Page 102 - Revista da Armada
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o MISTÉRIO DO NAVIO DE MOGNO
Quem descobriu a Austrália?
Em continuação do aliciante tema da desco- do bicentenário. u Temos esperança de isso vir a ser conse-
guido», acr escentou com um sorriso.
berta da Austrália. abordado na ((Nota de Aber-
O ministro discursa va no Segundo Simpósio Australiano
tura)) do número l71/Dezembro 85 desta Revis- Sobre o Navio de Mogno, que se realizou em Warrnambool.
ta, podemos agora reve lar o que se passou no nO mapa do Delfim tem uma origem extraordinariamente
segundo simpósio sobre o Navjo de Mogno que, interessan te», disse ele. Não se sabe quando deix ou de es-
tar na Colecção Real Fr ancesa, mas passou para a posse de
como estava previsto, se realizou no passado
Edward Harley, segundo conde de Ox ford. Duando este
mês de Setembro, em Warrnambool, Austrália. morreu, em 1741, o mapa desapareceu esó voltou à luz do
dia em 1768 sendo comprado pejo botànico dr. Solander que
Eis a tradução livre de dois artigos que, com a devida vé- o passou a Sir Joseph Banks que, sem dúvida, acompanhou
nia, transcrevemos da imprensa australiana: Cook na sua expediçiio de descoberta da costa leste da
a
«TheStandar dJ!. 2. ·feira, 23deSetembrode 1985 Austrália, em 1770.
O mapa do Delfim, corrigido do erro de longitude, é con-
o GRANDE MISTÊRIO DO CAPTAIN COOK siderado por alguns peritos como terminando em Warrnam-
bool, o que dá mais peso à teoria do Naviode Mogno ter sido
Perante a crescente inquietaçào política acerca do pró- o que encalhou devido ao temporal. dos trés que faziam par-
ximo bicentenán'o da Austrália, talvez se tenha encontrado te da expedição capitaneada por Cristóvão de Mendonça.
uma saída. Mr. Jones referiu-se «ao g rande mistério de Cook- até
Barry Jones, o infatigável ministro Federal da Ciência que ponto ele tinha conhecimento da teoria referida», fa-
deu, nestefim-de-semana, algum pesoá hipótese de James zendo depois consideraçoes acerca do que denominou «a li-
Cook ter plagiado os seus mapas do leste da Austrália, gaçãoSolander-Banks-Cook».
Sugeriu, nomeadamente, que Cook podia ter obtido Frisou também a referência a esta ligação. feita em pri-
uma c:ópia do mapa do Delfim, datado de meados do século meira mão há 199 anos por A Jexander Dalrymple, oficial da
XVI, que representava a exploração duma terra firme co- Companhia das indias Orientais e mais tarde hidrógrafo do
nhecida por Java Grande, argumentando que acha va per- Almirantado. Possuidor de 20 mil mapas, é de presumir que
suasiva, se não mesmo concludente, a argumentação de conhecesse bem o do Delfim e outros feitos em Dieppe,
que o mapa pretendia reprasen tar a A ustrália, França, que provavam terem sido os portugueses que pri-
O ministro confirmou que o Governo Federal estava em meiro fizeram mapas do Grande Continente do Sul, actual-
negociações com a Biblioteca Britânica('), onde está ac- mente chamado Austrália. Dalrymple propôs uma expedi-
tualmente essa documentação, para trazer a Austrália o ção para encontrar essa terra misteriosa, em 1768, esperan-
mapa do Delfim, em 1988, como parte das comemorações do ser ele a chefiá-Ia. mas por ser civil, foi preterido a favor
do tenente James Cook. ao qual nunca perdoou. atacando-o
Omapa do Delfim (1536) (Biblioteca do Museu Britânico/. postumamente. Em 1786 afirmou num panfleto que o mapa
do Delfim provava que nada havia de novo nas descobertas
de Cook, numa clara sugestão de haver plagiato.
«Não sofre contestação a má vontade de DaJrymple con-
tra Cook. Mas isso tirar-lhe-à a razão7», perguntou o minis-
tro,
Cook tinha uma bem merecida reputação de proibidade,
o que torna estranho que não tenha feito referência ao
mapa do Delfim, especialmente sendo Banks o seu proprie-
tário e, mais estranho ainda. que este nunca o tenha des-
mentido.
O ministro recordou alguns factos curiosos das viagens
de Cook face à probabilidade de ter sido ajudado pelo mapa
do Delfim, por exemplo, o facto de «Cook mencionar Botany
, Bay e não falar do porto de Sydney, tal como sucede com
aquele mapa», Alêm disso. «o mapa assinala a Barreira de
Recifes, a Costa Perigosa e um pono de abrigo em Cook-
town. Quando o navio de Cook {'Endeavor'} abriu água num
recife, que tem oseu nome, Cook não navegou para sul, em
direcção à terra mais prÓXima, mas sim para noroeste, em
direcção ao distante e providencial porto de CooktownJl. O
seu diário diz que o porto «era mais pequeno do que me ti-
nham dito». «Dito por quem". perguntou o ministro Federal
da Ci~ncia . O diário do navegador nào fez qualquer referên-
cia a ter sido mandado um escaler a terra fazer um reconhe-
cimento prévio,
-.... Mr. Jones disse que o seu colega, ministro Federal das
Artes, Herança Cultural e Ambiente, Mr. Cohen, estava tra-
tando da exposição do mapa do Delfim na Austrália e que
-, as auton'dades de Warrnambooljá pediram para que a cida-
de fosse incluida no itinerário do histórico documento nas
comemorações do bicentenário,
Tratando-se de aniversários, foi dito ao simpósio que no
mês de Janeiro de 1986 faz 150 anos que se deu o primeiro
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