Page 17 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 496
das colónias. A tabela apresentada é
bem demonstrativa do enorme esforço
que isso exigiu, juntamente com a ajuda
agrícola fornecida, na produção pecuá-
ria, na construção de sistemas de irriga-
ção, de ferrovias, de redes elétricas, na
abertura de poços de água e nas melho-
rias nas habitações.
DO PONTO DE VISTA DAS INFOR-
MAÇÕES (I)
A PIDE era muito parecida com o FBI3,
CIA4 ou MI65 e assemelhava-se, em mui-
tos aspectos, ao modus operandi da
Scotland Yard6. Tinha ligações muito for-
tes com os locais e as forças especiais no
teatro, bem como com os guias indíge-
nas que serviam de agentes coletando
informações de valor militar ou estraté-
gico. Naquele período, contaram-se até
1000 guias indígenas que colaboravam
com a PIDE.
DOS PONTOS DE VISTA DA RELI- Concluo, dizendo o que é sobejamente marítima. Só assim nos foi permitido coe-
GIÃO (R) E EDUCAÇÃO (E) partilhado por muitos. Portugal foi obri- xistir pacificamente, por tantos séculos,
gado a deixar a África ultramarina, mais com tantas gentes em tantos lugares.
A educação e a religião eram ambas significativamente, porque alguns atores
partes integrantes do processo de assi- internacionais desejavam acesso econó- Esta característica e capacidade dos
milação e qualificação para o estatuto mico às regiões sem interferência portu- portugueses foram, sem dúvida, de ca-
de assimilado. Na tabela apresentada, guesa. Sendo o Poder igual ao produto pital importância para, ao longo de sé-
pode-se verificar como Portugal multipli- da Capacidade pela Vontade, o que pa- culos, sem grandes bases doutrinárias,
cou os esforços na área do ensino no pe- rece óbvio é que Portugal não deixou as instintivamente e de forma quase im-
ríodo em apreço. Escolas foram construí- colónias por falta de capacidade. O po- provisada, aplicar, empregar e explorar o
das, mas, para além de apenas ensina- der foi sendo reduzido por forças inter- Comprehensive Approach to Operations,
rem a língua portuguesa, a adoção efe- nas e internacionais que, paulatinamen- hoje em dia apresentado como sendo
tiva da cultura portuguesa como a sua te, extinguiram a nossa vontade. uma novidade. Da globalização também
própria, incluindo a adoção do cristianis- assim se falou.
mo e da emulação dos ideais portugue- O que me apraz aqui também deixar,
ses, era parte integrante do processo. A no âmbito desta pequena reflexão, foi a Amaral Mota
religião e a educação foram, desde cedo, capacidade nacional, imaterial, especial, CFR
poderosos instrumentos utilizados pelo única e incomparável para compreender,
Estado colonial. Não obstante estas re- como ninguém, as pessoas de todos os Naval Striking and Support Forces NATO, Oeiras
gras, em 1961, o ministro do Ultramar cantos do mundo com que contactámos
concedeu a todos os africanos nas pro- e nos conectámos, como respeitámos as Notas
víncias ultramarinas o estatuto de cida- suas culturas, as suas diferenças e como 1 PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
dão português. Esta veio a ser a maior ganhámos os seus corações e mentes, de 2 PSYOPS – Psychological Operations.
alavanca para estabelecer e fortalecer o forma voluntariosa, altruísta e duradou- 3 FBI – Federal Bureau of Investigation (EUA).
“Portugal pluricontinental”. ra. Como tudo isso foi resultado direto da 4 CIA – Central Intelligence Agency (EUA).
nossa exposição ao mundo e empreen- 5 MI6 – Military Intelligence, Section 6 (GBR).
Resumidamente, estas foram, no âmbi- dedorismo decorrente da nossa epopeia 6 Scotland Yard – Sede ou Quartel General da Polícia
to do CA, as ferramentas que Portugal e Metropolitana de Londres.
as Forças Armadas portuguesas utilizaram
em África.
MAIO 2015 17