Page 58 - Revista da Armada
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Passou-se um mês. No fim da viagem, já nas proximida- tinha o mesmo nome, não aceitando ser apenas objecto de
des do Chinde, relembrando a nossa Nereida, recomendei exposição em qualquer museu, se tivesse libertado dele e,
ao Franque que passasse o mais perto passivei do velho na- aproveitando a forte corrente do Zambeze, alcançasse o
vio encalhado. Assim que o vislumbrámos assestei o binó- grande oceano onde queria ficar sem mais ser vista. Será
culo. O erranjo norallá estava, mas a figura de proa não se que a figura de proa é, efectivamente, a alma do navio?
via. Aproximámo-nos. A mancha branca que, poucas sema- Veio a saber-se, mais tarde, que alguns jovens tinham
nas antes, tão bem tinhamos divisado àquela distância, não tentado retirar a figura de proa, mas não tendo tomado as
nos aperecia no campo do binóculo. Aproximámo-nos ainda precauções adequadas, viram-na partir-se e cair à água,
mais. Incrívell A figura de proa não estava lá. Sem qualquer sendo arrastada pela forte corrente sem que fosse passivei
duvida, pois agora bem perto nos encontrávamos. Como é deitar-lhe a mão. O curioso é que, passados mais de uma de-
possível que tal tivesse acontecido? Como explicar tal desa- zena de anos, um museu dos Estados Unidos da América
parecimento, precisamente naquele curto espaço de um ainda procurava saber onde se encontrava. Decididamente
mês, quando ali tinha permanecido anos, dezenas de anos, que a Nereida se recusou a ficar cativa. Quis ser livre e mor-
sem que ninguém lhe tivesse tocado ou por ela, alguma vez, Ieunomar.
se tivesse interessado?
A menos que a minha Nereida sabendo que, contIa sua
vontade, iria ser separada do navio que com ela nasceu, A. Estácio dos Reis,
com ela viveu, com ela navegou pelos mares do Mundo, que cap.-m.-g.
Filatelia
CONTINUAMOS A PENSAR AS NOVAS EMISSÕES
NA MOSTRA FILATELlCA DE SELOS PORTUGUESES
DA ARMADA
Há coleccionadores de selos que nentemente a propor a si e aos ou- DATAS DA HISTÓRIA DE POR·
nunca visitaram uma exposição fila- tros, alterações que conduzem, qua- TUGAL - Pretende esta emissão
télica, e outros que não viram mesmo se sempre, ao aperfeiçoamento. homenagear Gil Eanes e D. Pedro IV
uma colecção minimanente organi- de Portugal, duas figuras importan-
Embora a literatura filatélica não
zada. tenha estado verdadeiramente voca- tes da nossa história, uma do século
Ao afimar-se que uma colecção XV e outra do XIX, ambas considera-
cionada para ensinar os que menos
deve ter características que a identi- das de projecção internacional, a pri-
sabem da arte de cuidar dos selos,
fiquem com o autor, parece admitir- meira pelo impulso dado à expansão
ela está a dar alguns passos em fren-
-se que ninguém terá de copiar para maritima portuguesa, e a segutlda
te e, pelo menos aos clubes, núcleos
elaborar um trabalho filatélico, seja por ter proclamado a independência
e secções, leva a informação com
ele de tipo tradicional ou moderno. do Brasil e defendido o liberalismo
maior facilidade. E, se é bem que as
Mas não se pode deixar de comple- em Portugal.
publicações filatélicas transmitam o
mentar tal afirmação com outra que São dois os selos, e neles está
que se vai já considerando o ABC,
diz existir um conjunto de regras que, bem representado o significado que
não é menos importante a difusão
principalmente nas colecções do tipo os cn quiseram dar à emissão.
que fazem dos novos conceitos
modernQ., é indispensável respeitar. duma filatelia que se pretende seja
As colecções que de alguma ma-
dinâmica.
neira são frequentemente criticadas,
expondo-se à apreciação de espe- Para que entre os filatelistas da
cialistas, vão ganhando uma forma Armada se torne possivel uma maior
que se aproxima do que está estabe- aproximação, pensamos que está na
lecido, embora não muito rigidamen- altura de se transformar em realida- •
te, para que possam ser considera- de a tão sonhada mostra. E para que
das com principio, meio e fim. tal realização seja vivida da melhor
Visitas e exposições, mostras e maneira, ela deverá, também no
nosso entender, ser envolvida por •
salões dão ao coleccionador uma Gil Eanes e a passagem do cabo
ajuda. ainda que muitas vezes seja à um ambiente naval, como o da Casa Bojador - Da "Crónica dos Feitos
custa da rejeição de pormenores de da Balança que, com tão apropria- da Guiné", de Zurara, ressalta a acti-
que discerdamos nas outras colec- das dimensões e localização tem vidade náutica do navegador portu-
provado dispor de excelentes condi-
çõeseque, dificilmente, observamos guês Gil Eanes, a quem é atribufda a
ções para o efeito.
nas nossas. primeira viagem portuguesa para
Uma grande vantagem que têm Aqui fica mais uma vez esta su- além do cabo Bojador, viagem que
os coleccionadores organizados em gestão, esperando que o entusiasmo alguns historiadores consideram
grupo consiste na possibilidade de, se transmita de modo a tornar possi- marcar o inicio dos descobrimentos.
na elaboração dum trabalho de certa vel a realização da segunda exposi- Natural de Lagos, foi escudeiro
maneira colegial, estarem perma- ção filatélica da Armada. do infante D. Henrique e, mais tarde,
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