Page 116 - Revista da Armada
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céu de núvens soltas, algum balanço e muita por- deixou de se fixar no Norte e oscilava, doida. Gago
caria.» Observações sucessivas do Sol e largadas Coutinho sugere governar pela de ré e vai passando
de bóias de fumo iam permitindo co rrigir o rumo. as indicações ao companheiro. Este procura gover-
Um navio de passageiros teve o espectáculo insó- nar pela direcção das vagas e pela sombra dos estais
lito de ver um avião no mar a centenas de milhas nas asas do avião. Sacadura Cabral, ao fim de duas
da terra. Ao fim de 8 horas e 37 minutos de voo, horas, tem uma ideia - instala um trapo entre a
perco rridas 705 milhas, amaravam em Las Palmas, caixa da ag ulha e a fuselagem. A vibração atenua-se
fora do porto. Um salto na crista das vagas parte e a agulha volta a fixar-se. É um alívio! Gago Cou-
dois cabos de ligação das asas aos flutu adores tinho felic ita-o . As bóias de fumo, naquele mar,
evidenc iando a frag ilidade do material... O hidro quase não se enxergam. As rectas do So.! co rtam
vem até junto do «5 de Outubro» e amarram à popa. o rumo ainda muito agudas e não permitem tirar
Abraços de felicitações! Teleg ramas para Lisboa grandes conc lusões. Às 13.00 h Gago Coutinho anota
e o entusiasmo acende-se por todo o País. no Livro de Recados: «Olhe que é preciso sermos
No Mundo, já se fala deles ... rijos para estarmos a fazer isto tão à vontade.»
A 5 de Abril, depo is de terem ido até Gando, para Às 13.22 h observa a meridiana e tem um ponto
tentarem ali uma descolagem com peso de gaso lina de confiança. De vez em quando é prec iso dar à
sufic iente, e após três tentativas sem sucesso desde bomba para tirar a gasolina dos tanques de baixo
o dia 3 e algumas avarias em cabos de ligação das para o tanque de serviço. CercÇ). das 15.00 h, anota:
asas aos flutu adores, erguem-se fin almente no ar «Veio-me gaso lina às ventas!». Às 17.30 h avistam
às 8.35 h, com 240 galões de combustível e co m água terra. Às 19.1 9 h pousam nas águas de Porto Grande,
a entrar num dos flutu adores. Sacadura Cabral, em S. Vicente. Sacadura Cabral tinha estado quase
em face das avarias, resolve demandar S. Vicente (con tinua na pág. n.O 8)
o «Fairey-17. , ao partir para a Baía, deixando o cais do Recife.
na esperança de uma melhor assistência técnica
ao avião. Nesta altura, Sacadura Cabral já tinha a
certeza de que não poderia chegar de Cabo Verde
a Fernando Noronha porque o avião não possuía
autonomia para isso ... A etapa Gando-S. Vicente
foi mais emoc ionante que a anterior. O tempo não
estava grande co isa ... Havia balanço e vento forte
que, felizmente, ajudava. O mar, em baixo, era
cavado! Se o moto r parasse seria o fim... Mas não
parou. Em compensação a agulha, a certa altura,
A partida do «Portugal. para o vôo de ida e volta aos PenedOS ,
vendo-se fundeados junto da ilha Fernando Noronha o «Repú-
blica · da marinha portuguesa, e o «Pa-rá . da arrilada brasileira.
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