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NRP ARPÃO REVISTA DA ARMADA | 496 Foto Paulo S. Garcia
O regresso a Kiel MAIO 2015 13
Segunda-feira, 9 de fevereiro, oito da manhã horas locais: o NRP
Arpão volta ao local de origem e atraca em Kiel, Alemanha, na
doca nº 5 do antigo estaleiro HDW, que após a recente restrutura-
ção alterou o nome para ThyssenKrupp Marine Systems (TKMS).
Ao longo de doze dias, que totalizaram 280 horas de navega-
ção e cerca de 1850 milhas náuticas percorridas, o NRP Arpão
navegou, ao longo da costa portuguesa e espanhola até ao cabo
Finisterra, pelo golfo da Biscaia, canal da Mancha, Mar do Norte,
Skagerrak e Kattegat, terminando no fiorde de Kiel na manhã de
9 de fevereiro.
Mas comecemos a narrativa pelo início: a largada! Na tarde de
28 de janeiro, seguindo a tradição nas largadas de um submarino
para o mar, encontravam-se no cais dezenas de submarinistas,
tanto do “irmão” Tridente, como da Esquadrilha de Submarinos e
da DN-DS1, para as tradicionais despedidas e desejos de boa mis-
são. O navio iria largar, rumo à Alemanha, para realizar um pe-
ríodo de cinco meses de docagem e manutenções planeadas, no
estaleiro onde, há cinco anos atrás, teve lugar a sua construção.
Após a saída do porto de Lisboa, o Arpão fez jus à sua condi-
ção de submarino, entrando em imersão e iniciando um trânsi-
to para Norte, rumo ao cabo Finisterra. O estudo das condições
meteo-ocenográficas fazia antever boas condições iniciais, mas
com alguma probabilidade de agravamento no golfo da Biscaia.
Havia alguma expetativa por parte da guarnição, principalmente
porque as memórias recentes não eram as melhores, tanto do
último trânsito do NRP Arpão para Kiel, como do NRP Tridente
no ano transato para Bergen2. O apoio prestado pelo Instituto
Hidrográfico, através do seu produto METOCMIL Light-view, per-
mitiu fazer uma gestão antecipada dos períodos ao snorkel, para
carga da bateria, e de imersão profunda. Mas o facto de grande
parte deste trânsito ter que ser forçosamente feito à superfície,
condição que os submarinistas não gostam, reforçava a necessi-
dade do estudo das condições previstas, pelo que todos os dias
era esperada, num dos períodos de radiodifusão, a mensagem
“criptográfica” deste sistema que nos permitia ter uma imagem
das previsões.
E eis que, ao segundo dia de viagem, confirmam-se as pri-
meiras previsões de intempérie. Ventos de quarenta nós e on-
dulação entre oito e dez metros. Mas como ainda se navegava
em águas profundas, esse dia foi passado na tranquilidade das
profundezas oceânicas, poupando o material e pessoal à incle-
mência dos elementos.
Dois dias passados e depois de ultrapassadas as condições
meteorológicas adversas, o navio concluía o solitário trânsito
do golfo da Biscaia e entrava no canal da Mancha, uma das zo-
nas com maior densidade de navegação comercial do globo,
onde teria que iniciar o trânsito à superfície, por já não existi-
rem fundos que permitissem ao Arpão continuar em imersão.
Parece que o Rei Neptuno estava do nosso lado permitindo
a vinda à superfície com um mar de pouco mais de 1,5 me-
tros. A travessia de La Manche, designação francesa do canal
da Mancha, foi feita seguindo os Esquemas de Separação de
Tráfego, entre a navegação mercante e embarcações de pesca