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REVISTA DA ARMADA | 523








                                                                Fotografias cedidas gentilmente por Rui Caria, jornalista da SIC, que acompanhou a missão do navio.



















                                                              Cerimónia no cemitério de Mount Carmel.


           St. John’s é um porto cuja história é indissociável da história das   VISITA INESPERADA
          campanhas da frota portuguesa de pesca à linha do bacalhau no
          mar da Terra Nova e na Gronelândia. Foi, até ao início dos anos   A meio da primeira tirada identificou-se nos nossos sistemas
          70, abrigo para milhares de pescadores portugueses, e paragem   uma  embarcação  de  pesca  de  Vila  do  Conde  que  não  estava
          obrigatória para o reabastecimento de isco fresco, mantimentos,   abrangida pela convenção da NAFO, tratando-se de uma embar-
          água e combustível.                                 cação  com  27  metros  de  comprimento  e  com  capacidade  de
           Ainda hoje a visita a St. John’s reveste-se de significado espe-  permanência no mar até cerca de 75 dias consecutivos. Por esse
          cial. As guarnições dos navios da Marinha não ficam indiferen-  motivo  e  por  termos  encontrado  uma  embarcação  de  pesca
          tes à cerimónia, singela mas cheia de significado, realizada em   portuguesa numa área tão longínqua, aproximámo-nos com o
          homenagem  ao  pescador  português  Dionísio  Esteves,  falecido   intuito de deixar fruta fresca e jornais em suporte digital.
          em 1966 no mar da Terra Nova, que fez parte da tripulação do   A  rotina  da  embarcação  de  Vila  do  Conde  foi  interrompida
          lugre bacalhoeiro Santa Maria Manuela, um dos muitos navios   por uma visita inesperada. “Foi uma alegria aparecer um navio
          que pertenceu à frota portuguesa de outrora.        da Marinha Portuguesa aqui, nem imaginávamos que pudesse
           Este evento de homenagem iniciou-se na Basílica de St. John´s   acontecer  estando  nós  tão  longe  do  nosso  país”,  revelou-nos
          the Baptist com a leitura de um sermão proferido por Sua Exce-  emocionado o mestre da embarcação.
          lência Reverendíssima, o Arcebispo de Newfoundland and Labra-
          dor, bem como a leitura de um tributo ao pescador Dionísio Este-  CONCLUSÃO
          ves. No final da cerimónia, uma delegação de bordo deslocou-se
          junto da campa do pescador Dionísio Esteves, no cemitério de   No período da missão, o NRP Viana do Castelo navegou mais de
          Mount Carmel, a fim de colocar uma coroa de flores.   500 horas e percorreu 7000 milhas náuticas, realizou uma intensa
           É por demais evidente que a comunidade local canadiana   patrulha  e  vigilância  na  área  contribuindo  para  a  proteção  do
          ainda hoje mantém fortes raízes com Portugal, de que são disso   ecossistema marinho e, indiretamente, para a salvaguarda de
          exemplo  também  os  diversos  eventos  de  cariz  protocolar  que   um desenvolvimento económico sustentável, e só missões desta
          continuam a ser realizados sempre que os nossos navios visitam   natureza mitigam a depredação desmesurada dos recursos. Os
          aquele porto, o que indubitavelmente contribui para o estreitar   dividendos são óbvios: a redução do impacto ambiental negativo
          de laços entre as comunidades dos dois países.      que a pesca abusiva poderia acarretar numa região que hoje se
                                                              constitui como importante fonte de alimento mundial – o fundo
          AUXÍLIO EM ÁGUAS INTERNACIONAIS                     do mar dos Grandes Bancos da Terra Nova.
                                                               Os navios da Marinha, ao longo dos anos, têm assim propor-
           A missão  ficou  também  marcada  por  outro  momento  rele-  cionado aos inspetores comunitários e à DGRM os meios para o
          vante, que foi o apoio médico a bordo de um navio de pesca   desempenho da sua missão na área NAFO, honrando os compro-
          espanhol.                                           missos assumidos por Portugal em matéria de participação nas
           Um pescador de nacionalidade indiana queixava-se de dores   tarefas de controlo daquelas áreas.
          abdominais e a médica deslocou-se ao navio para prestar ajuda.   À chegada à BNL, no dia 30 de agosto, a missão foi concluída
          Aparentemente  seriam  dores  causadas  pelo  esforço  dos  tra-  com a consciência de que o navio patrulhou e apoiou a fiscaliza-
          balhos de pesca que chegam a durar 22 horas consecutivas. A   ção nos Grandes Bancos da Terra Nova, dando também um con-
          médica aproveitou esta curta visita para consultar outros tripu-  tributo positivo e determinante para reforçar os laços existentes
          lantes do navio (as embarcações que operam nas áreas da NAFO   entre Newfoundland and Labrador e Portugal, assim como man-
          permanecem meses a navegar e a operar nesta área, em que os   ter viva a memória dos pescadores da “Portuguese White Fleet”,
          pescadores dormem geralmente duas horas por dia, estando   cuja existência constitui parte significativa da nossa história.
          sujeitos a doenças e lesões que nem sempre podem ser tratadas                                       
          a bordo).                                                        Colaboração do COMANDO DO NRP VIANA DO CASTELO


                                                                                                 NOVEMBRO 2017  9
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