Page 196 - Revista da Armada
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msTÓRIAS DE MARINHEIROS


               84-Jornais de bordo (II)





                     inda relacionadas com  o  jor-
                     nalinho de bordo que se publi-
               A cava numa nossa fragata, vai
               para além de uma trintena de anos,
               recordo  mais  duas  histórias  breves
               nele inseridas que andavam na tradi-
               ção oral das antigas guarnições dos
               navios.
                  A primeira referia certa praça da
               Armada,  nalural  da  provlncia,  que,
               um  dia,  em  Lisboa,  encontrou  ca-
               sualmente um conterrâneo que dei-
               xara também a terra natal. esse para
               ingressar  na  Força  Aérea.  Não  se
               viam desde os tempos distantes em
               que ambos viviam na mesma aldeia
               minhota, entregues à  faina dura de
               trabalhar aterrada sol a sol.
                  Por  isso caíram  nos  braços  um
               do  outro,  no forte  amplexo  de  uma
               amizade velha que já vinha dos tem-
               pos de meninos.
                  E foi então que o marinheiro ex-
               clamou:
                  - Mas como estás rijo, Araújo!. ..
                  - Araújo, não - replicou o ami-
               go, um tanto formalizado. - Então já
               esqueceste o meu nome? Eu sou o
               Oliveira ...
                  - Araújo, repito e não me enga-
               no -  insistiu o outro, numa convic-
               çãofirme.
                  E logo, cheio de lógica, explicou:
                  - Ora se eu, por andar no mar,
               sou mar ... ujo, tu, que andas no ar, és
               Ar .•. B ... újO.
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                  A outra história desenrolou-se no
               ambiente austero de um tribunal. De-
               terminado  marinheiro,  dado  como
               testemunha,  teve  que  comparecer
               perante o juiz que presidia ao julga-
               mentodacausa.
                  Depois das perguntas do estilo, o   ro é você se nem sequer sabe o que   -  repetiu  O juiz, embaraçado.  E in-
               juiz inquiriu:                    é ",homicfdio-! ...                terrogou:
                  - Aonde se encontrava a teste-    E Jogo a seguir, na atitude pater-  - O que vem a ser uma ",bitácu-
               munha quando se praticou o homicl-  nalista de ensinar os iQnorantes, ex-  la-?
               dio?                              plicou:                               Ao que o marinheiro, cheio de iro-
                  - Homicídio?! ... - tartamudeou   - «Homicfdio» significa crime de   nia, comentou, por sua vez:
               o marujo. -  Desculpe, senhor dou-  morte.                              - Mas, senhor doutor, que diabo
               tor  juiz:  o  que  quer  dizer  .. homicí-  - Ah! - tornou o marujo, já es-  de juiz é V. Ex.- se nem sequer sabe
               dio .. ?                          clarecido - eu estava junto da bitá-  oqueéuma .. bitácula .. !. ..
                  - Fntão - volveu-lhe o juiz, mal  cula.
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               humorado - que diabo de marinhei-    -  .. Bitácula .. ?!...  .. Bitácula-?! ...   ••
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