Page 200 - Revista da Armada
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fosse  numa  geleira -  a  hora  do                                 instrumentos  usados  na  navega-
                meridiano  de referência,  que,  ac-                                ção ao longo desse perlodo magni-
                tualmente, é o que passa pelo Ob-                                   fico em que os portugueses tanto
                servatório Astronómico de Green-                                    se destacaram, não existe, ou pelo
                wich. A longitude calculava-se fa-                                  menos não conhecemos, uma úni-
                zendo  a  diferença  entre as horas                                 ca ampulheta que tivesse sido usa-
                naquele meridiano e  no local onde                                  da  nos  navios  das  Descobertas.
                o  navio  se  encontrava,  transfor-                                Tudo  se perdeu.  Incúria?  Talvez,
                mando o tempo em arco medido no                                     apenas, desinteresse ou dificulda-
                equador.  Merece a  pena reprodu-                                   de, que os portugueses sempre de-
                zir  parte do capitulo onde se fala                                 monstraram, em distinguir o velho
                Da fábrica do relógio, cuja texto foi                               do antigo,  ou ainda,  simplesmen-
                posto, por Fontoura da Costa, em                                    te,  o  que não presta do que pode
                linguagem actual: Mandar-se-IJ fa-                                  vir a ser insubstituível memória do
                zer um relógio de areia pelo qual se                                passado.
                possam medir 6 horas ou ainda 24.
                E então serIJ melhor. Com os vidros
                grossos para que o ar não humede-
                ça  a  areia  e  também  para poder
                com o peso dela; o buraquinho por
                onde a areia correr de uma âmbula
                para outra será mais largo do ordi-
                nário,  de sorte que nunca pare ou
                vá  mais dificultosamente de  uma
                para outra parte.
                   Feito isto se farão 6, 12 ou 24 li-
                nhas, confonne as horas que con-
                tém o relógio em cada âmbula, pin-
                tadas e distintas com uma cor que
                responda ao lugar que cada hora   Ampulbeta de meia bora, existente no Mu-
                                                  seu  Man'timo Ahnirante Ramalho  Onigão,
                se despejar da areia.
                                                  em FaTO.  De construção recente, possivel-
                   E  o  espaço que ficar no meio   mente do fim doseculo passado, n.fo tem as
                entre linha e linha, se repartirá em   C8racterlstic8S nem a robustez das que fo-
                15 partes com linhas de outra cor,   ram uSlldas durante a época das Descober-
                que responderão aos graus que o   tas. (Foto MM-Reinaldo ClUVlflho).
                Sol,  anda em uma hora, no que se
                                                  te  os  relógios  de  areia,  mas  não
                guardará  toda  a  igualdade possi-
                                                  completamente,  pois  ampulhetas
                vei.
                   Teoricamente a ideia é correcta   de 30 segundos (ou de 15) destina-
                                                  das ao cálculo da velocidade do na-
                mas, além da dificuldade de reali-
                zar uma ampulheta nas condições   vio ainda foram usadas no primeiro
                indicadas,  os  erros  acumulados   quartel do século XX, Para o efeito
                não dariam ao processo o mais pe-  usava-se a  barquinha, constituida
                queno rigor.  No  entanto,  o  padre   por uma peça de madeira -obate1
                Bruno ainda recomenda que o reló-  -  com uma chapa de chumbo na
                                                  parte  inferior  que  a  mantém  na
                giO tenha uma argola no fundo da
                                                  água  na posição vertical.  criando
                âmbu1a,  na  qual  se possa  meter
                um  peso postiço que se porá  na   uma certa resistência que Origina a
                que ficar debaixo pois assim ficará   saida duma linha,  cuja graduação
                                                  é feita em (e com) nós, e que se lar-
                sempre  direito  para  o  centro  da
                Terra.  E receoso de falta de cuida-  ga até à  primeira marca, Para ini-
                do na sua condução, considera in-  ciar a  contagem da velocidade do
                dispensável que dois oficiais o vi-  navio,  deixa-se  correr a  linha,  do
                giem  e  o  virem  logo  que  a  areia   carretel  onde  está  enrolada,  ao
                chegar ao seu fim.                mesmo tempo que se vira a ampu-
                                                  lheta. Quando a  areia desta chega
                                                  ao fim, aguenta-se a  linha e  vê-se
                A  MEDIÇÃO  DA  VELOCIDADE  quantos nós saíram. O  número de
                DO  NAVIO                         nós  saídos, corresponde à  veloci-
                                                  dade do navio em milhas (1852 me-
                   o cronómetro ao entrar a bordo   tros)  por  hora,  designação  que,           A. Estácfo dos Reis,
                dos  navios durante o  século XIX,   ainda hoje, se usa.                                    cap.-m.-g.
                como já se disse, foi pondo de par-  Como tem sucedido com outros   ••••••••••••••••••••

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