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REVISTA DA ARMADA | 505
PODER NAVAL DA NATO
QUE FUTURO?
D.R.
Em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), verdadeiro estado da arte do poder naval da Aliança. Para além
recebeu o nome de um dos maiores oceanos do planeta. Con- dos sentimentos nacionalistas e saudosistas da “Grande Rússia”,
tudo, ao longo da sua história, a Aliança tem tido um enfoque as revoluções, os motins, o desassossego social, a insegurança,
militar em terra. Ainda que vários dos seus membros tivessem a instabilidade, a falta de governação e o crescente fenómeno
construído e mantido Marinhas de primeira linha, o poder naval das migrações em todo o Norte de África e do Levante também
da NATO serviu em grande parte como uma força de flanco para têm vindo a reforçar a ideia de que as nações europeias da NATO
dissuadir o que poderia voltar a ser a derradeira batalha terrestre estão com dificuldades em arcar com um esforço, cada vez maior,
na frente central europeia. para garantir a segurança marítima do seu continente.
No período da Guerra Fria, a Aliança dispunha de vários cor- Por outro lado, a maior força naval contribuinte da Aliança, os
pos de exército perfilados ao longo das fronteiras do bloco do Estados Unidos, está cada vez mais focada no Pacífico e opera cada
leste. “Olhos nos olhos”, os infantes e os cavaleiros dos dois lados vez menos forças-tarefa no Mediterrâneo. A intervenção militar na
mantinham uma sentinela dissuasora, garantindo assim a coexis- Líbia em 2011 e as recentes discussões sobre a possível interven-
tência pacífica ainda que, esporadicamente, houvessem provoca- ção na guerra civil Síria levantam questões sobre a capacidade da
ções de parte a parte. Mesmo após a queda da União Soviética, NATO projetar poder naval de forma eficaz, principalmente se a
os conflitos em terra continuaram a ser a principal preocupação plena participação da Marinha dos EUA não estiver garantida.
da NATO. Primeiro, ao lidar com a desintegração da ex-Jugoslávia
e, quase de seguida, quando assumiu o papel central no conflito Entre as principais Marinhas da NATO várias tendências são
Afegão, do qual, só ao fim de uma década e meia começou a dar evidentes: são cada vez menores; têm menos navios hoje do que
os primeiros sinais de retirada dos seus dispositivos militares. há uma década e meia atrás; e, em alguns casos, o seu valor é
preocupantemente menor. Como se sabe, o número de meios
Enquanto os Estados Unidos garantem a preponderância do navais, por si só, não define todo o poder naval de um país para
poder naval da Aliança, alguns países, como o Reino Unido, a além das operações estarem cada vez mais centradas em rede,
França, a Espanha e a Itália, edificam capacidades de projeção mas continuam a ser o elemento estruturante desse poder.
de força global, enquanto outros optam apenas por gerar ou ad-
quirir capacidades específicas para complementar os poderes de Esta circunstância é especialmente relevante para operações
ataque e combate do aliado americano. expedicionárias em áreas mais distantes, tipicamente descritas
como blue waters out of area operations, em contraposição às
Apesar da Europa continental estar em paz, os claros sinais operações mais próximas em zonas costeiras, entendidas como
de ameaças a sul e a leste começam a levantar dúvidas sobre o brown waters operations.
MARÇO 2016 15