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REVISTA DA ARMADA | 499

CEUTA

O PRINCÍPIO DA EXPANSÃO PORTUGUESA

Seiscentos anos após a tomada de Ceuta, é interessante re-                               conquista de novos territórios aumentava a sua
   lembrar que foi este acontecimento que deu início à Expan-                            influência no âmbito da política externa.
são Portuguesa. Muito se tem escrito sobre as causas que leva-
ram os Portugueses a Ceuta em 1415, sendo várias as opiniões                                A 25 de Julho de 1415 zarpou de Lisboa uma
sobre esta matéria. Firme no extremo ocidente peninsular, Por-                           frota composta por mais de 200 embarcações,
tugal buscava novas fontes de riqueza e novos negócios, que-                             na qual seguia o Rei acompanhado pelos três
rendo alargar o território sob o domínio da Coroa e dilatar o                            Infantes mais velhos, um considerável número
espaço da Cristandade. Não menos importante, era a necessi-                              de fidalgos e mais de dez mil homens de armas
dade que a Nobreza tinha de demonstrar as suas competências                              e de manobra. Na madrugada de 21 de Agosto
guerreiras, sem ser no espaço peninsular ou mesmo europeu.                               os portugueses desembarcaram em Ceuta, ten-
                                                                                         do como primeiro objetivo a conquista da ponta
  O ataque a Ceuta representou o primeiro movimento expan-                               oeste da península, na qual a posição inimiga era
sionista do reino de Portugal, segundo uma doutrina e práticas                           mais fraca, dado ser aí que se concentrava a po-
desenvolvidas. Há muito que África era, de facto, um desígnio da                         pulação civil.
monarquia lusitana, mas também da Cristandade mediterrâni-
ca, ao mesmo tempo que legitimava o poder da dinastia de Avis.                              Após um ataque impetuoso, os assaltantes to-
O desejo de D. João I em prestigiar o reino e a dinastia que inicia-                     maram a cidade antes que os defensores fechas-
ra, fortemente reforçado pela vontade dos Infantes D. Duarte, D.                         sem as portas. Entretanto, D. Henrique atacou a
Pedro e D. Henrique em serem armados cavaleiros por mereci-                              posição mais fortemente defendida, o que lhe
mento através de uma ação militar, foi fulcral na dinâmica da ex-                        valeu ter sido considerado o herói da conquista
pansão ultramarina portuguesa. Uma expansão territorial signifi-                         de Ceuta, muito embora tenha acabado por ser
cava o enriquecimento de um reino de dimensões reduzidas, e a                            D. Duarte com D. Pedro a apoderar-se da cidade-
                                                                                         la, já então abandonada.

                                                                                            Ao findar o dia 21 de Agosto, Ceuta tornava-se
                                                                                         a primeira cidade cristã do norte de África.

                                                                                            Seguiu-se a consagração dos conquistadores,
                                                                                         com D. João I a armar cavaleiros os seus Infan-
                                                                                         tes e outros nobres que tinham combatido nas
                                                                                         ruelas de Ceuta. O monarca nomeou Capitão de
                                                                                         Ceuta o Conde D. Pedro de Meneses, e como re-
                                                                      compensa dos serviços prestados fez dos Infantes de Avis D. Pe-
                                                                      dro Duque de Coimbra e D. Henrique Duque de Viseu.
                                                                        A Expansão Portuguesa integrava-se, sem dúvida, na velha ló-
                                                                      gica da Reconquista e abria as portas de uma possível conquista
                                                                      do reino de Fez. No entanto, a ocupação da cidade tinha um ou-
                                                                      tro objetivo económico e estratégico muito mais imediato e ren-
                                                                      doso – o controlo da navegação no Estreito de Gibraltar, porto de
                                                                      escala para as embarcações em trânsito de e para o Mediterrâ-
                                                                      neo, centro de crescimento das redes comerciais da zona e base
                                                                      para as armadas portuguesas de corso que, além de fazerem sor-
                                                                      tidas em terras próximas, afastavam os piratas mouros da costa
                                                                      sul do reino e assim permitiam o desenvolvimento da pesca e do
                                                                      comércio algarvio.
                                                                        A conquista de Ceuta, “a chave do Mediterrâneo” no dizer
                                                                      do cronista Gomes Eanes de Zurara, marcou o alargamento da
                                                                      fronteira marítima de Portugal, sendo a mais antiga operação
                                                                      anfíbia de iniciativa portuguesa e também a primeira vez que
                                                                      forças nacionais atuaram fora do seu território europeu.

                                                                                                                                                    Santos Maia
                                                                                                                                                           1SAR E

16 AGOSTO 2015
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