Page 50 - Revista da Armada
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~!lm j(ll1!ais viu: lillha mai.f de dois pés e al-  - E não pudesle alocá-la?   te,  mas  devagar,  mais  vale  deixá-la  em
           glllll(lS  polegadas  de  eXlellsão;  mellia-a   - Não qllis tefllar; 11m braço não é su-  paz.  Não acha, capitão? - E olhou de re-
           ("0111  <I  .1·IIIUIII.  Em  n'.I·IIIIUJ.  /limou-sI'  1/1'-  fllcieflle? Que faria eu se ficasse sem o ou-  lance para a perna de marfim.
           8m; .mbia o que ela ameaçava; e ei-Io am-  tro braço? E estoll em crer que Moby Dick   - Decerto.  Mas ela será caçada,  ape-
           pwado. Cpntudo, nada tellho a ver com o   ainda engole mais do que morde.   sar disso.  A  coisa maldita que mais valia
           seI/ braço de mel.'fim; 0111/1'10 coisa é cOllfra   - Bem, então - interrompeu BUllger  deixar em paz ~em sempre é a que mellos
           ,odas  as  regras  -  disse  ele,  apomando   -, eSlel/da-lhe  o  braço  esquerdo  como  atracção tem. E um íman! Há qllllntO tem-
           com o seu passador. -Islo é trabalho do   isco, para lentar recuperar o seu braço di-  po a  visle pela última vez? Qlle rumo se-
           capilão, e mio mel/; ordelloll ao carpimei-  reito. Sabem, cavalheiros-aqui inclinou-  guia ela?
           ro que o fizesse; mandou colocar na extre-  -se com muila gff/llillmlé e melodicamente   - Que DeliS me abençoe e amaldiçoe
           midade essa cabeça de malho, jlllgo eu que   diante de cada um dos dois capilães - , sa-  o  Diabp - exclamou Bunger,  caminhan-
           para  esmagar·a cabeça  de  alguém;  como   bem, cavalheiros, que os órgãos digestivos  do cabisbaixo em 10"'0 de Acab e fungaI/-
           telltOIl uma vez fazer à minha.  As vezes é   dà  baleia  são feitos  tão  misteriosamente  do  estranhamente,  como  um  cão.  -  O
           atacado por umas raivas diabólicas.  Está   pela Divi/1(1  Pmvülél/Ôll que lhe é absolu-  sangue deste homem (tragam-me o lermó-
           a ver esta marca, sir? - Tirando o chapéu   tameme impossível digerir sequer um bra-  metro!)  está  1/0  seu pomo de  ebulição;  o
           e afastando os cabelos mostrou uma cavi-  ço  de  homem?  Ela  também  o  sabe.  De  seu pulso faz estremecerestas tábuas, sir.
           dade,  seme/hame a uma taça,  no crânio,   modo que aquilo que considerais malícia   E,  tirando do bolso I/ma lal/ceta, apro-
           mas que lião evidenciava o mellor vestlgio   por parte da  Baleia  Branca não passa de  ximou-se do braço de Acab.
           de cicatriz,  nem sinal (llgum de jamais ter   inépcia.  Pois ela nunca teve a intenção de   - Arreda! - rugiu  Acab,  empurran-
           sido lima ferida.  - Bem, o capitão vai-lhe   engolir um único membro; pensa apel/as  do-o para a amurada.  - Homens para a
           cOlltar como isto apareceu aqui; ele sabe.   em  aterrorizar-nos com  as  suas  astú.cias.   baleeira! Em llue direcção ia ela?
              - Não,  eu não sei,  mas a SIlO mãe sa-  Mas ds  vezes ela é como o velho malaba-  - Sal/to  Deus! - exclamo!1 o capitão
           bia-o,  nasceu já com isso - redarguiu  o   rista,  um antigo paciente meu em  Ceilão,   inglés,  a q!lem era dirigida a pergllnta. -
           capitão.  - Oh, que solelle velhaco lU  me   que,  fingindo engolir facas,  engoliu real-  Que é que há?  Dirigia-se para leSle,  jlllgo
           saíste,  Bunger! lá teria havido a(guma vez   mente uma e lá ficou doze meses 01/ ainda   1'11.  O  vosso capitão é 101/co? - S/lssurou
           OIltro  BUllger  110  mundo  das  águas?   mais Olé que lhe dei um vOlI/ilório e,  vejam  a Fedallah.
           Quando morreres,  BUllger,  vai ser preciso   bem,  devolveu-me sob a forma de peque-  Todavia,  eSle pôs 11m  dedo nos lábios
           pôr-te  de  salmoura,  velhaco;  deves  ser  nas tachas.  Não houve a menor possibili-  e saltoll a aml/roda para pegar no remo da
           posto de  cOI/serva  para  as  gerações futu-  dade de digerir a faca e de a assimilar intei-  baleeira e Acab, Pllxando o moitão da ta-
           ras, meu patife.                   ramente.  Sim,  capitão  Boomer,  se fosse   lha,  ordenou  aos  marinheiros  do  navio
              Mas  que aconteceu  d  Baleia  Branca?   bastante lesto e basta/lle decidido para pôr  que se aprestassem para o descer.
           -interrompeu então Acab, que ouvira até   um braço de penhor para obter o privilé-  Um  momento depois  estava  de pé na
           aí,  com impaciéncia,  os aparles dos dois   gio de dar um enterro conveniente ao ou-  popa  da  baleeira e os homens de  Manila
           ingleses.                          Iro, então, podia reavê-lo; dê apel/as outra  saltaram para os remos.  Em vão o capitão
              - Oh! - exclamou o capitão maneta.   oportunidade  d  baleia  e  isso  depressa  inglês berrOIl para ele.  De costas volladas
           - Claro!  Bem,  depois  de  ela  ler picado,   acontecerá, e é lUdo.   para  o  navio  estral/geiro,  o  rosto  duro
           não a voltámos a ver durame algum tem-  - Não,  Bunger,  obrigado - respon-  como pedra, virado para o seu próprio na-
           po; e afé, como já disse,  eu lião sabia então   deli  o  capitão  il/glés  -, pode guardar o   vio,  Acab manteve-se de pé até abordar o
           quem era a baleia que me tinha pregado se-  braço qlle lá tem,  já que não lhe posso fa-  Pcquod.
           melhante  peça;  só  algum  tempo  depois,   zer nada; e depois ainda não a conhecia
           quando regressámos d Linha, ollvimos fa-  nessa altura; mas o outro não.  Para mim,
                                                                                    (Da ec/ição Publicllções EurofW·Amhica.
           lar de  Moby  Dick,  como tifguns lhe cha-  basta de  Baleia  Branca; desci lima vez ao   colecção Livros c/e Balso.
           mam, e assim soube quem era.      mar por causa dela, e isso basta. Seria uma      Z volllmes-n.'· Z0ge 2JO}
              - Voltaste.a cruzar-lhe a esteira?   grande glória matá-Ia,  bem sei,  e há  Ilela
              - Duas vezes.                   um precioso carregamento de espermace-  ••••••••••••••••••••



