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REVISTA DA ARMADA | 493
A BARRICA DE RUM
Foto 1SAR FZ Horta Pereira
No âmbito das celebrações do 6º Centenário da aliança Luso-Bri- po do Almirante Nelson, seguido nos jantares de camara por um
tânica, esteve em Lisboa uma força naval inglesa comandada brinde naval que variava consoante o dia da semana. (ver quadro)
pelo Radm R. P. Clayton que, num almoço oferecido pelo Almiran-
te CEMA no Palácio do Alfeite, ofereceu à Marinha uma barrica de Bem a propósito desta alteração pudemos, em janeiro passado,
rum das que eram utilizadas a bordo dos navios ingleses na tradi- testemunhar a passagem por Lisboa do HMS “Portland” a caminho
cional distribuição da ração de rum, e que era “uma oferta da Royal de uma missão de vários meses de patrulha no atlântico Sul com a
Navy comemorando a assinatura da Aliança Luso-Britânica em particularidade de ser comandado pela primeira mulher a coman-
1373 e o espirito de cooperação existente entre as duas Marinhas”. dar uma fragata da RN que, estamos certos, se sentirá mais confor-
tável quando propuser os brindes das terças-feiras e dos sábados.
A barrica de rum está exposta no hall frente ao Salão Nobre do
Palácio desde a sua oferta e constitui uma nova tradição entre as Na nossa Marinha, o brinde é sempre precedido pelas Salvas Arti-
duas marinhas porquanto cada navio que nos visita, para além da lheiras que aqui se replicam:
tradicional troca de “crests”, é portador de uma chapa que é pre-
gada na barrica assinalando a sua passagem por Lisboa. Em honra de ...(entidade ou motivo do brinde)
Vão ser dadas as salvas artilheiras que a Marinha consagrou.
A ração diária de rum na RN foi estabelecida em 1655 em Começando por bombordo, bordo de honra, de vante para ré,
0,3 l como equivalente preferencial aos 4,5 l de cerveja distri- singelas as primeiras, dobradas após enquadrar:
buídos até então e que ofereciam grandes dificuldades de ar-
mazenamento. A embriaguez foi sendo cada vez mais proble- Peças de Bombordo, Fogo!
mática a bordo dos navios pelo que, em 1740, foi estabelecido Boom!
que a ração diária seria diluída em água, à razão de 1/4 e divi- Peças de Estibordo, Fogo!
dida em duas distribuições diárias. Em 1824 foi reduzida para Boom!
metade e, poucas décadas depois foi eliminada a distribuição Peças de Bombordo, Fogo!
da noite. Em 1881 foi vedada a oficiais e em 1918 a sargentos. Boom!
Peças de Estibordo, Fogo!
Em 1969, o Almirantado Britânico concluiu que a ração de rum Boom!
já não era compatível com os elevados padrões de desempenho Enquadrou!
exigidos aos operadores de sistemas cada vez mais complexos e Boom, Boom, Boom!
de cuja operação dependiam vidas humanas. Após um acalora- Vai a cima, vai a baixo, vai a cima, bota a baixo.
do debate politico, a ração de rum foi abolida em 31 de julho de
1970 naquele que ficou conhecido pelo “Black Tot Day”. Proença Mendes
CMG
Por cá, remontam a 1924 os registos que conseguimos encon-
trar relativos à ração de aguardente que, não sendo distribuída
com a pompa com que se fazia na RN, fazia parte do rancho dos
navios a navegar. Um Decreto-lei de 1975 estabeleceu esta ração
em 0,03 l diários, na época fria (novembro a março), mas fomos
informados que desde 2008 que não é fornecida na Marinha.
Uma outra tradição da RN recentemente alterada foi o tradicio-
nal brinde real que, com o recrutamento dos militares femininos,
teve que ser ajustado para uma versão politicamente correta. O
brinde ‘The King/Queen, God Bless Him/Her!’ era, desde o tem-
Dia Brinde Antigo Brinde Novo
Dom. To Absent Friends! To Absent Friends!
2ª feira To Our Ships at Sea! To Our Ships at Sea!
3ª feira To Our Men! To Our Sailors!
4ª feira To Ourselves! To Ourselves!
5ª feira To A Bloody War or A Sickly Season! To A Bloody War or A Sickly Season!
6ª feira To A Willing Foe and Sea Room! To A Willing Foe and Sea Room!
Sáb. Two Sweethearts and Wives! To our Families!
16 FEVEREIRO 2015