Page 118 - Revista da Armada
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o «Fairey-16 . (O segundo hidrovião utilizado pelos aviadores), sobrevoando os Penedos de S. Pedro e S. Paulo.
(continuação da pág . n. O 6)
11 horas aos comandos. Telegramas para Lisboa A navegação foi um primor de técnica. O vento,
e foi um delírio! Seguem em ombros para casa felizmente para eles, colaborou . Procuraram-no
do Governador. Chora-se de alegria. O Governo a diversas altitudes. Na parte final da etapa, já na
promulga um decreto baptizando o avião de « Lusi- aproximação dos Penedos, observava de quarto
tânia». No Brasil o entusiasmo é crescente. Seguem em quarto de hora. Por fim avistam os Penedos na
navios brasileiros para as águas de Fernando proa. Tinham cerca de 4 I itros de gasol ina. Eram
Noronha. Porém, há uma opção a fazer - o avião 17.15 h quando amaráram em mar de vaga. Um
não chegará de Cabo Verde àquela ilha. Sacadura, flutuador partiu-se e o avião começou a adornar.
porém, não desiste. «Escalaremos os penedos de Chegaram as embarcações do «Repúb lica» e re-
S. Pedro!» É uma opção corajosa porque é total- colheram os aviadores e todo o material essencial ,
mente dependente do estado do mar e portanto do desde I ivros a instrumentos. O «Lusitân ia» afun-
factor sorte. Seguem de S. Vicente para a Praia às dava-se ... Tinha estado no ar 11 horas e 21 minutos
3.55 h de 17 de Abril a encurtar caminho. E largam e percorrera 908 milhas. Gago Coutinho levara-o
dali, às 5.55 h de 18 de Abril, carregados de gaso- a um ponto, no meio do mar, ao fim de todo esse
lina quanto podem, para a mais aventurosa de todas tempo! Era a prova in.ilud ível de que a navegação,
as etapas da travessia. Às 8.00 h Sacadura observa mercê do seu sextante e do seu método, oferecia a
que não tem gasolina para mais de dez horas de maior segurança. A repercussão desta memorável
voo. O vento, ainda por cima, abrandou . Situação etapa foi enorme. O Governo faz seguir para Fer-
angustiosa! Prosseguir ou voltar para trás? Saca- nando Noronha novo avião que, ao efectuar a tra-
dura Cabral interroga Gago Coutinho e o Livro de vessia dos Penedos até ao Rec ife, se vê obrigado
Recados reco lhe essa troca de mensagens dra~' a descer no mar após seis horas de voo por avaria
máticas: do motor. Os dois aviadores passaram uma no ite
«Resolva livremente. Concordo com tudo o que a pairar no alto mar até que um navio ing lês, vendo
decid ir. Se voltarmos para trás não poderemos os seus sinais . lum inosos, os reco lheu . Ago ra é o
mais voltar por não haver garant ia de chegarmos Brasil que mob iliza boas vontades e oferece pouco
- se segu i'rmos, ta lvez cheguemos, se o vento depois novo avião que foi baptizado de «Santa
refrescar - verdadeiramente estou embaraçado.» Cruz». Foi com este aparelho que, finalmente, par-
«Quantas horas há de gaso lina? Leves gastamos tindo de Fernando Noronha, alcançam terra firme
menos. Sete ho ras? » do Brasil, poisando nas águas do porto. do Rec ifa
«São 10.30 h verdade iras do lugar mais 7.30 h às 11.40 h do dia 5 de Junho de 1922. Estava com-
igual a 18.00 h pôr do Sol e leves gastaremos pletada a travessia aérea do At lântico Su l!
menos talvez !»
«Podemos voar 7.30 h nem mais um minuto - a que Do Rec ife ao Rio de Janeiro fo i a apoteose!
distância estaremos da Praia?» Em todo o Portugal o feito foi vivido em amb i ~nte
«Avalio sem saber ao certo 350 milhas. Só daqui de grande exaltação patriótica.
a uma hora!» Com ele granjeara a aviação portuguesa o seu maior
«Daremos t iros se faltar a gaso lina.» título de glória.
E Gago Coutinho, sereno, ia continuando as suas
observações. O. Lemos
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