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REVISTA DA ARMADA | 496
Foto Paulo S. Garcia
que caracterizam a zona, culminando na passagem das cons- cas inferiores a 50 metros. Já no ansiado abrigo proporcionado
pícuas encostas brancas do estreito de Dover, na manhã do por esta península, o navio prosseguiu o planeamento fazendo
dia 4 de fevereiro, marcando assim o fim do English Channel, o trânsito, à superfície, no Kattegat.
designação inglesa do canal da Mancha, e o início do respei-
tado Mar do Norte. Também o Kattegat revelou as suas características únicas:
um trânsito marcadamente costeiro, com várias marcas cons-
Também aqui as previsões apontavam para a benevolência das pícuas em terra, águas navegáveis limitadas e fundos baixos.
condições oceanográficas, piorando, no entanto, as temperatu- Pela experiência acumulada pelas guarnições dos submarinos
ras do ar, que desceram para próximo de 0° C. Estas condições da classe Tridente nestas águas, o Arpão derivou das rotas co-
chegaram a provocar a queda de neve que pintou de branco o merciais predominantes, as chamadas Deep Water Routes que
característico preto do submarino, fator deveras relevante para seguem um trajeto mais longo e por águas mais profundas na
quem faz quartos na ponte, descoberta e exposta à intempérie zona leste das ilhas dinamarquesas, tendo praticado uma se-
dos ventos, chuva e água do mar; condições apenas partilhadas quência de rotas nas águas interiores das ilhas, normalmente
também pelas guarnições dos veleiros. Ao longo da navegação utilizadas pela navegação mercante de menores dimensões e
no Mar do Norte a mudança mais significativa foi ao nível da pai- navios militares. Tendo deixado a Anholt Wind Farm por bom-
sagem, agora caracterizada por um mar repleto de plataformas bordo na manhã do dia oito, a passagem sob a Great Belt Bri-
petrolíferas, de extração de gás e por parques eólicos, elemen- dge decorreu já no arco noturno e eis que, aos primeiros alvo-
tos muito pouco habituais na nossa costa. O trânsito prosseguiu res do dia nove de fevereiro, é avistada a marca identificativa
à superfície e felizmente a superstição marinheira confirmou-se do fiorde de Kiel, o Kiel Light, assinalando o estabelecimen-
“malagueiro na Biscaia, mar chão e aragens no mar do Norte”. E to da condição especial 2 Alfa (navegação em águas restritas)
assim foi durante os três dias que perdurou a travessia do Mar para a derradeira etapa do trânsito, a entrada no porto de
do Norte, tendo o navio alcançado o Skagerrak, o mar que ocu- Kiel. Duas horas volvidas, o navio já se encontrava no interior
pa a área entre o sul da Noruega e o topo norte da península da da doca nº 5 da TKMS, tendo também alguns submarinistas no
Jutlândia, na qual se situa grande parte do Reino da Dinamarca, cais para as boas-vindas, terminando assim a sua última nave-
na tarde de 7 de fevereiro. gação dos próximos cinco meses.
Uma vez mais, com a mais-valia da aplicação METOCMIL Li- Segue-se um longo período de trabalhos extensivos no âmbi-
ght-view, foi possível adiantarmo-nos no planeamento para evi- to da manutenção da plataforma e todos os seus sistemas, rea-
tar piores condições de mar à superfície que se avizinhavam, lizados pelo estaleiro e outras empresas subcontratadas, sem-
aproveitando as águas profundas do Skagerrak para enfrentar pre com o acompanhamento e colaboração de parte da guar-
em imersão os 4 metros de mar previstos. Aproximadamente nição que permanece em Kiel e dos militares da delegação da
doze horas de imersão permitiram evitar as piores condições, DN-DS.
navegando com mau mar apenas por poucas horas, quando se
teve de voltar a fazer superfície nas imediações da península de Colaboração do COMANDO DO NRP ARPÃO
Skagen, a extremidade nordeste da Jutlândia, face às batimétri-
14 MAIO 2015