça do            assumiu o cargo de Capitão-Geral dos Açores. A bloquear a Ter-
     derrube do regime constitucional, suscitou reacções adversas      ceira ficaram uma fragata, um brigue, um patacho e uma escuna,
por parte dos liberais, traduzidas por levantamentos militares no      sob o comando do chefe de divisão João Félix Pereira de Cam-
Continente e nas Ilhas. Tendo rapidamente dominado as revoltas         pos. A maior parte dos restantes navios regressa a Lisboa para
em solo continental, a que se seguiu a partida dos principais che-     invernar.
fes rebeldes para Inglaterra, a bordo do vapor inglês Belfast, tratou
logo o governo miguelista de enviar expedições armadas à Madei-          A 6 de Janeiro de 1829, larga de Plymouth uma força liberal
ra e aos Açores para expurgar, logo no início, os focos de rebelião.   de 600 homens com destino à Terceira. Mas o governo britânico
                                                                       conservador, liderado pelo Duque de Wellington, opõe-se aber-
   Para a Madeira partiu, a 9 de Agosto de 1828, uma força co-         tamente a quaisquer expedições armadas contra o território por-
mandada pelo vice-almirante Henrique de Sousa Prego ‒ com-             tuguês. Assim, envia aos Açores as fragatas Ranger e Nimrod, que
posta de uma nau, duas fragatas, duas corvetas, dois brigues e         impedem, pela força, o desembarque das forças constitucionais.
duas charruas ‒, conduzindo uma força de desembarque de cer-           Contudo, o incidente desperta simpatias a favor da causa libe-
ca de 2000 homens. No dia 22 começou o bombardeamento na-              ral portuguesa. Pressionado pela oposição, Wellington é forçado,
val às defesas da ilha, seguido de desembarques no Machico, em         em Março, a cancelar o bloqueio inglês à ilha, que fica, então,
Porto Novo, em Santa Cruz e, por fim, no Funchal, que se rendeu        aberta a receber reforços em homens e material, por vezes com
na tarde do dia 23, após aceso combate. O governador deposto e         a aberta cumplicidade de alguns navios britânicos.
alguns dos seus oficiais e funcionários acolheram-se à protecção
da corveta inglesa Alligator.                                            Em Maio, o governo envia nova expedição, sob o comando do
                                                                       chefe de divisão graduado José Agostinho da Rosa Coelho, para
   A 17 de Outubro, a esquadra, entretanto reforçada pela fragata      submeter a ilha rebelde. Em S. Miguel reúne-se uma força de di-
Diana (deixando na Madeira uma corveta, um brigue e uma char-          mensões consideráveis, constituída por uma nau, três fragatas,
rua), parte para os Açores, a fim de submeter a Terceira. No en-       duas corvetas, quatro brigues, cinco charruas e seis transportes.
tanto, falham as tentativas de contacto com a guerrilha miguelis-      O ataque à Terceira inicia-se no dia 10 de Agosto. As defesas em
ta na ilha. Sem a certeza de apoio em terra e temendo os efeitos       terra são silenciadas, após intenso tiroteio, mas o desembarque
do mau tempo, que já dispersara os navios e os afastara de ter-        que se segue encontra uma viva resistência por parte dos defen-
ra, o comandante da força decidiu recolher-se a S. Miguel, onde        sores, a qual causa elevadas baixas entre os atacantes e os obriga

                                                                                             AGOSTO 2014 15
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