           HlSTÓRlAS  DE  MARINHEIROS




           68-A bordo," dos eléctricos






               De tudo que vai seguir-se posso   nha, para quaisquer análises de ro-  anormal teria ocorrido quando o con-
           garantir a autenticidade inteira.  Dos  tina.                        dutor, regressado à plataforma onde
           dois primeiros episódios fui testemu-  O carro, àquela hora - era muito  segu lamas,  denunciava,  no  ar con-
           nha  presencial.  Quanto  ao  último,   cedo -  ia  cheio, a trasbordar, com  gestionado  e  nos  gestos  bruscos,
           não tendo estado presente, garanto  larga predominância de trabalhado-  que se verificara mais um dos costu-
           a  seriedade  do  camarada  que  mo  res  destinados  ao  lado  oriental  da  mados conflitos com os passageiros.
           contou -  testemunha que também  cidade.                                O homem foi acalmando. Com a
           foi do incidente.                     Ficámo-nos  pela  plataforma  da  cobrança feita  e com  o carro já um
               Pois há muitos anos, era eu aspi-  rectaguarda, para evitar os  apertos  tanto aliviado, pressentira talvez, nas
           rante,  ainda com  a Escola Naval na  do interior.                   nossas fardas e na nossa juventude,
           Baixa Pombalina, tomei, no Terreiro   Num  determinado  momento  ou-  um pouco de compreensão que até
           do  Paço,  um  carro  eléctrico  para o  vimos  altercar  lá  para  diante,  mas  então lhe faltara.
           Poço do Bispo, na companhia de um  não ligámos importância. E só tomá-  -  Os senhores não imaginam o
           colega. íamos ao  Hospital  da  Mari-  mos  consciência  de  que  algo  de  que nós sofremos aqui!  ...

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