Page 371 - Revista da Armada
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- Atenção,  peças!  Abriremos  fogo  dentro  de  minutos.   de tiro do inimigo cai,  df,!  chapuz, um  dilúvio  de metralha.
        Tiro  a  rasar  o  tarrafe,  onde  não  houver  clareiras.   E  os  «turras»  esmorecem.  Avistam-se  vultos  que  fogem
        E o navio  prossegue a sua marcha. Ultrapassado mais um   pelo  palmar  imenso.  Mas  as  peças  do  navio  continuam
        cotovelo  do  rio,  surge,  como  por  encanto,  uma  vasta  a  rugir,  enviando  a  sua  mensagem  de  morte.  A  voz  dos
        clareira  a  bombordo.  Deitados  no  declive  protector  da   «fuzos»  soa  de  novo:
        margem,  um  pouco  a  esmo,  os  «fuzos»  respondem  ao   - Tigre!  Tigre!  Aqui  Meta!  Vamos  perseguir  o  inimigo.
        ataque dós  «turras» . Este vem  do matagal, a uns quinhen-  Intensifique o  fogo  durante cinco  minutos  e  depois  pare.
        tos  metros  do  rio.  Atento,  telefone  da  artilharia  bem   Diga  se  entendeu.  Escuto.
        seguro,  o  comandante  abarca  toda  a  cena.  O  olhar  frio   - Meta!  Meta!  Aqui  Tigre!  Entendido e terminado - res-
        aprecia,  fugaz,  a  majestade  virgem  e  selvagem  do  local.   ponde Simão,  no  fecho  da comunicação,  dando  cumpri-
        Ao  mesmo tempo inteira-se da situação.  A sua voz ressoa,   mento  a  instruções  do  comando.
        supitâneamente,  seca  e  autoritária:               O  fogo  inimigo  cessara  completamente.  Os  nossos  pro-
        - Peça  de  vante!  Atenção  à  ordem  de  fogo.  O  alvo  é o  jécteis  luminosos  fendem  o  ar,  penetram  em  sinistros
        vértice  do  mangai  à  esquerda.                    assobios  pelo  palmar  bravio.  As  árvores,  atingidas,  par-
        E  a  ordem  estruge:                                tem-se  e  dobram-se  para  o  chão.  Aves  de  grande  porte
        - Fogo!                                              fogem,  crucitando, furiosas ou  assus~das. A paz aparente
        A  peça  de  van te,  cano  longo,  negro  e  lustroso,  vomita   do  matagal  fechado  é  sacudida  pela  sinfonia  da guerra.
        ferro e fogo.  Em ritmo alucinante os disparos sucedem-se.   E  as  peças,  no  seguimento  do  plano concertado, calam-se
        Uma  palmeira  atingida  a  meio,  lá  ao  longe,  verga-se,   de  súbito.  Um  curto  período  de  silêncio  adumbrado
        vencida,  e  tomba  no  solo.  E  a  voz  do  comandante volta   e  hostil  baixa  sobre  toda  a  zona.  Depois,  ante  o  olhar
        a  ouvir-se:                                         espantado  dos  homens  do  navio,  os  «fuzos»  erguem-se
        - Peça  de  ré!  Fogo!                               das suas posições e,  dobrados sobre si  próprios, metralha-
        Da peça de ré fogem,  riscando o espaço, as  «traçadoras».   doras  apontadas  para  a  frente,  iniciam  corridas  curtas
        Na  margem  oposta  levanta-se  enorme  coluna:  o  navio   e  rápidas  pelo  terréu  ervoso,  na  direcção  do  inimigo,
        fora  alvejado  com  morteiros.  São  ordenadas  correcções   desprezado  o  momento  de  apuro,  corações pulsando  no
        de  tiro. O patrulha desentranha-se na  sua fúria  de ataque.   desejo  da  vitória,  juventude  heróica  e corajosa que  tudo
        Paira, elegante, por uns  momentos, para logo se movimen-  dá  e  nada  pedI'.
        tar célere, obedecendo à solicitação dos hélices. Os homens,
                                                                                              A.  Santos  Coentro
        nas  asas  das  pontes  e  nas  escotilhas,  espiam,  à  sorrelfa,
        o  espectáculo  a  um  tempo  grandioso  e  trágico.  Na  zona                                2. -len.  SE
                                                                                                       0





        OS  LusíADAS - Reimpressão  da
        famosa  edição conhecida por «do
                                                                         bibliografia
        Morgado  de  Mateus »

        A Livraria  Sam  Carlos  meteu  om-
        bros  à  tarefa de  reed itar,  em  fac-
        -símile,  a  famosa  edição  de  «Os   publicar,  em  ed ição  da  Minerva,  I  volume  do  «Monasticon » - «Eu-
        Lusíadas » pub licada em  Paris, em   o seu romance  «Milagre em S. Bar-  rico, o  Presbítero »,  com uma nota
        1817,  pelo  dr.  José  M.  de  Sousa   tolomeu ».  Os  le itores  de  «Viúvas  introdutória  de  Vitorino  Nemésio
        Botelho (Morgado de Mateus ). Tra-  de  Vivos » e  «Madre  Antiga»  têm,  e  comentários e  notas explicativas
        ta-se  de  uma  obra  rara,  explên-  agora, em «Milagre em S. Bartolo-  de  A.  Lucas,
        dida  na  profusão  e  magnificência   meu »,' ensejo de apreciar Joaquim
                                           Lagoeiro  no  seu  estilo  directo  e
        das  ilustrações  e  da  composição   fácil,  que  é  uma  autêntica versão  *******
        gráfica e que tem s ido considerada
        a  melhor  e  a  mars  bela  edição   poética da vida no  que e la  tem de  A  MAGNíFICA  AVENTURA -por
        de  <, Os  Lus íadas ».            mais  autêntico  e  real.         Norberto  Lopes
        Surg iu  há  pouco  nos  escaparates
        das  livrarias.                    *********                          Publicações Europa-América aca-
                                           EURICO,  O  PRESBíTERO  - de  bam  de  lançar  um  novo  trabalho
        **                ****             Alexandre  Herculano              de Norberto Lopes, cujo conteúdo

        MILAGRE  EM  S.  BARTOLOMEU                                          se  a licerça  na  conferência  que  o
        - (ficção) por Joaquim Lagoeiro    Fazendo parte de uma ed ição com-  autor  fez  na  Sociedade  de  Geo-
                                           pleta das obras de Alexandre Her-  grafia  na sessão comemorativa do
        A  conc luir  o  seu  «Tríptico  da  cu lano  que  a  Bertrand  se  propõe  Cinquentenário  da  1. a   Travessia
        Terra »,  fez  Joaquim  Lagoeiro   levar  a  cabo,  surgiu  há  pouco  o  Aérea  do  Atlântico  Sul.

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