Page 194 - Revista da Armada
P. 194
Entretanto. dera-se o terrível terramoto de I de No- Grão-Pará e Maranhão. Segundo um seu contemporft-
vembro de 1755. Carvalho e Melo enfrentou a situaç:io nco. era violento e descomedido nas palavras. mas tinha
com grande energia e poder de decisão. Dizem que bom coraçi'to. e actuava com justiça o rectidão. Exerceu
O. José lhe perguntou nessa ncasiflo o que se devia fazer. grande actividade nas suas funções de ministro. e nunca
lIO qUI! ele lhe respondera com a célebre frase: «enterrar faltava um dia ao despacho na Ribeira das Naus. No seu
os mortos c cuidar dos vivos»('). Tomou então todas as tcmpo construíram-se muitos navios de guerra em Lisboa
mcdidas que se impunham : m,mdou socorrer os fe ridos e no BrasilC) .
que tinham ficado lioterr:ldos nos escombros da cidade de Uma medida importante tomada pelo marquês de
Lisboa. chamou Iropas para impedir os roubos e castigar Pombal foi a fundaç<1o do Colégio dos Nobres. em 1761.
os ladrões que assaltavam as lojas e as igrejas, e tomou Neste colégio devia fu ncionar um curso matemático com
providências para o regresso à capital dos seus morado- :1 duração de trés anos. destinado a quem quisesse seguir
res. que tinham fugido espavoridos. Mandou também so- a carreira das armas. mas para a admissão no colégio em
correr Setúbal e as povoações do Algarve atingidas pelo necessário ser nobre. Embora criado em 7 de Março de
terramoto. Além disso, iniciou imediatamente os traba- 1761. só começou a funcionarem 1766. sendo os professo-
lhos para a reedificaçflo de Lisboa, segundo os projectos res quase todos estrangeiros. Contudo. o curso matem,íti-
de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel. Em recompensa co teve curta duração. visto ter sido extinto em [772. devi-
dos seus serviços, O. José deu-lhe entlio o título de conde do ao fraco aproveitamento dos alunos. por serem todos
de Oeiras e, mais tarde, o de marquês de Pombal. muito jovens. Passou. depois. a ser frequentado na Uni-
De salientar que. depois do terramoto, passou a lIC- versidade de Coimbra. limiwndo-sc o Colégio dos Nobres
tU'lr como verdadeiro primeiro-ministro, embora fosse ao ensino de humanidades. até ii sua extinção em 1873.
somente ministro do Reino. Mas O.José depositava nele Durante os nove anos em que Mendonça Furtado foi
uma confiança ilimitada. e contribuiu para o seu papel ministro. foram publicadas disposições de grande impor-
preponderante no governo. Nada se fazia sem o beneplá- t.inci .. para a Marinha. Assim. por decreto de 2 de Julho
cito de Pombal. de 1761. foi criado um corpo de 24 guardas-marinhlls.
Depois da exoneração de Diogo de Mendonça Corte- equiparados a alferes do Exército. Para a admissão era
-Real. foi nomeado ministro da Marinha Tomé Joaquim necess.írio a prova de nobreza. Presume-se que estes
da COSI<! Corte-Real. O novo ministro não tinha qualida- guardas-marinhas. para além da instrução prática que re-
des para o desempenho do cargo. e parece que ficou a de- cebiam a bordo. frequentavam as aulas do cosmógrafo-
ver a sua nomeação a Pombal. Mais tarde viria a ser acu- -mar. à semelhança do que estavll determinado para os ca-
sado pelo próprio marquês. por ter criticado as persegui- pitães-tenentes no «regimento dos capitães-de-mar-e-
çõcs queeste fez ao jesuítas, após o atentado contra a vida -guerra e mais oficiais das fragatas»(~). Ainda em 1761 fo-
de O.José. em 3 de Setembro de 1758. Foi então destituí- ram estabelecidos os uniformes dos oficiais do Exército e
do do c:lrgo de ministro e desterrado para o castelo de da Armada.
Leiria. onde viria a fa lecer passados alguns anos e). No ano seguinte. foi crilldo a 21 de Março. o posto de
O marquês de Pombal, logo após o terramoto, tomou tenente-de-mar e a 10 de Junho. o de sargento-de-mar-c-
medidas para a reconstrução dos arsenais do Exército e -guerra. Neste mesmo ano. foram criados,por decreto de
da Marinha . precisamente nos mesmos locais onde ante- 30 de Junho. doze tenentes-da-mar e dezoito gutlrdas-ma-
riorrnente se fundiam as peças e se construíam os navios rinhus para as fnlgat;ts mandadas construir no Porto, com
de guerra. Os novos estaleiros de Lisboa foram dotados as taxas pagas pelo comércio daquela cidade, e destinad'ls
de alguns melhoramentos. cntre os quais um dique para ao serviço de guarda-costa. Estcs oficiais tinham residên-
a querenagem dos navios. Em 1759 foi lançado à água o cia na cidólde do Porto. e frequentavam a aula náutica ali
primeiro navio construído no Arsenal da Marinha. a nau estabelecida para a sua instrução. Ainda em 1762. foram
.. Nossa Senhora da Ajuda e S. Pedro de Alcãntara», de 68 determimldas as salvas que os navios de guerra deviam fa-
peças. de que foi construtor Manuel Vicente Nunes. zer às fortalezas e a forma de retribuição destas. e foi dada
De referir que em 1757 foi cri'ldo de novo o posto de nov:1 denominaçito :Ias oficiais generais. Os sargentos-
capitão-general da Armada Real. sendo provido nessas -mores de batalha passaram a chamar-se marechllis-de-
funções D.Joi'to da Bemposta. fi lho natural do infante -campo; os mestres-de-campo generais. tenentes-gene-
D. Francisco. irm'-Io de D. Joi'to V. No ano seguinte foram rnis: e os generais governlldores de armas. rmlrechais do
mandados construir faróis nas Bcrlengas. S. Lourenço Exército. De notar que estes postos também eram exerci-
(Bugio). Guia. S.Julião da Barra. na foz do Douro e em dos por oficiais da Armada.
Viana do Castelo. para faciliwr a navegação na costa de Mas uma das medidas mais importantes tomadas du-
Portugal. rante o governo de Pombal foi a concessào. em 1765. de
Em 1760 foi nomeado ministro da Marinha Francisco liberdade de navegação p'lra os portos do Brasil. com ex-
Xavier de Mendonça Furtado. irmão do marques de Pom- cepção dos do Grão-PaTá. Maranhão. Pernambuco e Pa-
bal. O novo ministro ficou a acumular estas funções com raiba. para os quais o exclusivo de navegação e comércio
as de secrel<írio de Estado adjunto da pasta do Reino e est'lv.I entregue ti companhias criadas pelo marquês. res-
foi um dos principais colaboradores do marquês. Ante- pectivamente. em 1755 e 1759. Na realidade. o receio dos
rionnente. tinha sido oficial da Armada e governador do ataques dos piratas berberescos obrigava a fazer o comér-
cio para o Brasil e as outras prov.incias ultramarinas por
n s"gWUllllllglllu (mlOr"s ,'IUI fmsI! foi dilll flelo IIIlIrquh de A 10m"
"",lo pdo mflTlllli'.v d .. Pombal. n . R,'cordllf,;õt'S •. ob. C/r.
t') _Hf.wóriu do Rtüu.ulo III.' D. Jus': •. Ilt SillllioJosi da 1-/1: Sorilll/o. (' ) Códiu /85 da Colecf,;do Pombr,fit,ll. ria Biblioteea Nacialllll dt'
",,1. I. U shO/I.
12