Page 25 - Revista da Armada
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AQUILO QUE A GENTE NÃO ESQUECE (6)
No saco dos cangurus
A fragata «Comandante João Belo,., nessa altura no- ao comandante que, com o seu convite. parecia perguntar
vinha em folha , fazia a sua comissão em Moçambique. Vi- a um cego se quer ver.
sitei-a na Páscoa de 1969, aquando da visita pastoral do ca· Ql~em me dera, disse-lhe cu, mas isso não depende de
pelão-mor das Forças Armadas, D. António dos Reis Ro- mIm.
drigues, àquela antiga província ultramarina. Acompa- O tempo passou-se. Quase um ano. E em Janeiro de
nhei o insigne purpurado castrense nas suas visitas ao 1970, com grande admiração do comandante e da própria
Niassa, Nampula, Porto Amélia e Beira. E foi aqui, na guarnição, lá estava eu a bordo para seguir para a Austrá-
Beira, que me encontrei com a guarnição da «Comandan- lia que, nesse mesmo ano, celebrava o bicentenário da sua
te João Belo», à frente da qual estava o então capitão-de- independência. Da vida a bordo, excelente, recordo-me
-fragata Leonel Cardoso. Sei que fiz ao pessoal duas ou duma proeza de que fui protagonista. Muitos dos elemen-
três palestras àcerca do significado da visita do senhor bis- tos da guarnição que ainda hoje encontro, recordam-me
po, chamando-lhe a atenção para a quadra festiva que se isso mesmo. Sempre que vejo o engenheiro Martins Go-
vivia, a Páscoa, e preparando-o para tomar parte na Co- mes, o comandante Bola, o chefe Albino Leitão e muitos
munhão Pascal a que o prelado presidia na catedral da ci~ outros, lá vem a questão à baila. Não havia noite naquele
dade da Beira. navio que não houvesse festa. O meu acordeão dava uma
Um valente grupo de rapazes da guarnição tomou par· ajuda. Só que, a meio da festa fazia-se um intervalo para
te activa nas referidas solenidades, e a sua presença foi de rezar o terço. Da meia centena que sempre estava presen-
tal maneira benquista e apreciada que o senhor bispo fez te ninguém arredava pé. Todos rezavam. Depois, a festa
questão de se fotografar com o grupo. continuava. E vá lá a gente dizer que o homem do mar
Não sei porquê, talvez pelo êxito e pelo brilho com não é religioso! É-o tanto ou mais que os outros. E, com
que o pessoal da .. Comandante João BeIOl+ secomportou, música, é~o forçosamente.
o seu comandante fez~me um desafio: - Não quer vir até Mas, deixemos a vida a bordo, cansativa e incómoda
à A ustráfia comIOj'CO? como a de todos os navios.
Na realidade, já ouvira dizer que a fragata ia à Austrá- Passou-se ao largo das ilhas de Diego Garcia, em di~
lia. nâo se sabendo ainda a data da partida. Isso niio esta~ recção a Macau e Hong~Kong. Depois, ao largada .. Filipi~
Vil em causa. O que estava em causa era dar uma resposta nas e Indonésia, em direcção a Timor e Austrália. Desta
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