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REVISTA DA ARMADA | 505

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DIA-A-DIA DO NAVIO                                                  nificando isto um consumo de 50 quilos de farinha) e cozinhar
                                                                    250 quilos de géneros. No final da missão entraram no navio per-
  Para além da perspetiva operacional, o dia-a-dia de um navio      to de 103 toneladas de géneros, sem contabilizar o material da
é preenchido por muitas outras atividades que são fundamentais      cantina.
para o cabal cumprimento da missão, sobretudo quando se trata
de um grande período, como foi o caso desta missão.                   Outro exemplo de atividades que concorrem para o planea-
                                                                    mento diário de um navio a navegar são as limpezas. Estas co-
  Vulgarmente conhecidas por rotinas, estas práticas diárias        meçavam bem cedo de manhã e abrangem áreas tão diferentes
abrangem áreas tão diversas como a organização, a higiene e se-     como as permanentes, os alojamentos, as casas de banho e as
gurança no trabalho, a logística, a alimentação, a manutenção, a    secções interiores. Estas tarefas, quando desenvolvidas numa
saúde, a limitação de avarias, o treino, o desporto, as limpezas,   base periódica, permitem manter as adequadas condições de
entre outras que, em última análise, contribuem para a seguran-     habitabilidade e bem-estar a bordo.
ça e o bem-estar da guarnição.
                                                                      Outras práticas diárias também incluíram o download de um
  Assim e durante mais de seis meses, a guarnição permaneceu        jornal diário, das capas dos principais jornais e de um resumo de
em condição geral dois, ou seja, a bordadas, à exceção dos perí-    imprensa. Nos momentos em que não foi possível a receção de
odos em que esteve atracada, por ocasião das visitas aos portos,    televisão, esta rotina foi fundamental para se manter um contac-
ou durante os postos de combate/postos de emergência, no âm-        to com o dia-a-dia do mundo exterior.
bito das atividades de treino próprio. O regime a bordadas obriga
o navio a manter 50% da guarnição no desempenho normal de             Muitas outras rotinas concorrem para o pulsar de um navio.
funções, permitindo que a outra metade se ocupe das suas roti-      Algumas destas atividades, tais como as que estão associadas à
nas individuais e do necessário descanso.                           manutenção e logística, nem sempre são percetíveis, uma vez
                                                                    que se revestem de uma natureza iminentemente técnica e es-
  Durante o regime de bordadas, a atividade do navio é assegu-      pecífica e têm lugar em espaços arredados.
rada em regime de permanência pela ponte, central da platafor-
ma, centro de operações, centro de comunicações e pela base do        Não obstante a sua natureza distinta, existem pontos comuns
departamento de armas e eletrónica que garantem, entre outras       a todas essas práticas diárias, que é o facto de terem sido desen-
atividades, a segurança da navegação, a produção de energia, a      volvidas com muito brio, criatividade, camaradagem e genero-
manutenção da propulsão e a limitação de avarias, a vigilância e    sidade por parte dos nossos marinheiros, reflexo de um saber
a compilação do ambiente externo, as comunicações e a pronti-       fazer, fortalecido por uma história secular ligada ao mar.
dão do sistema de armas e sensores.
                                                                                                                                        Foto 1SAR A Ferreira Dias
  Existem outras áreas que, apesar de não estarem guarnecidas
durante vinte e quatro horas, não deixam de ser consideradas
importantes, na medida em que o seu contributo, por si só, tem
um impacto muito grande no bem-estar da guarnição, como é o
caso das áreas funcionais relacionadas com a alimentação.

  No que toca à questão da alimentação, realça-se que este aspe-
to foi um grande desafio, visto que se tornou necessário alimentar
202 militares – 183 elementos da guarnição e 19 do Estado-Maior
embarcado – por mais de seis meses, bem como preparar e realizar
diversas receções nos portos nacionais e estrangeiros escalados.

  Para se alimentar uma guarnição com esta dimensão, para
além da indispensável arte e engenho, tornou-se necessário,
com o navio a navegar, produzir cerca de 100 quilos de pão (sig-

12 MARÇO 2016
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