Page 193 - Revista da Armada
P. 193
o Marquês de Pombal
e a Marinha
Quando D. José subiu <la poder. em 1750. nomeou no-
vos ministros da Guerra e da MlIrinha. Para o primeiro
cargo foi nomeado Sebastião José de Carvalho e Melo
que linha 7xer.cido funções diplomáticas. em Londres c
Viena de A uslria c possuia todas as qualidades para ser
um grande ministro. e mbora tivesse um feitio aulOritário
e procurasse impor sempre a sua vontade. Para o segun-
do. O. José escolheu Diogo de Mendonça Corte-Real.
doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra, que
exercera também O cargo de embai~adordo nosso país em
Haia c fora provedor da Casa da (ndia e conselheiro de
Fazenda.
Cedo começaram os connitos entre Diogo de Men-
donça Corte-Real c Carvalho e Melo. O. José encarregou
este de dar execução ao tratado de Madrid. de 13 de Ja-
neiro de 1750, que fixou os limites dos territórios de Por-
tugal e Espanha na América do Sul, e esta nomeação deve
ter magoado D iogo de Mendonça, cuja pasta incluía tam-
bém os negócios ultramarinos, o qual passou a fazer áspe- A mm «N.( S." Ju Ailldu~ S. Ptdro dI' Alcômoro. (/759-/814) foi o pri-
ras críticas aos órgãos de governo e a Carvalho e Melo, IIIl'irof/uvio/lItu;mlo lidg/lu no Arstnul do Marinho. após aSilo rl'COnSlfII-
queixando-se das interft?rências dele no seu departamen- ção Qrdl''II./Ja pt/o marq/lls (If POlllbol dl'po;sdo 11'''01110/(1 dI' 1755 (gra-
vllradalpom).
to. Daqui resultou a inimizade entre os dois ministros.
Diogo de Mendonça acabou por ser demitido do seu rainha, com a princesa D. Maria, sua filh a e futura rainha
cargo. No decreto que o exonera censura-se o seu proce-
D. Maria I , com a qUóll desejava casar aseu irmão(l). Este
dimento, que causara «grande desordem e inquietação casamento não agradava a O. José ne m a Carvalho e
para o serviço régio» por ter revelado segredos do Estado Melo. Contudo, Diogo de Mendonça era um homem es-
e excitado com bárbaros e infiéis pretextos a paz, religião, clarecido, culto e bem intencionado, na opinião do conde
civilidade e obediência que tinha por natureza, homena- de Merle que foi ministro da França em Lisboa nessa
gem, fidelidade e obrigação de guardare'). O despacho época.
real foi-lhe comunicado por D. Luís da Cunha Manuel Não era brilhante a situaç.io das forças armadas noiní-
(que substituíra Carvalho e Melo na pasta da Guerra em cio do reinado de D.José. Os castelos e fortalezas desmo-
5 de Maio de 1756. passando este para a do Reino) e pelo ronavam-se. Por economia não se fazia promoções de ofi-
desembargador João Inácio Dantas. Diogo de Mendonça
ciais do Exército e da Armada e havia regimentos apenas
devia sair de Lisboa no prazo de três horas e passar a resi- com três ou quatro oficiais. Iodos nos postos subalternos.
dir num lugar a quarenta léguas da capital, onde nunca onde se conservavam até envelhecer. Em 1754 o nosso
mais devia voltar. Dizem que, depois de ouvir a sua exo-
Exército tinha um efectivo de apenas 18 mil homens(').
neração. jurou não ter praticado qualquer acto que mere-
Nãoera melhor a sitU'lçãoda Marinha de Guerra. que dis-
cesse castigo real. Foi logo levado sob escolta para os su-
punha somente decincoou seis naus e pouco maior núme-
búrbios do Porto e a seguir para Salreu. Mais tarde, foi ro de fraga tas. em estado miserável (').
deportado para Mazag.io, onde viveu até ao abandono
Nos cinco primeiros anos do seu governo, durante os
desta pnlça, em 1769, e acabou os seus dias em Peniche
quais foi ministro da Guerra. Carvalhoe Melo pouco mais
(outros dizem nas Berlengas). Nunca se soube ao certo a
fez do que mandar reparllr as fortificações e quartéis. Em
causa da sua desgraça. Para além do seu feitio recalcitran- 1754 houve também uma numeros .. promoção de oficiais
te que o levava a não aceitar de bom grado as interferên-
do Exército e da Armad ...
cias de Carvalho e Melo na sua pasta, parece que prepa-
rou com a rainha D. Mariana Vitória, mulher de D. José, (') « 1l1',·(mlllfÕ('s~ . dI' 101<',,1111' RIIIIlIII.
uma entrevista do infante D. Luís de Espanha, irmão da (') ~ O MUf(lllb dI' PUlllh/11 t' f/ SII/I F:fI()('u- . dI' }mio Lúcio 0/"
AUI·,·do.
(') . Melllóri/I floru II Hi,flóriu tio Gr"'III,· Mllrqlll!.f d" PomhO/lm)
( ') Dl'crI'IO dt JI de M/lrfO dt 1756. CmrCtlfllelllt li M(lrillh(l . , dl'}<lsi MI/riu DimItiS Pfrf!iri/ dI' Amlrm/" .
11