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REVISTA DA ARMADA | 523
eram extremamente formais e o campo de por falta de reforços, mantimentos e muni- as redes disponíveis – políticas, económicas,
batalha bastante ordeiro. As Guerras Napo- ções. Pouco mais de 2 décadas depois, a his- sociais e militares – para convencer os deci-
leónicas são o exemplo paradigmático desta tória já seria diferente. sores políticos inimigos de que os seus obje-
geração de guerras, que também incluiu, tivos estratégicos são inalcançáveis ou dema-
entre outras, a Guerra dos Sete Anos, entre 3ª GERAÇÃO DA GUERRA siado custosos, quando comparados com os
1756 e 1763, a Guerra da Independência benefícios percebidos”. Isso pressupõe tam-
Americana, de 1775 a 1783, e a Guerra Civil Na realidade, a guerra relâmpago con- bém procurar destruir o apoio da popula-
Americana, entre 1861 e 1865. Nesta última, duzida pelos alemães no início da II Guerra ção aos líderes políticos e corroer a vontade
tanto as tropas da União como as tropas Con- Mundial evidenciou como tropas com dessa mesma população em combater.
federadas ensaiaram vários ataques diretos grande manobrabilidade se conseguiam Para a prossecução desse objetivo, os
frontais contra tropas opositoras (típicos da 1ª sobrepor a forças estáticas entrincheira- atores das guerras de 4ª geração recorrem
geração de guerras). Todos falharam, levando das, mesmo que dotadas de grande capaci- abundantemente à guerra psicológica, à
a reequacionar as táticas de combate. dade de fogo. A 3ª geração revelou, assim, o guerra da informação e à propaganda. Ou
triunfo da mobilidade e da velocidade sobre seja, enquanto as guerras precedentes eram
2ª GERAÇÃO DA GUERRA a atrição, tendo representado o fim das táti- campanhas militares apoiadas por opera-
cas de combate lineares. O grande impulso ções de informação, as novas guerras de 4ª
Com efeito, no final da Guerra Civil Ame- para esta nova geração da guerra foram as geração passaram a ser, em grande parte,
ricana, o General Ulisses Grant (e não só) estratégias inovadoras concebidas pelo esta- campanhas de comunicação estratégica
já recorreu a trincheiras e a outras técnicas do-maior alemão, que permitiram colmatar apoiadas por operações de guerrilha, de
de camuflagem, começando a desenvolver as restrições ao desenvolvimento e à posse insurgência e/ou de terrorismo.
os traços característicos das guerras de 2ª de equipamento militar, resultantes do pós-I Relativamente ao terrorismo, importa cla-
geração. Esta geração da guerra ficou tam- Grande Guerra. De qualquer maneira, esta rificar que ele não é a materialização da 4ª
bém marcada pela introdução do carrega- nova geração de guerras também depen- geração de guerras, sendo antes uma das
mento pela culatra e dos canos estriados – deu bastante de algumas inovações como (várias) manifestações desta forma de confli-
e, numa fase posterior, das metralhadoras carros de combate, infantaria mecanizada, e tualidade. Por isso mesmo se considera que
– que trouxeram maior alcance, melhor pre- posteriormente helicópteros e outros meios grupos como a al-Qaeda, o Hamas, o Hez-
cisão e maior cadência de tiro. As táticas de aéreos, que potenciavam a mobilidade e a bollah e o autodenominado Estado Islâmico
combate continuaram a assentar na linha, velocidade das forças. Naturalmente, o con- empregam táticas da 4ª geração.
mas passou a privilegiar-se o poder de fogo flito mais emblemático desta geração foi a II William S. Lind defendeu que o ataque ter-
da artilharia, em vez da grandeza do número Guerra Mundial, de 1939 a 1945, mas houve rorista de 11 de setembro de 2001 aos EUA
de tropas de infantaria, levando à máxima outros conflitos típicos, como a Guerra dos fora a primeira manifestação visível da 4ª
francesa: “a artilharia conquista, a infanta- Seis Dias, em 1967, e a própria Guerra do geração de guerras. Porém, Thomas S. Ham-
ria ocupa”. Com isso, acabaram as cargas de Golfo, em 1991 e 1992. mes – ao desenvolver o conceito – encontra
hordas de tropas alinhadas em direção ao sinais das guerras de 4ª geração mais para
fogo inimigo (características das guerras da 4ª GERAÇÃO DA GUERRA trás no tempo, defendendo que elas come-
1ª geração), pois – com as novas armas – isso çaram com a revolta Comunista liderada por
seria puro suicídio. Na 2ª geração, privilegia- Entretanto, segundo esta teoria, os con- Mao Tse-Tung na China e foram evoluindo
vam-se forças de dimensão mais reduzida, flitos continuaram a evoluir e surgiram as sucessivamente em guerras como a do Viet-
capazes de se camuflarem melhor e de se guerras de 4ª geração, que se caracteri- name e a da Nicarágua, bem como na Inti-
movimentarem mais depressa, atacando os zam, essencialmente, por um esbatimento fada dos Palestinianos, até rebentarem em
flancos e/ou a retaguarda do inimigo. Além das fronteiras entre guerra e paz, e por um pleno coração dos EUA, a 11 de setembro
disso, as guerras desta geração caracteriza- regresso à conflitualidade típica da era pré- de 2001.
ram-se pela disseminação do apoio de fogos -moderna, com o estado-nação a perder o Feita esta apresentação do modelo gera-
e das comunicações rádio. monopólio da ação bélica, devido ao envolvi- cional das guerras, deixo para o próximo
O exemplo paradigmático desta geração mento de atores não-estatais (como grupos mês uma análise crítica a este modelo, pro-
conflitual foi a I Grande Guerra, de 1914 a de guerrilha, grupos insurgentes, terroristas, curando identificar as suas principais lacunas
1918, mas a ofensiva alemã de 1918, lide- etc.). Thomas Hammes – um dos mais ati- e os seus méritos mais significativos.
rada por Ludendorff, já revelou uma nova vos pensadores sobre esta temática – defi-
forma de condução da guerra, baseada no niu as guerras de 4ª geração como formas Sardinha Monteiro
movimento, que só não obteve mais sucesso evoluídas de insurreição que “utilizam todas CMG
3ª GERAÇÃO DE GUERRAS 4ª GERAÇÃO DE GUERRAS
A blitzkrieg (guerra relâmpago) marcou o início das guerras da 3ª geração. O ataque terrorista de 11SET marcou a chegada das guerras da 4ª geração.