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REVISTA DA ARMADA | 505
Sem novidade, a redução das capacidades navais das nações o Reino Unido se veem como nações globais e querem manter
europeias é resultado direto dos declínios nos orçamentos e relevância estratégica muito para além do Mediterrâneo. Os in-
investimentos na área da defesa e segurança, incluindo a cons- gleses e os franceses registam a ascensão da China como sendo
trução naval. Em segundo lugar, a construção dos navios é cada uma ameaça a essa relevância e verificam que as suas Marinhas
vez mais tecnologicamente avançada e sofisticada, exigência for- começam a ficar subdimensionadas, dadas as grandes distâncias
temente contrariada pelas contenções orçamentais. Em terceiro envolvidas e à escassez de navios para manter uma presença
lugar, a tendência das nações marítimas é no sentido de terem constante. Existe pois, uma tensão real entre a necessidade de
capacidades para utilização multidisciplinar em detrimento de uma presença global e uma capacidade naval equilibrada que,
terem maiores números no seu inventário. Ter menos, com mais atualmente, só os Estados Unidos ainda são capazes de resolver.
capacidade, é palavra de ordem, ainda que se reconheça os ris-
cos associados a esta opção estratégica. Na ausência de uma crise ou de uma ameaça que se manifeste
em grande parte como uma ameaça naval, não é expectável que
As principais Marinhas da Aliança na Europa têm muito em co- a Europa volte a ter Marinhas de grande porte. Apesar de não ser
mum. A prioridade é conseguir operar e manter, na justa medida novidade, relembra-se que esta capacidade, como qualquer outra,
das possibilidades económicas de cada membro, forças navais uma vez perdida, levará décadas a reedificar e reconstruir, especial-
equilibradas expedicionárias para atuar no espectro das opera- mente devido ao capital de conhecimentos e experiência na cons-
ções de segurança marítima cooperativa, de combate no mar e trução naval e em outros domínios que igualmente se perderão.
da projeção do poder em terra. Não menos importante é não
esquecer que a França e o Reino Unido continuam a ter capa- Os atuais esforços para coordenar capacidades militares com
cidade para uma dissuasão nuclear estratégica através dos seus recurso à partilha no âmbito do pooling and sharing1 pode, à
submarinos com capacidades balísticas intercontinentais. superfície, parecer benéfica, mas os membros da NATO não de-
vem, por isso, deixar de resistir aos declínios contínuos dos in-
Não é inconcebível que, num futuro próximo, apenas os Es- vestimentos nas suas estruturas. Cuidado maior é evitar que tais
tados Unidos, a França e o Reino Unido sejam os únicos a ope- esforços sejam apenas uma fachada para esconder a indesejada
rar rotineiramente grupos de porta-aviões no seio da NATO, e realidade da escassez de meios, resultante da delapidação e pro-
mesmo que o Reino Unido e a França continuem a operar esses gressiva corrosão dos pilares estruturantes do poder naval.
meios, os custos inerentes irão provavelmente reduzir o seu pa-
pel e presença global a missões de segurança marítimas. Amaral Mota
CMG
Note-se também que as estruturas do poder naval da NATO
não ficam imunes aos impactos resultantes do renascimento do Notas
poder naval da China. A mudança estratégica dos EUA para o
pacífico aumenta os requisitos operacionais das Marinhas NATO 1 I niciativa dos países da UE, com objetivos comuns e decorrente da situação eco-
europeias, o que também é imposto pela situação que se vive no nómica global, para “juntar e partilhar” capacidades militares diversas. A NATO
Mediterrâneo. Ainda que sejam partes muito interessadas nas adota semelhante esforço através do que é conhecido por Smart Defence.
questões europeias, é importante não esquecer que a França e
Foto Pedro Fernandes
16 MARÇO 2016